sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Pendurado –XII - O Enforcado



O Pendurado –XII -  O Enforcado

Compilação de Dharma Dhannyael

“Um homem está suspenso, pelo pé, de uma trave de madeira que se apóia em duas árvores podadas. Os dois suportes são amarelos e cada um conserva seis tocos da poda, pintados de vermelho; terminam em forquilha, sobre as quais repousa o pau superior. São verdes os dois montículos dos quais nascem as árvores da provação, e nos quais brotam plantas de quatro folhas. A corda curta que suspende o homem desce do centro da barra transversal. 
    

O personagem veste uma jaqueta terminada em saiote marcado por duas meias-luas à direita e à esquerda, que podem ser bolsos. O cinto e o colarinho da jaqueta são brancos, assim como os dez (ou nove) botões – seis acima e quatro (ou três) abaixo da cintura. 
    
A cabeça do Enforcado encontra-se no nível da base das árvores. Suas mãos estão ocultas atrás da cintura. Naturalmente, a perna pela qual está suspenso – a esquerda – permanece esticada, enquanto que a outra está dobrada na altura do joelho, cruzando por trás a perna esquerda” .(6)

“Aquele que se encontra a caminho da totalidade não pode escapar desta estranha suspensão representada pela crucifixão (Jung OC 16, PAR. 470).
É aquele que não tem os pés no chão, na realidade.

Esta é uma carta de grande sacrifício para o ego, mas de muita luz e espiritualidade. A iluminação é uma Graça do Espírito e a personalidade (ego) necessita viver este momento em harmonia com o universo, em paz com a sua consciência para alcançar a liberação, uma nova vida. A mudança depende da transformação, do re-nascer e de uma nova consciência.

“Esta carta é uma carta de significado oculto profundo, porém todo ele oculto...” Waite
O enforcado é o repouso, a Roda da Fortuna é atividade. O Enforcado é o que acontece quando a Roda da Fortuna para de girar: a suspensão ou  crucifixão no Espaço é a parada voluntária da Roda da Fortuna.
12 (O enforcado) é 21 (O Universo) invertido. Este é o segredo do Deus  Agonizante no Caminho da Água.

Em 1890 a Golden Dawn faz referência ao Enforcado, no ritual do adepto: Se tu, não nascer da água e do espírito, não podereis entrar nos reinos dos céus. Na verdade esse ritual simbolizava uma morte mística, onde o adepto era salvo e renascia, traduzindo em letras miúdas”. (6)

“Alguns estudiosos lembram, a esse respeito, os ensinamentos que atribuem ao homem o papel de estabelecer a ligação entre o Céu e a Terra, num espaço definido que o preserva de influências e contaminações. “Toda suspensão no espaço participa deste isolamento místico, sem dúvida relacionado à idéia de levitação e de vôo onírico”. 3

A mortificatio na alquimia significa a superação do antigo ou precedente; primariamente é a superação das etapas perigosas antecedentes (...) (Jung, OC 14, par. 164).

O retorno ao caos era considerado pelos alquimistas como uma parte da obra. E o caos era considerado pelos alquimistas como uma parte da obra. É o estado da (...) mortificatio seguido do fogo do purgatório (...) 0 inconsciente e bom e mau, ou nem bom nem mau. Ele e a mãe de todas as possibilidades (Jung, OC 14, par. 247).

“O processo de iniciação, em geral, faz parte de uma morte figurada que simboliza o caráter de totalidade da conversão. Este é um processo de iniciação que tem por escopo recuperar a divindade da Alma perdida pelo nascimento”. Significa o maior aprofundamento do encontro consigo mesmo, com os opostos com o inconsciente, com a anima, com o Self. O ego com a inspiração do Self realiza a criação, a individualização.

“O sacrifício significa a renúncia a todos os vínculos e restrições do tempo da infância, é necessário amadurecer, conquistar a independência, autonomia, aprender a lidar com o sofrimento, com o egoísmo natural da criança, superar a regressão, e aprender a compartilhar sem orgulho, sem intenção de retorno”.

A morte e o renascimento de Cristo e Osíris correspondem à sequência   de morte e renascimento do processo de individuação. Depois da mortificatio (nigredo), vem a alvorada do Sol renascido (rubedo).

