sábado, 9 de abril de 2011

PERCEPÇÃO DOS JOVENS SOBRE A VIOLÊNCIA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA



"PERCEPÇÃO DOS JOVENS SOBRE A VIOLÊNCIA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE
MASSA"

6. "Conclusões e Recomendações da pesquisa feita pela Unesco".
O papel da mídia na percepção e prática da agressão pode ser resumido da seguinte
forma:
A violência na mídia é universal e é, antes de tudo, apresentada em um contexto
compensatório. Dependendo dos traços de personalidade das crianças e de suas
experiências cotidianas, a violência na mídia satisfaz diferentes necessidades: "compensa" frustrações e carências em meio ambientes problemáticos, ao mesmo tempo em que oferece "emoção'” às crianças que vivem em áreas menos problemáticas.

Para os meninos, cria um quadro referencial de "modelos de papéis atraentes". Apesar das inúmeras diferenças culturais, os padrões básicos das implicações ligadas à violência na mídia são semelhantes em todas as partes do mundo. Os filmes, individualmente, não se constituem o problema, mas a extensão e a onipresença da violência na mídia contribui para o desenvolvimento de uma cultura global agressiva.

As "características de recompensa” da agressividade são mais
sistematicamente incentivadas do que as formas não-agressivas de lidar com a própria vida, fazendo prevalecer, dessa forma, o risco da violência na mídia.

Os resultados demonstram a onipresença da televisão em todas as partes do mundo.
Crianças de todas as regiões do planeta aparentemente passam a maior parte do seu tempo em frente a esse meio de comunicação, recebendo grande volume de mensagens de
conteúdo violento.

Em combinação com a violência da vida real, vivenciada por muitas
crianças, é alta a probabilidade de que orientações direcionadas para a agressividade sejam mais intensamente promovidas do que aquelas que incentivam comportamentos pacíficos.

Também em áreas onde o nível de agressividade é baixo, o conteúdo de violência da mídia é apresentado em um contexto compensatório. Embora as crianças lidem com esse conteúdo de formas diversas em diferentes culturas, o traço transcultural comum do problema encontrase no fato de que a agressão é interpretada como uma boa forma de solucionar os problemas em várias situações.

As crianças desejam viver em um ambiente familiar e funcional do ponto de vista social e, à medida que tais aspectos pareçam estar ausentes, procuram modelos que ofereçam a compensação por meio do poder e da agressividade. Isso explica o sucesso universal de personagens cinematográficos como “O Exterminador”. Preferências individuais por filmes desse tipo não se constituem o problema.

No entanto, quando o conteúdo de violência se torna um fenômeno tão comum que se chega à existência de um ambiente de modo geral agressivo na mídia, aumenta consideravelmente a probabilidade de que as crianças desenvolvam um novo quadro referencial, sendo as predisposições problemáticas canalizadas para atitudes e comportamentos destrutivos.

Quais são as soluções possíveis? Provavelmente mais importantes do que a mídia são
as condições econômicas e sociais nas quais crescem as crianças. No entanto, a mídia como componente de culturas, credos e orientações também merece muita atenção.



Controle centralizado e censura não são eficazes nem compatíveis com os princípios das sociedades democráticas, portanto, três importantes estratégias devem ser consideradas:
• Debate público e conversações "em comum" entre políticos, produtores e
professores.
• Desenvolvimento de códigos de conduta e autodisciplina para produtores.
• Formas inovadoras de educação sobre a mídia, para criar usuários competentes
e com capacidade de crítica.

Além dos profissionais da mídia, podem desempenhar importante papel nessa questão
as organizações não-governamentais em geral e os agentes de educação informal com uma
perspectiva global como a do Escotismo.

Com a existência de sistemas de comunicação como a Internet, a mídia será ainda
mais onipresente e universal. Como conseqüência, o novo ambiente digital demanda atenção
semelhante àquela dirigida à cultura e à educação no mundo tradicional".
Esta é uma
Versão Resumida Dr. Prof. Jo Groebel Universidade de Utrecht, Holanda.
Projeto conjunto de pesquisa realizado sob a responsabilidade da UNESCO (Setor de
Comunicação, Informação e Informática), a Organização Mundial de Escotismo e a
Universidade de Utrecht.

Este relatório apresenta os resultados do estudo global sobre violência nos meios de
comunicação de massa, realizado pela UNESCO entre 1996 e 1997, como parte de um projeto de pesquisa levado a efeito em parceria com a Organização Mundial de Escotismo e a Universidade de Utrecht1, sob a supervisão do Professor Dr. Jo Groebel. Trata-se do mais amplo estudo intercultural já realizado a respeito da influência exercida sobre as crianças, pela violência disseminada nos meios de comunicação de massa.

A pesquisa contou com a participação de mais de 5.000 estudantes oriundos de 23 países de todas as regiões do mundo. O estudo também se destaca por vários outros aspectos. Pela primeira vez, regiões abaladas por crises internacionais, assim como zonas de guerra e áreas com alta incidência de criminalidade foram incluídas na amostra da pesquisa.

Diversos países que já atingiram níveis avançados de desenvolvimento social e tecnológico nunca haviam antes participado de um estudo empírico de ciências sociais sobre a atuação da mídia.

A metodologia aplicada também foi inovadora, na medida em que todas as crianças
participantes, de 12 anos ou mais, responderam exatamente ao mesmo questionário de 60
itens padronizados, traduzidos em diferentes idiomas como japonês, inglês, russo, francês, árabe etc. O conteúdo dos questionários não foi culturalmente direcionado, tendo em vista que esse fato tornaria impossível uma comparação direta dos dados. As crianças relataram o seu comportamento diante da mídia, seus hábitos, preferências e meio social em que vivem.

Até janeiro de 1998, aproximadamente 350.000 dados individuais tinham sido coletados e processados no âmbito da pesquisa.

Foram os seguintes os países que fizeram parte do núcleo central do estudo em
referência: Angola, Argentina, Armênia, Brasil, Canadá, Costa Rica, Croácia, Egito, Fidji, Alemanha, Índia, Japão, Maurício, Países Baixos, Peru, Filipinas, Qatar, África do Sul, Espanha, Tajaquistão, Togo, Trinidad e Tobago e Ucrânia. Esses países representam amplo espectro de desenvolvimento humano e tecnológico e culturas relevantes no âmbito mundial, refletindo, assim, a gama representativa de países incluídos no Relatório do PNUD sobre Desenvolvimento Humano, datado de 1997.

Em etapa seguinte, outros países como Estados Unidos, Rússia, Finlândia, Polônia etc. serão acrescentados ao programa de pesquisa.

Em cada país, os dados foram coletados nas áreas metropolitanas e rurais, em
ambientes onde se verificam altos e baixos índices de violência social, com meninos e
meninas, e em diferentes tipos de escolas. Os únicos grupos de crianças não abrangidos
1 World Organization of the Scout Movement e Utrecht University.
pelo estudo foram aqueles que não freqüentam qualquer tipo de escola ou vivem em
áreas extremamente remotas. Por outro lado, foram incluídas crianças que já viveram em campos de refugiados.

A logística e a distribuição dos questionários entre a média das crianças
participantes foi organizada pelos membros do Movimento Escoteiro, tendo sido a supervisão científica e a análise dos dados conduzida pela Universidade de Utrecht.
Foram abordadas cinco questões básicas:

• Que papel desempenha a mídia e, em particular, a televisão, nas vidas de
crianças, em nível mundial?
• Por que as crianças ficam fascinadas com a violência na mídia?
• Qual é a relação entre a violência na mídia e o comportamento agressivo entre as
crianças?
• Existem diferenças culturais e de gênero no impacto exercido pela mídia sobre a
agressividade?
• De que forma os ambientes violentos (guerra/criminalidade), por um lado, e o nível
de desenvolvimento tecnológico, por outro, influenciam a forma como é encarado o conteúdo
de agressividade da mídia?
Os resultados demonstram o seguinte:
Um total de 93% das crianças incluídas nesse estudo têm acesso a um aparelho de
televisão. A abrangência corresponde a 99% no Hemisfério Norte e 83% na África,
permanecendo nesse intervalo as cifras da Ásia e da América Latina. Nas áreas onde foram feitos os levantamentos, a tela de TV já se tornou um meio de comunicação universal. Para as crianças em idade escolar ela é a força mais poderosa de transmissão de informação e divertimento. Nem mesmo o rádio e os livros têm o mesmo espectro de distribuição global.

As crianças do mundo inteiro passam, em média, três horas diárias em frente à tela de
televisão, sendo ainda mais amplo o espectro de padrões comportamentais do
telespectador, se o considerarmos no âmbito individual. Essas crianças passam pelo
menos 50% mais tempo ligadas a esse meio de comunicação do que em qualquer outra
atividade não-escolar, incluindo a elaboração de deveres de casa, convívio com a família ou amigos, ou leitura.

