quinta-feira, 7 de junho de 2012

Chakra – Quinto –Visudha – Garganta.. Charles Breaux2



                                                  

Chakra – Quinto –Visudha – Garganta. (parte 2)
A GRANDE PURIFICAÇÃO.
Visão budista dos Chakras


Ioga do Sonho

O ioga do sonho é essencialmente uma extensão da disciplina budista da Meditação Intuitiva. Se praticada na vida diária, essa atenção poderá ser com maior facilidade introduzida nos domínios noturnos da consciência. Na tradição tibetana, há inúmeras técnicas utilizadas no ioga do sonho.

Durante o dia é importante manter um forte desejo de reconhecer o estado de sonho. Por isso é proveitoso morar num lugar solitário e serenar a mente, durante o dia, de modo que possa haver maior continuidade da consciência diurna para a noturna. Para maior reforço dessa intenção, somos orientados a praticar a observação de experiências de vigília como se fossem sonhos.


Lembre-se de que a nossa mente é realmente um mundo de sonho também. Nossa experiência de vigília, como um sonho, não é uma realidade sólida ou absoluta, mas essencialmente metafórica.

Representamos externamente nossos dramas psicológicos com co-autores com quem estamos ligados pelo carma ou com quem pelo menos compartilhamos uma ressonância cármica. Como no estado de sonho, não precisamos sofrer com nossas interpretações desses eventos — estamos livres para alterar nossa percepção deles e a resposta que lhes damos. Até nos tornarmos Budas (despertos), é útil lembrar que estamos sonhando.

A prática do ioga do sonho é finalmente usada para penetrar nos estados superiores de consciência. Transformar-nos em várias divindades, de maneira semelhante às nossas práticas de meditação, e concentrar-nos  intensamente em seus estados de contemplação na Luz Clara do Vazio é a meta do Ioga do Sonho.

Recebi orientação espiritual, encontrei divindades tântricas, e usufruí muitas experiências místicas no plano astral durante o sonho. Eu gostaria de compartilhar uma dessas experiências agora.

Num sonho lúcido, fui certa vez levado por um guia espiritual numa viagem através da minha coluna. Vi como o mundo se apresenta em cada chakra. Experimentei cada nível de consciência e percebi como ele é condicionado por imagens e programas a ele associados. Através do chakra coronário, aventurei-me às regiões radiantes e, por fim, fui absorvido por uma maravilhosa luz branca-dourada. Só muitos anos mais tarde voltei a viver esse nível de consciência na meditação.

Muitos sonhos são reflexos dos céus interiores nos reservatórios da nossa psique pessoal. Na nossa consciência diária, organizamos eventos e percepções dentro da estrutura do espaço e tempo tridimensional que nos é familiar. Nossa experiência racional é ainda mais limitada por padrões conceituais culturais e pessoais. A psique mais ampla não conhece essas limitações. É por isso que é tão difícil compreender os eventos e símbolos que irradiam a partir desses reinos.

No plano astral, os blocos principais do edifício da realidade são configurações mentais e emocionais. Pela transformação de objetos e eventos do sonho, compreendemos a insubstancialidade essencial desses aspectos de nós mesmos.

Um dos problemas que La Berge encontrou em sua pesquisa foi que com frequência temos a tendência de acordar fisicamente quando o sonho lúcido começa, em especial quando o conteúdo emocional é ameaçador ou intenso.

O conflito emocional costuma ser a causa do término prematuro de um sonho lúcido. Por exemplo, sonhos lúcidos seguidamente se relacionam com experiências sexuais. Se uma pessoa é sexualmente inibida em geral ela interromperá um sonho lúcido de conteúdo sexual na origem, acordando em vez de permitir conscientemente a experiência.

 Em Lucid Dreaming, La Berge explica que, para superar esse obstáculo, é útil mudar nossa atitude consciente para ficarmos menos inibidos.”