A morte e a ressurreição se referem à União com o Espírito, com a Amada Divina Presença, com o Divino. Os mitos do Deus agonizante é universal, e todas  cultura podem apresentá-la de alguma foram seja ela Cristo, Odin, Osíris ou uma divindade local. Nos mitos de enforcamento nenhum dos quais a morte é definitiva, eles são simplesmente inversões nas quais os pés de Deus são assentados na Anima Mundi e não sobre a  Terra.

A imagem divina do homem, do Cristo não foi destruída pela  Queda, mas apenas danificada e pode ser reconstruída pela graça de Deus.  Sabemos que a morte e a descida de Cristo aos infernos, cujos efeitos redentores abrangem inclusive os mortos. O equivalente psicológico coletivo , parte essencial do processo de individuação.

Na carta XII, a indecisão da carta VI agora, pode tornar-se fatal, levando-o à passividade inevitável e que paralisa. Não se vê saída, nenhum meio de chegar à liberdade, nenhuma forma de alcançar o sucesso. Suspenso no vazio solitário no qual tudo parece esmagadoramente indefinido, o indivíduo está completamente só, perdido na imensidão do universo. A única consequência dessa situação é a transformação por alguma forma de morte do ego”.

Podemos pensar que a “morte” do ego está relacionada às experiências de:
- lutos, medo, conflitos insolúveis, renúncia, separação, destruição, acidentes, insegurança, prisão, melancolia, depressão, castigo, punição, isolamento social, estagnação, inércia, procrastinação, ansiedade, passividade, solidão, autoprovação, impotência, doenças prolongadas, suplício, perdas afetivas e materiais, luto, humilhação, degradação.

- Perda de controle da própria vida e da família, quando o ego abre a mão, libera o seu apego.

O ego frágil é incapaz de tolerar experiências negativas. Esse “ego ferido” fica dependente e exige gratificações de suas necessidades, e não conhece a gratidão. Age como uma criança faminta. Apresenta uma tendência a agressividade diante das frustrações, e a vivencia do sentimento de culpa pode ser resultante da sua imaturidade.

Podemos pensar também, na perda da identidade de tudo aquilo que vivemos como “Sr. Fulano...” e de repente, perdemos o nome, o crédito, a casa, a referência, a honra, o orgulho, e ficamos entregue a vergonha, à limitação. Neste momento, o ego pode escolher; deixar morrer o passado e “dá a volta por cima”, renascer das cinzas, com a chama da esperança acesa; ou continua no passado, com ódio, ressentimento, mágoa, com pena de si mesmo, eterna vítima, com culpa, ou culpando os outros; e assim, continua enredado e embaraçado nesta rede do “ontem”, neste personagem que não lhe oferece “vida”, esperança, e por isto não consegue ver o caminho para o amanhã.

 É o momento de inverter os valores, posturas, e perdoar seus algozes, e procurar dar um significado, um sentido para o seu sofrimento, sublimar,  sem levar para o futuro o personagem do passado que viveu este filme.
“Aquilo que não nos mata nos torna mais forte”.

É necessário “dar vida” a um novo e renascido personagem, viver a experiência da transcendência e, assim encontrar forças para o presente, para a vitória. As mudanças, as transformações, o crescimento interior, a maturidade emocional alcançada fazem parte do roteiro do herói em busca da individuação do seu centro, da sua Alma, da sua luz, do Divino.
”Perdi uma batalha, mas não perdi a guerra”.

Neste momento, é possível compreender as limitações e as possibilidades - tornar-se responsável, consciente, equilibrado com a mente iluminada no coração. É necessário aprender a se entregar, a não lutar, contra as ondas altas e seguir na maré, em uma atitude “passiva-ativa”. A confusão e a ilusão (signo de Peixes) podem nos envolver e assim, ficamos com os pés fora do chão, sem possibilidade de articular estratégias para a liberação.

É possível olhar no espelho do outro e nos reconhecer, e, assim reconhecer o outro;  re-conhecer que tudo que mais odiamos no outro nos pertence, e que o “inimigo’ vive dentro da mente (consciente-inconsciente) como parte do nosso “eu”, e que ele nos atrai por identificação ou projeção.

“A solução está no fundir-se com o adversário, juntar luz e sombras em uma paz harmônica que traz as cores, romper o poder sobrenatural da morte com a espada da vida penetrando-lhe o coração, ofertando-se como oferenda e alimento que será consumido pelos que virão e, assim, imortalizando-se como o Deus Vivo que dá a vida com a sua morte. 
A vida se alimentando da vida, a morte sendo apenas uma transição entre o passado e o futuro, dando-se como oferenda, como presente ao novo Herói em sua busca, até que as forças da natureza o chamem de volta ao berço primordial para que, finalmente, descanse em paz”.(1)


“Amplificação cabalística: a Árvore da emanação ou a arvore cósmica, a Árvore dos Sefirot, cresce para baixo, a partir da sua raiz - O primeiro Sefirah - e estende-se desde os Sefirot que constituem seu tronco ate aqueles que compõem  seus galhos principais ou coroa (Scholem, Cabala, p. 106 do original). De forma similar, o homem e visto como uma árvore invertida que cresce para baixo, a partir do céu; "a alma cria raiz no homem desde o céu", cita Von Franz no seu comentário ao Aurora consurgens (p. 163, n. 36 do original). 0 Enforcado nos lembrará que, para nos ligarmos novamente as raízes  divinas, devemos tomar como modelo a Árvore da Vida.

Esta carta simboliza a contemplação  e a autocrítica como ferramentas para “trabalhar o que se deteriorou”. Significa aceitação do destino, consciência, disciplina e conduz á força para contemplar o vazio e transformar paisagens emocionais interiores em lugares de paz.

Os riscos são a impaciência, a perda do autocontrole, a intolerância à tranqüilidade exterior, e à incapacidade de atingir a quietude interior, o medo da incerteza e a sensação de estar perdido no mundo invertido além da lógica”.

A preparação  para a nova vida impõe a percepção e a assimilação do informe e inominável através da concentração e do silêncio e na tranqüilidade.

Novos insights podem ser consolidados pela perseverança, o que leva a auto-realização progressiva e a capacidade de adaptação, assim como pela desistência do empenho em prol dos modelos convencionalmente
aceitos de sucesso e distração. Os riscos são a impaciência, a perda do autocontrole, a intolerância  a tranquilidade exterior e a incapacidade de atingir a quietude interior, o medo da incerteza e a sensação de estar perdido no mundo invertido alem da lógica.

O enforcado, com o solo firme sob seus pés, em cima, parece “saber” que sua cabeça, ainda não sabe. A visão do Enforcado está concentrada além do intelecto, e ele agirá sem conhecimentos. Esta é a transição da fé, o ato interior que modifica a minha vontade para “seja feita a Tua Vontade”. É essa mudança em perspectiva no lugar do controle, que pode permitir que saiamos de uma situação que parece irremediável, na qual nos sentimos aprisionados, trancafiados e sem saída.”


“Interpretações usuais na cartomancia” (6)
Desinteresse, esquecimento de si mesmo. Submissão ao dever, sonhos generosos. Patriotismo, apostolado. Filantropia, entrega a uma causa. Sacrifício pessoal. Idéias voltadas para o futuro. Semente.
    Mudança de vida, iniciação, abertura espiritual, sacrifício por algo valioso. Paz interior, nova visão do mundo.
   
 Mental: Possibilidades diversificadas, flutuações. Indica coisas em processo de amadurecimento; não define nem conclui nada.
    
Emocional: Falta de clareza, indecisão, particularmente no campo afetivo.
    
Físico: Abandono de algumas coisas, renúncias, projetos duvidosos. Impedimento momentâneo para a ação. Um assunto iniciado é abandonado e só poderá ser resolvido através de uma ajuda. Do ponto de vista da saúde: transtornos circulatórios.
    
Sentido negativo: Êxito possível, mas parcial, sem satisfação nem prazer, sobretudo em projetos de ordem sentimental. 
    Reticências, planos ocultos. Resoluções acertadas, mas que não se executam; projetos abortados; plano bem concebido que fica na teoria. Promessas não cumpridas, amor não correspondido. 
    Os bons sentimentos serão desviados para empreendimentos”. (3)


2 - zephyrus.blog.br





5- www..sintoniasaintgermain.com

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