Dessa forma, a televisão tornou-se fator primordial de socialização e domina a vida de crianças nas regiões urbanas e nos áreas rurais eletrificadas em todo o mundo.
Os meninos são, em particular, fascinados pelos heróis agressivos disseminados pela
mídia. Alguns deles, como "O Exterminador", de Arnold Schwarzenegger, tornaram-se ídolos conhecidos por 88% das crianças em todo o mundo. Um total de 51% das crianças oriundas de ambientes altamente violentos (guerra/criminalidade) gostariam de ser como ele, em comparação a 37% das crianças oriundas de vizinhanças onde é baixo o índice de violência.

Torna-se claro que as crianças necessitam e utilizam os heróis da mídia como modelos que os auxiliam a lidar com situações difíceis, sendo esse fato inteiramente válido para todas as regiões do mundo.

Existe número considerável de crianças que vivem, permanentemente, em estado
emocional abalado. Aproximadamente metade das crianças entrevistadas relata que se
encontra ansiosa durante a maior parte do tempo, ou com muita freqüência; 9% delas tiveram que fugir de sua casa pelo menos uma vez em suas vidas; e 47% relatam que gostariam de viver em outro país. Nas áreas altamente violentas, 16% das crianças relatam que a maior parte das pessoas que vivem em sua vizinhança morrem assassinadas. Nesses casos, 7,5% das crianças já usaram, elas mesmas, uma arma de fogo contra alguém.

Nessa situação, os heróis da mídia são utilizados pelas crianças como escapismo e
compensação por seus problemas. Para os meninos, trata-se de modelos essencialmente
agressivos (30% nomeiam um herói de ação), para meninas, estrelas pops e músicos. Há
diferenças regionais em relação aos heróis favoritos. Na Ásia encontra-se o índice mais alto de admiração por heróis de ação (34%) e na África o mais baixo (18%). Na Europa e Américas o índice situa-se em faixa intermediária (25% cada).

As visões de mundo das crianças são obviamente influenciadas pelas experiências reais
tanto quanto pelos meios de comunicação. Quase um terço do grupo que vive em ambientes agressivos acredita que a maioria das pessoas no mundo são más, enquanto pensa assim um quinto das crianças inseridas em ambientes de baixos índices de agressividade. Número considerável de crianças de ambos os grupos revelam haver forte superposição quanto à sua percepção da realidade e o que vêem na tela (cerca de 44%).


7. Referências
GROEBEL, J. (ed.). New Media Developments. Trends in Communication 1. Amsterdam:
Boom Publishers, 1997.
GROEBEL, J. & GLEICH, U. Gewoltprofil des deutschen Fernsehens (Violence Profile of
German Television). Landesonstalt für Rundfunk Nordrhein-Westfolen Leverkusen: Leske &
Budrich,1997.
GROELBEL J. & HINDE, R. (eds.) Aggression and War. Their Biological and Social Bases.
Combridge: Cambridge University Press. 1993.
GROEBEL, J. & SMIT, L.. Gewalt im Internet (Violence on lhe Internet). Report for lhe German
Porliament. Bonn: Deutscher Bundestag, 1991. National Violence Study. Editado por E.
Donnerstein et al. Santa Barbara: University of Colifornia, 1997.
United Nations Development Program (ed.). Human Development Report 1997. New York:
Oxford University Press, 1997.
CARLSSON, Ulla and FEILITZEN, Cecilia von.Children and Media Violence. Nordicom:
Goteborg University. Editorial matter and selections, the editors, articles, individual
contributors, 1998.
UNESCO. Rapport mondial sur Ia communication – Les médias face aux défis des nouvelles tecnologies,1997.

Cadernos UNESCO Brasil
Série Direitos Humanos e Cultura da Paz
Volume 1
Conselho Editorial
Jorge Werthein
Maria Dulce de Almeida Borges
Célio da Cunha
Comitê para a Área de
Direitos Humanos e Cultura da Paz
Carlos Alberto Vieira
Roberta Martins
Maria Filomena Gregori
Tradução Elizabeth Duarte
Revisão Ana Maria Viana Freire
Apoio Técnico Vera Ros
Projeto Gráfico e Capa Ana Lúcia Pompeu
Fotografia de Capa Iracema Milheiros
Peça em argila de autor desconhecido.
Arte popular original do Estado de Alagoas, Brasil.
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
Representação no Brasil
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