sexta-feira, 10 de junho de 2011

Os três Gunas - Satva, Rajas e Tamas



O 3 gunas - Satva, Rajas & Tamas

José Manuel Anacleto
http://aservicodaluz.blogspot.com/2010/05/3-gunas-satva-rajas-tamas.html


Pesquisado por dharma dhannyaEL
A Palavra Guna significa qualidade, atributo ou modo. Sustentam os filósofos hindus que a Matéria ou Substância tem três qualidades ou atributos fundamentais, que são Sattva, Rajas e Tamas.

Para compreendermos a natureza dessas três qualidades, é preciso, antes de tudo, ter em conta que, para a generalidade das escolas filosóficas que, nos dias gloriosos da Índia, floresceram no seu solo, não existe apenas Substância ou Matéria Física. Existe, também, substância ou matéria psicológica, nomeadamente a mental (chitta, assim é chamada), e a de natureza ainda mais ténue.




Para os grandes filósofos hindus (como para a Sabedoria Oculta), existem vários graus ou planos de Substância (Prakriti ou Pradhana, que na Escola Samkkya são quase sinónimos, embora se costume usar Pradhana para designar a Substância homogénea, ainda indiferenciada), sendo, a mais densa ou material, a do mundo físico.

E, ainda antes mesmo do nível mais subtil e primevo da Matéria Universal, existe a Raiz Pré-Cósmica da Substância: Mulaprakriti ou Avyakta. A exemplo das filosofias hindus, o Ocultismo não subscreve a confusão vigente na religiosidade e psicologias orientais, onde se identifica mente com espírito, e suprafísico com espiritual, com todos os erros, equívocos e insuficiências que daí derivam.

Começando de baixo para cima, quer dizer, dos planos mais densos e inferiores para os mais elevados e subtis, pode afirmar-se o seguinte:
• No nível físico, Sattva é harmonia; Rajas é actividade; Tamas é inércia.
• No nível mental, Sattva é verdade; Rajas é paixão; Tamas é indiferença.

Se repararmos bem, não é difícil correlacionar, em termos mentais, as três Gunas com a sucessão, postulada por Hegel, de Tese (Tamas…), Antítese (Rajas…) e Síntese (Sattva).

Por sua vez, nos níveis físicos, podemos correlacionar Tamas com o Corpúsculo ou a Partícula, e Rajas com a Onda (na dicotomia Partícula/Corpúsculo vs. Onda, da Física moderna) ou, então 1, Tamas com a Matéria e Rajas com a Energia; e, em qualquer dos casos, Sattva com a(s) lei(s) que tudo rege(m).
As três Gunas estão naturalmente em correspondência com todas as tríades do Universo, desde a Trindade Divina ou Trimurti (actualmente, no hinduísmo, Shiva, Vishnu e Brahma; no passado Surya, Vayu e Agni) até aos chamados três mundos: Bhur (terra), Bhuvar (região intermédia) e Svar (céu).

“Na matéria caótica ou não-manifestada [Mulaprakriti ou Avyakta], as três Gunas encontram-se em perfeito equilíbrio e, então, todas as potências e energias que aparecem no Universo manifestado repousam numa inatividade comparável à de uma semente; porém, quando se rompe tal equilíbrio, produz-se uma forma, uma manifestação, e toda a manifestação ou forma é produto da Prakriti em que há predomínio de uma das gunas sobre as duas restantes [ou de duas delas sobre a restante].

- Nem Sattva nem Tamas podem por si sós entrar em atividade; requerem o impulso do motor e da acção (Rajas) para se colocar em movimento e desenvolver as suas propriedades características” 2.

Vemos, deste modo, como é sempre a paixão ou desejo que catapulta para a manifestação (e, assim, para o fenômeno encarnativo, por via do apego), rompendo a unidade ou homogeneidade primordial. Cessa o Estado de Pralaya, de Abstracção ou Repouso.

A partir daí, os dois grandes pólos da Natureza, segundo a Filosofia Samkhya, isto é, o Espírito (Purusha) e a Matéria ou Substância (Prakriti) “agindo sobre as três Gunas – e, então, fala-se às vezes dos ‘Cinco Grandes Elementos’ – são a base e a causa do Universo fenomenal em todas as numerosas e constantemente mutáveis formas e aparências” 3. Purusha energiza Prakriti através das três Gunas, procedendo de Prakriti os Tattvas ou princípios 4.

Constatamos, igualmente, como todo o ser, todo o fenómeno ou toda a movimentação existente no universo manifestado correspondem à expressão predominante de uma ou duas das Gunas. É assim com o ser humano e com cada um dos seus pensamentos, sentimentos, ações, palavras, escolhas ou degraus evolutivos; é assim com os animais ou as plantas; é assim com todas as formas materiais.

É relativamente fácil reconhecer o homem tamásico: caracteriza-se pela sua letargia, pela sua insensibilidade, pela lentidão e inanidade das reações psicológicas, pela reação quase exclusiva a estímulos brutais ou grosseiros, que são aqueles que lhe agradam e despertam interesse. É o néscio conformado.

Este tipo de ser humano vai ser oportuna e progressivamente despertado pelos choques rajásicos que, nesse sentido, são úteis e necessários. O homem rajásico, que hoje predomina, sobretudo, nos meios mais urbanos e cosmopolitas, é ávido, passional e egoísta, insaciável na busca de coisas para o seu eu pessoal, sempre agitado e excitado, embora à superfície, pelos impactos externos.

De certa forma, está muito vivo (às vezes num turbilhão) mas à flor da pele. É ativo no sentido de reativo. O seu pensamento é predominantemente desordenado, incapaz de uma síntese essencial.