Algumas pessoas se tornam muito envolvidas emocionalmente, que pode fazer com que percam a objetividade ou se identifiquem com o sonho em si. Em ambos os casos, o distanciamento emocional importante. A solução de La Berge é simples: “Não entre em pânico Permaneça calmo.”12

Depois de aprender a permanecer despertos num sonho, o ensinamentos tibetanos nos encorajam a exercitar nossa vontade pan alterar a experiência do sonho. Depois de se tomarem peritos em alterar o conteúdo do sonho, os yogues tibetanos transformam-se em divindade meditativas e transportam-se para suas moradas-mandala.

No plano astral, os blocos principais do edifício da realidade são configurações mentais e emocionais. Pela transformação de objetos e eventos do sonho, compreendemos a insubstancialidade essencial desses aspectos de nós mesmos.


Em Lucid Dreaming, La Berge compartilha uma de suas experiências para ilustrar os efeitos terapêuticos de transformação do ambiente do sonho.

Sonhando que estava em meio a um tumulto na sala de aula, um grandalhão com o rosto marcado pela varíola mantinha-o fortemente agarrado, e ele tentava escapar. Quando percebeu que estava sonhando, lembrou que em situações semelhantes havia aprendido a parar de lutar. Então compreendeu que a batalha era um sonho e que o conflito estava dentro dele mesmo.

 Teve então uma consciência lúcida de que o valentão repulsivo era uma personificação de alguma coisa que ele estava negando dentro de si mesmo. Compreendeu também que a harmonia interior só prevaleceria pela aceitação do que quer que o bárbaro representasse.

Sua primeira tentativa para sentir amor pelo seu “ogro” falhou, e sucumbiu à aversão pelo valentão. Ele tentou ignorar suas reações viscerais e procurou amor em seu coração. Quando fez isto, olhou o bárbaro nos olhos e palavras de aceitação jorraram de sua boca. O ogro diluiu-se dentro dele e o tumulto desapareceu. O sonho terminou nesse ponto e La Berge acordou sentindo-se maravilhosamente calmo. 13

Apesar disso, algum dia talvez concordemos com as tribos aborígines que acreditam que o tempo de sonho é mais importante que a vida de vigília. Eles acreditam que a vida, como a conhecemos, é um evento que está sendo sonhado por Algo Mais.

Os sonhos são uma grande fonte de discernimento e cura; eles transferem informação de um para outro entre os vários níveis de nossos eus interiores. Experiências do mundo exterior são digeridas nos sonhos, e neles também são metabolizados eventos e processos que acontecem em todas as dimensões da psique. Nossos sonhos têm um impacto sobre a nossa vida de vigília muito maior do que imaginamos.

A psique mais ampla estende-se sobre o passado e o futuro. Os sonhos, por conseguinte, são compostos por uma incrível integração de informação e experiência — orientação espiritual, pré-cognição, experiência fora do corpo, telepatia com seres encarnados e desencarnados, dramas arquetípicos, inspiração, auto-reflexão, humor, fantasias selvagens, recordação de vidas passadas e da infância, desejos medos, compensações, processos corporais, “ruído” no sistema nervoso; e com Jung dizia, “sabe o céu o que mais”.

 Isto tudo é dramatizado em símbolos e metáforas — alguns dos quais talvez nunca sejam entendidos pela mente racional — que galvanizam certos fatores psicológicos criam, ou nos arrastam para, as várias espécies de eventos físicos que encontramos em nossa vida de vigília.

A médium Jane Roberts, em The Nature of the Psyche, canalizou idéias de Seth sobre como podemos testemunhar a criação de evento externos pela psique no estado de sonho.

Seth usa a metáfora do oceano formando ondas para mostrar como as operações interiores da psique respingam para o domínio de nossa consciência desperta. Ele propõe que, pela criação dos eventos, a psique experimenta sua própria realidade, do mesmo modo que, falando, ouvimos nossa própria voz.

Seth explica como o ego-self também tem influência na conformação do seu próprio destino. Seus padrões emocionais, preconceito e hábitos, em vários graus, ressoam com apenas um pequeno número de predileções da psique mais ampla. É através dessas predileções que alguns eventos se manifestam, enquanto outros continuam sendo mera probabilidades.7

Para começar a explorar o estado de sonho, precisamos nos aperfeiçoar para lembrar os sonhos. Um pequeno travesseiro cheio de Artemísia estimula a recordação dos sonhos, o mesmo acontecendo com algumas gotas de uma tintura feita da erva tomada antes de dormir.

 O complexo vitamínico B também tem sido recomendado para melhorar lembrança do sonho. Ao adormecer, anteveja as aventuras que esperam na terra dos sonhos e programe-se para lembrar-se delas.

Quando acordar, em qualquer momento da noite ou pela manhã, permaneça deitado com os olhos fechados e reviva tantos eventos de sonho quantos possa lembrar. Não se preocupe com a sequência. Ao repassar as imagens várias vezes, você perceberá que é capaz de lembrar mais e mais detalhes e cenas.

 Nesse estágio, concentre-se apenas nos sentimentos das imagens. Grave esses sentimentos e imagens cuidadosamente numa fita ou num diário, sem tentar analisá-los ainda. Acostume-se a reviver esses sonhos do mesmo modo que uma criança ouve uma história. Deixe que o significado dessas histórias emerja espontaneamente, em vez de interpretá-lo com a razão.

O problema da maioria dos métodos psicanalíticos que lidam com sonhos é que eles envolvem apenas o ego-consciente. Como vimos, o sonho é um domínio experimental além do mundo do ego; seu significado verdadeiro frequentemente se perde quando reduzido à estrutura referencial do ego. A participação direta no sonho é, pois, um enfoque mais adiantado.

Você pode ter tido a experiência de “acordar” num sonho. Para sua surpresa, você podia raciocinar e talvez até agir deliberadamente, após compreender que estava sonhando. Estes sonhos lúcidos podem parecer tão reais como a vida normal, ou nos causar medo quando não conseguimos reconhecer as circunstâncias.

Porque os sonhos lúcidos se parecem muito com a lembrança de eventos reais, eles foram rejeitados pelos cientistas até pesquisas recentes na Universidade de Stanford.

 O pesquisador de sonhos de Stanford, Dr. Stephen La Berge, elaborou um método pelo qual pessoas que têm sonhos lúcidos podem enviar mensagens para o mundo externo enquanto dormem. Quando essas pessoas se tornam conscientes do sonho, movem os olhos de uma maneira pré-combinada (padrões de ondas cerebrais provam que elas estão dormindo). 8

Na prática do Ioga do Sonho, iogues tântricos concentram a mente meditativa nos sonhos. Uma das proposições básicas dos budistas tibetanos é que a encarnação é um ocasião auspiciosa, uma oportunidade a ser valorizada e usada diligentemente; o estado de sonho não é exceção.

 De acordo com esses ensinamentos, as consequências mais sérias dos pensamentos e ações são as condições que eles criam na psique. Os ensinamentos tibetanos atribuem importância considerável à mente inconsciente.

 Eles reconhecem que a manifestação desses aspectos mais esotéricos da psique é limitada por papéis, condições sociais e os mecanismos de defesa da vida diária. O valor do estado de sonho está no fato de ficarmos livres dessas restrições. A atenção à conduta tanto quanto à Gestalt ambiental do estado de sonho oferece- nos, portanto, uma excelente oportunidade de autoconhecimento.

Manter a consciência ao adormecer é outra habilidade importante que devemos dominar. Para que isso aconteça, a tradição tântrica dispõe de diversas variações da técnica: aqui apresentamos uma variação simples. Visualize um AH vermelho brilhante no canal central do se chakra laríngeo ao entrar nos reinos noturnos.

 Mantenha uma consciência aguçada dele. Ignorando as divagações errantes da mente, traga ‘a lembrança as qualidades ilusórias da existência fenomênica. Depois de uma prática consistente, você finamente estará apto a permanecer atento enquanto passa pela região de imagens hipnogógicas para entrar no mundo dos sonhos.

No sono profundo, o ar vital (prana) acumula-se no chakra cardíaco e no chakra da raiz. Quando o ar vital se move em direção aos chakras laríngeo e sacral, o sonho aparece. Quando esse ar sobe aos chakras do plexo solar e da cabeça, nós acordamos.

 Concentrar-se mi centro da garganta, portanto, faz com que o prana do centro do coração fique mais fraco, de modo que o sono será mais leve e a consciência mais clara. Os sonhos produzidos pela focalização no chakra laríngeo supostamente perduram por mais tempo, motivo pelo qual podemos praticar a Ioga do sonho por um tempo mais longo.

Outro fator relacionado com a qualidade da consciência durante o sono está ligado à quantidade de ar que flui pela narina esquerda ou direita. Deitar sobre o lado direito ao adormecer favorece a passagem de mais ar pela narina direita, o que por sua vez ativa o hemisfério esquerdo do cérebro, estimulando as qualidades racionais do hemisfério esquerdo e nossa habilidade de “despertar” durante o sonho. 9

É também útil dormir por pequenos períodos de tempo. Cada vez que você acordar, reveja se estava ou não consciente enquanto dormia. Volte a dormir enquanto revê quaisquer sonhos que possa lembrar com a atenção focalizada na sua visualização do chakra laríngeo. Você pode também dizer a si mesmo: “Acordarei em meus sonhos.” Repita isso várias vezes com convicção.

Na pesquisa de La Berge em Stanford, descobriu-se que os sonhos mais lúcidos ocorrem durante os períodos REM (movimento rápido dos olhos) e que a frequência e duração do sono REM aumenta na parte final do sono noturno.

Em determinado ponto de sua prática, você acordará no sonho. De repente você compreenderá: “Isto é um sonho! Estou sonhando!” Em Journey to Ixtlan, obra de Carlos Castañeda sobre suas experiências com o feiticeiro Don Juan, Carlos foi instruído a lembrar-se de olhar para as mãos quando ficasse lúcido durante um sonho. Don Juan estava lhe mostrando uma maneira de “estabilizar seu corpo de sonho”.’10  Depois de conseguir acordar num sonho, a próxima tarefa é permanecer consciente.

As primeiras horas da manhã, após um bom sono, são portanto as mais propícias para a prática do ioga do sonho.


Morte, Transfiguração e Renascimento
Estreitamente relacionado com a prática do ioga do sonho, O Livro Tibetano dos Mortos treina um iogue para reconhecer a Luz Clara do Vazio no momento da morte e, assim, obter a libertação. Antes de estudar o estado pós-morte e as práticas de meditação que nos prepararam para fazer o melhor uso dele, uma vez mais vamos tratar da psicologia junguiana para explorar a ocorrência universal da iniciação à morte.

Na evolução do ego-self a consciência se consolida numa estrutura individual, mas temporal. Há, todavia, um impulso inerente em nós para transcender esta limitação. Antes que isto aconteça, o velho self deve morrer. A transfiguração do “eu” que acontece nesse estágio é relacionada universalmente com uma iniciação à morte no mito e na religião.

 No mito, a morte do herói leva ao renascimento (ressurreição) de um deus ou ser imortal. A morte, ressurreição e ascensão de Jesus é um exemplo perfeito de como esse mito freqüentemente é projetado em heróis religiosos.

No antigo culto egípcio a Osíris, encontramos outro bom exemplo de iniciação através de uma experiência de morte. Na esteira do mito de Osíris, que descreve como ele se uniu ao deus-sol Rá para tornar-se  imortal através da morte, neófitos eram colocados num sarcófago por alguns dias.

Durante este tempo eles passavam por muitos testes nos planos interiores. Se fosse bem sucedido (na verdade, alguns nunca voltavam a seus corpos), o iniciado retornava com conhecimentos de além da morte
.
No The Psychology of the Transference, Jung ponderou que a transfiguração do ego-self representada no diagrama alquímico do Rosarium Philosophorum segue-se à coniunctio a que nos referimos ao
falar do chakra cardíaco.

Morte: Aqui o Rei e a Rainha jazem mortos. Em grande aflição, a alma é apressada a partir. (Rosarium)14. Tendo-se fundido num único corpo, o casal divino é colocado num ataúde. Também mencionado como “putrefação” em textos alquímicos, este estágio simboliza o estado de dissolução em que os agregados que compõem o ego-self são desfeitos.

No aspecto sombrio desta fase psicológica, podemos sofrer uma desilusão com o aparente vazio da vida. Se não compreendemos esse processo de degeneração, podemos ir totalmente em busca dos padrões do velho ego. Ou, se o anseio pela transformação foi desvirtuado, poderemos surpreender-nos ponderando sobre o suicídio.

Um desejo de morrer poder surgir quando o caminho para a individuação é bloqueado por atitudes do ego-self. Impulsos suicidas, neste caso, são comunicações simbólicas do inconsciente de que atitudes que permanecem no caminho da nossa transformação espiritual devem morrer.
 Além do pré-conhecimento, ou mesmo da assistência psicológica ou espiritual, isso requer uma boa dose de coragem. O processo de “morrer” é terrível para o ego-self; o nascimento da identidade transpessoal que se segue é inimaginável ou, no máximo, duvidoso para o self agonizante.

O terapeuta junguiano John Sanford, em Healing and Wholeness, diz que a iniciação à morte também pode ocorrer sob a aparência de uma doença debilitante. Ele menciona que nosso relacionamento com as forças arquetípicas nesse nível da psique é uma questão delicada. Estas impressionantes representações arquetípicas, e como os deuses e deusas de religiões antigas, são muito temperamentais.

 Se os ignoramos ou os desrespeitamos, podemos incorrer em sua ira. Assim, quaisquer desordens psicológicas misteriosas ou doenças físicas forçam o self consciente a um período de retirada e de incubação. Esse tipo de doença pode dissolver a estrutura cristalizada do ego, possibilitando que novos aspectos da psique surjam durante a convalescença.

Sanford prossegue dando exemplos de como a doença pode servir como iniciação na vida de curadores primitivos, Os xamãs são chamados frequentemente a seguir sua vocação através de uma doença iniciática. Durante uma crise psicológica intensa ou doença física, o futuro xamã (masculino ou feminino) passa pela experiência de ser levado pelos demônios da doença e da morte.

 Um retomo à saúde ocorre somente depois que a pessoa aceita a comunicação do mundo dos espíritos com relação ao tipo de vida que deverá seguir.15

Jung também constatou que o mistério da iniciação à morte pode ser representado num sonho. Em Aion, ele apresentou o seguinte exemplo: um jovem sonha que está subindo uma montanha. No topo, ele vê um altar e um sarcófago com uma estátua dele mesmo sobre o altar. Um sacerdote encoberto por um véu, carregando um báculo com um disco em forma de sol vivo, aproxima-se dele. De repente, ele percebe que está morto. Sente privação e medo em vez da sensação de conquista que sentia ao subir a montanha. Assim que se banha nos raios aquecidos do disco-sol, entretanto, sente-se rejuvenescido e forte.

15

Jung menciona que esse sonho mostra a diferença entre a iniciação e o mito do herói. O ato de subir a montanha é como um teste dc força associado ao desejo de adquirir a consciência do ego na fase heróica. O jovem paciente pensou que a terapia poderia ser um empreendimento heróico.

 A cena do sonho junto ao altar corrigiu esta suposição errônea. Vendo-se a si mesmo morto e sepultado, o sonho ensinou que ele devia sujeitar-se a um poder maior do que ele mesmo. Somente através de sua iniciação à morte e dessa submissão ele poderia experimentar c renascimento.16

No Tantra tibetano, a morte no seu sentido mais literal — usada como uma iniciação. O Livro Tibetano dos Mortos (Bardo-Thôdol, ou Livro da Liberação pela Escuta no Plano Pós-Morte; poeticamente descreve como, após termos deixado o corpo pela morte permanecemos por algum tempo nos reinos interiores (Bardo, literalmente, “estado intermediário”) e encontramos várias divindade pacíficas e iracundas.

Se podemos nos identificar com a Luz Clara do Vazio e mantemos a consciência de que tudo o que experimentamos ilusão, então conseguimos a libertação. Se não formos capazes de fazer isso, seremos controlados por forças cármicas que, a seu tempo, no farão retornar a outro corpo físico.

Há três fases, ou estados Bardo, pelas quais passamos depois da morte em nosso retomo a outra encarnação. De acordo com Joseph Campbell, em The Mythic Image, o primeiro estágio, “Estado Intermediário do Momento da Morte” (Bardo Chikhai), relaciona-s com os estados de consciência do sexto e sétimo chakras despertos.

 Depois do momento da morte, podemos não perceber que nos separamos do corpo. Em nossa confusão, ou mesmo em nosso sono-transe normalmente não reconhecemos a Luz Clara do Vazio e nem permanecemos em sua pureza sem sermos distraídos por pensamentos

Deste modo, para os não instruídos, este primeiro estágio do pós-vida conduz à segunda fase.

O Bardo Choyid, ou “Estado Intermediário de Experiência da Realidade”, relaciona-se com as funções psicológicas do quinto chakra. Acordando no segundo estágio e compreendendo que morremos, ficamos intimidados pela luminosidade da luz radiante das Cinco Energias da Sabedoria (os cinco Budas Dhyani) e retornamos à luz opaca das alucinações da nossa mente. O que pensamos e fizemos enquanto estávamos no corpo inunda a nossa consciência em numerosas experiências semelhantes a um sonho.

Os ensinamentos tibetanos repetidamente nos lembram, entretanto, que o que vemos neste estágio é uma projeção do nosso próprio conteúdo mental. A prática do ioga do sonho é obviamente uma boa preparação para o conhecimento e a concentração necessários neste momento.

O último estágio, “Estado Intermediário dc Busca do Renascimento” (Bardo Sidpa), tem dois subestágios que correspondem à consciência do quarto chakra e dos chakras três, dois e um.17

 Os budistas sustentam que inicialmente desfrutamos de visões agradáveis e colhemos os frutos de nossos impulsos e aspirações da nossa natureza superior. Assim que essas forças se esgotam, descemos pelos reinos interiores, onde surgem visões nascidas da nossa natureza inferior. Embora estas nos apavorem, somos inseparáveis delas e não podemos escapar.

À medida que as experiências se tornam mais concupiscentes e sensuais, sentimos um desejo irresistível pela vida da carne. Desse modo, o apego à realidade que conhecemos e nossas predileções cármicas arrastam-nos ao terceiro estágio da vida após a morte, a vida intra-uterina.

O propósito do Bardo Thodol é ensinar-nos a nos vincular à visão da Luz Clara do Vazio no primeiro estágio. Se conseguimos fazer isto, então apenas precisamos encontrar as experiências mais espirituais do primeiro estágio antes de passarmos a outros remos da existência ou escolhermos o renascimento como um Buda sem quebrar a continuidade da consciência.

Se não conseguimos obter a libertação no primeiro estágio, então começamos a descer pelos seis reinos da existência. O panteão de divindades encontradas nesses vários domínios (no Bardo Thodol) representam as forças universais ativas nos diferentes níveis da psique.

Seu aparecimento na mitologia do estado pós-morte simboliza os estágios e forças que ocorrem no caminho do desenvolvimento psíquico.
Se somos incapazes de manter a Luz Clara no primeiro estágio, ainda podemos obter a libertação refugiando-nos nos cinco Budas Dhyani, que aparecem um após outro no segundo Bardo. Abandonando as ilusões da nossa mente, seus vários elementos podem ser transformados na Energia da Sabedoria de cada um dos cinco Budas Dhyani.

Compreendendo que as formas temporais do corpo-mente não são o que somos, despertamos para a Eterna Luz Clara do Vazio e experimentamos o Dharmakaya (corpo da verdade).

Se não formos libertados até esse momento, devido às forças pertinazes da mente inconsciente que nos têm controlado por muitas vidas -  e que ainda agora nos impelem a descer aos níveis inferiores —, então, no sexto dia, os cinco Budas Dhyani e suas consortes e servidores aparecem simultaneamente.

Se, entretanto, falhamos em nos manter unidos à Luz Clara e continuamos a ser indulgentes com as ilusões da nossa mente, no sétimo dia aparecem os Mantenedores do Conhecimento (Vidyadharas).

Essas cinco divindades e seus consortes manifestam-se com uma hoste de dakinis e seus servidores, conjunto este que compõe a mandala dos Mantenedores do Conhecimento.

 Se compreendemos que esses mestres espirituais vieram para guiar-nos ao “Reino Puro do Espaço” e focalizamos a mente em suas cinco luzes coloridas, então a Libertação pode ser alcançada.

Não concluindo esta etapa, as divindades acima transformam-se em 58 divindades sugadoras de sangue. Esta mandala das divindades iracundas representa as forças mentais necessárias para vencer as ilusões e paixões do ego-self. A pessoa comum muito provavelmente continuará a cair nos remos inferiores, tentando escapar dessas divindades amedrontadoras. Mas um jogue tântrico, tendo-as visualizado na meditação, reconhece-as e funde-se com elas. Assimilando seus atributos, a Libertação é finalmente alcançada pelo iogue.

O Bardo Thodol baseia-se na premissa de que através dos portais da morte entramos nos mesmos reinos de consciência que atingimos em estados avançados de meditação. Se mantivermos um alto nível de claridade e propósito no momento da morte, teremos a oportunidade de juntar-nos à comunidade daquelas almas iluminadas que foram Além (Tathagatas).

Jung ficou fascinado pelo Bardo Thodol e escreveu em seu Comentário Psicológico à edição de Evans-Wentz que estava fortemente inspirado pelas suas intuições profundas sobre a natureza da psique humana.

 Ele revela que nossa psicologia ocidental tem explorado apenas o mais inferior dos três níveis da psique, que corresponde aos estados pós-morte. A ciência ocidental, portanto, tem as duas regiões restantes mais sutis para descobrir.18

Cortando Apegos

A partir do quinto chakra, o caminho da libertação é muito íngreme. Como um alpinista, precisamos de equipamento apropriado para a escalada. De acordo com o Tantra budista, há três provisões importantes para esta jornada: o motivo iluminado da compaixão (que estudamos no capítulo anterior), a visão correta da vacuidade (que estudaremos mais adiante) e renúncia à mente.

Para muitos de nós, a palavra renúncia traz associações negativas, talvez figuras de monges ou monjas vivendo vidas austeras. Mas o ato de renúncia budista não é a prática de negar objetos ou desejos; é abandonar a crença no ego-self.

Nosso apego ao ego-self, composto pelas ilusórias ramificações das cinco energias da sabedoria, mantém-nos presos ao mundo da ilusão chamado Samsara no Tantra.

 Em sânscrito, Samsara significa literalmente “circular”. Refere-se ao círculo da existência (a roda de nascimento e morte). O Samsara algumas vezes é erroneamente considerado uma situação objetiva da qual precisamos fugir. Numa palestra na Califórnia, o Lama Yeshe relatou a seguinte história sobre o criado de um lama altamente respeitado.

Um dia esse servo começou a usar o hábito de monge. Quando enviado em missão a outro lama, este perguntou-lhe sobre o seu progresso espiritual.

O criado respondeu que acabara de transcender o Samsara. O lama ficou muito curioso e suplicou-lhe que lhe revelasse o método que propiciaria tão alto nível de realização. O criado respondeu, ao acaso, que simplesmente despira suas roupas de leigo.

Mudar nossa condição física (roupas de monge ou vida em mosteiro) não nos retira da roda da morte e do nascimento, assim como da prisão cármica dentro da mente.

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