Julga-se inteligente mas está perdido na ilusão. Está polarizado nos níveis do Kama-Manas, ou seja, da Alma Animal, da mente (Manas) escravizada pelo desejo egotista (Kama). A civilização contemporânea é eminentemente rajásica…

O homem sáttvico é um tipo humano superior, mais interiorizado, capaz de encontrar uma síntese lúcida no meio dos impactos externos, dos quais se vai deixando de tornar dependente.

É o homem que encontra os Valores da Harmonia, da Justiça, da Verdade, da Sabedoria, e que se desapega das coisas que satisfazem o desejo egoísta. É o homem polarizado nos níveis superiores do Mental, em Buddhi-Manas, ou seja, a Mente (Manas) iluminada por Buddhi (Razão Pura, Discernimento, Intuição). Pelo exposto, é uma raridade…

Em alguns dos escritos mais sagrados ou valiosos da literatura hindu encontramos a caracterização das três Gunas e dos três correspondentes tipos de homem, bem como das respectivas posturas, dos alimentos preferidos, das inclinações e motivações de tipo religioso, dos estágios evolutivos e das conexões kármicas. Vale a pena reproduzir alguns extractos, dado o seu carácter instrutivo e iluminador.

Assim, no Capítulo XIV do Bhagavad Gita 5, podemos ler:
“5. A Matéria tem três qualidades, princípios ou gunas, que se chamam: Sattva ou Harmonia, Rajas ou Movimento, e Tamas ou Inércia. Estes três atributos vinculam a alma ao corpo ou o Espírito à Matéria.

6. Os seus vínculos são diferentes mas todos são vínculos. Sattva, a Harmonia, sendo pura e imaculada, vincula a alma pelo amor ao conhecimento e à harmonia. Quem está em seu poder, renasce por causa dos vínculos que o prendem ao saber e à beleza.
7. Rajas, a Emoção, é a natureza passional, o desejo que vincula a alma, incitando-a a ocupar-se da ação e dos objetos, e levando-a ao renascimento pelo apego à ação.

8. Tamas, a inércia, vincula a alma pelos laços da negligência, apatia e preguiça.

9. Sattva prende à felicidade; Rajas liga à ação; mas Tamas, obscurecendo a reta percepção, encadeia os mortais à indolência.

10. Quando o homem venceu Tamas e Rajas, reina nele Sattva só. Quando desapareceu Rajas e Sattva, domina Tamas. E quando declinam Tamas e Sattva, governa Rajas.

11. Vendo a Sabedoria manifestada em alguém, sabe-se que Sattva é o guna que o domina.

12. Onde se vê avidez, obstinação, muita atividade, agitação e desejo, ali Rajas exerce o seu poder.
13. Quando aparece estupidez, preguiça, vaidade e falta de ideias, Tamas está no trono.

O poder de rajas é extensão (Viksepa), que é a essência da ação, e onde são produzidas as tendências preexistentes da ação e as modificações da mente conhecidas como apego e outras qualidades produtoras do sofrimento, sempre criadas por ela.

A Luxúria, ira, ganância, arrogância, malícia, aversão, personalismo, ciúmes e inveja são as terríveis propriedades de Rajas; portanto, essa qualidade cria a inclinação à ação; por essa razão, Rajas é causa do apego.

O poder de Tamas é chamado avriti (envolvente) devido ao qual uma coisa aparece como outra. É essa força que é a causa última da existência condicionada do ego e é também a causa excitante para a operação da força de extensão (viksepa).

Mesmo que sejamos inteligentes, instruídos, peritos, extremamente acurados no auto-exame e adequadamente treinados de várias maneiras, não podemos exercer o discernimento se estivermos envolvidos por Tamas.

- Mas, devido à ignorância, consideramos como real o que nasce do erro e depende das propriedades dos objetos produzidos pelo erro. Ai daqueles! Grande é o envolvente e irresistível poder de Tamas!

- Ausência de reta percepção, pensamento contraditório, pensamento de possibilidades, tomar coisas sem substância como sendo substanciais, pertencem a Tamas. Aquele que está associado com Tamas está a ser perpetuamente levado pelo poder expansivo (Rajas).

- Ignorância, preguiça, embotamento, sono, ilusão, insensatez e outras, são as qualidades de tamas. Aquele que é por elas possuído nada percebe corretamente, e permanece profundamente adormecido como um poste.

– O puro Sattva, mesmo que misturado com as outras duas qualidades (Rajas e Tamas), tal qual a mistura de dois líquidos diferentes, torna-se o meio de salvação; pois é o reflexo do Ser absoluto (Espírito supremo) recebido por Sattva, tal qual o Sol revela o universo dos objectos.

– As propriedades de Sattva misturado são o auto-respeito, Niyama (pureza), Yama (não matar, veracidade), reverência, consideração, vontade de se libertar, atributos divinos e abstenção do mal”.
José Manuel Anacleto

A penitência lingual consiste em prece silenciosa, e em falar com gentileza e mansidão, afavelmente, evitando todas as palavras ofensivas, dizendo o que é verdadeiro e justo.
16. A penitência mental consiste no contentamento e na igualdade de ânimo, têmpera moderada, discrição, devotamento, domínio das paixões e pureza da alma.
Da Harmonia procede o Conhecimento; da Emoção, o Desejo, e da Inércia, o erro, a ignorância, a preguiça.
18. Os que estão situados na Harmonia, ascendem ao alto; os activos moram na região intermediária, e os inertes se afundam nas mais vis qualidades”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário