sexta-feira, 22 de junho de 2012

A vitória e a Disciplina






Discipline-se
Professor Margot Cardoso – Revista Vencer. Abril de 2003

“(...) A disciplina do sofrer, do grande sofrer - não sabem você que até agora foi essa disciplina que criou toda excelência humana?

 A tensão da alma na infelicidade, que lhe cultiva a força, seu tremor ao contemplar a grande ruína, sua inventividade e valentia no suportar, persistir, interpretar, utilizar a desventura, e o que só então lhe foi dado de mistério, profundidade, e espírito, máscara, astúcia, grandeza - não lhe foi dado em meio ao sofrimento, sob a disciplina do grande sofrimento?

No homem estão unidos criador e criatura: no homem há matéria, fragmento, abundância, lodo, argila, absurdo, caos; mas no homem há também criador, escultor, dureza de martelo, deus-espectador e sétimo dia - vocês entendem essa oposição?” Friedrich Nietzsche, filósofo

Disciplene-se.
A Falta de fogo no trabalho.
 A vida como uma nau sem norte.
Dias sem sentido.
Muitas idéias e nenhuma ação.
Incapacidade para implementar decisões (desde a mais primária, como acordar cedo, até grandes passos como cursar uma pós-graduação.

Fique atento! Estes e outros tantos problemas podem ter uma única origem: falta de disciplina.

“É uma torça moral que leva o indivíduo a fazer o que tem de ser feito, independentemente da própria vontade e da emoção. Você tem uma visão sobre o que pretende realizar, define o que precisa fazer para conseguir seu objetivo, assume o compromisso com sua causa e simplesmente faz. Isso agir com disciplina”. Tom Chung

A infância é uma maravilha. Nossos pais seguem a cartilha que diz que para uma educação saudável os dois pilares fundamentais são o amor e a disciplina.

 Zelosos, partem para o ensino dos limites e das regras. E, como somos lentos na aprendizagem, eles recordam-nos dia a dia todos os ensinamentos de forma repetida e consistente. Estão sempre reavivando regras para evitar que corramos perigo ou que nos machuquemos.

Com o tempo, passamos o entender qual é o território permitido e com isto ganhamos experiência, segurança psicológica, aprendemos a organizar a mente, a nos estruturar, a conviver em sociedade. Enfim, começamos a trilhar os caminhos do bom desenvolvimento. Uma perfeição!


Porém - se você está lendo este texto - este tempo glorioso acabou. Agora tempos duros - você é adulto. Portanto, no seu cotidiano, as regras e os limites devem ser descobertos e estabelecidos por você. A repetição consistente também está a seu cargo. A vigilância diária dos limites também é com você.

Se as coisas não vão bem, por exemplo: você não sabe qual é o território permitido, não está conseguindo organizar a sua mente, não está dando conta da sua estrutura... o assunto também é com você. E com uma agravante: os perigos e os ferimentos do adulto são piores, maiores e muito mais complexos.

Uma vida adulta sem disciplina é um verdadeiro caos. Imagine: problemas com o fisco (aliás, lembrança oportuna, pois o prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda é 30 de abril), com o banco, com a empresa, com clientes, com amigos e em última instância com você mesmo. Aliás, com tanta negligência a sua auto-estima é a primeira a ruir.

Já sei o que você pensou. Em situação de caos desgovernado, você voltará aos tempos dourados, correrá até o seu pai e sua mãe e pedirá ajuda? Não parece boa idéia. Vamos às possíveis saídas: você poderá aconselhar-se com alguém que admira;

poderá procurar a ajuda profissional de um terapeuta (se você dispuser de dinheiro e de coragem) e, por último, mas não menos importante, você poderá buscar ferramentas, arregaçar as mangas e partir para o empreendimento solo: resolver a questão com as suas próprias mãos.

É com você!

Desnecessário dizer que a primeira saída recomendada - e esperada - é a da via autônoma. Vá à luta! A primeira fase é buscar todas as informações possíveis sobre disciplina. Devore tudo que estiver ligado ao tema (livros, revistas, filmes), monte um plano e vire o jogo.

 Nesta etapa, a VENCER! dá uma contribuição informando o que pensam e o que sugerem alguns especialistas no assunto.

Primeiro uma questão conceitual. Se a disciplina é elemento de primeira necessidade na infância (na verdade é mais do que isso: é direito garantido por lei.

 Se você, vanguardista e revolucionário, resolver educar seu filho sem disciplina, saiba que poderá ser preso sob a acusação de maus- tratos), ela é igualmente fundamental na vida adulta.

 O que a sociedade espera hoje de um grande ser humano? Espera que ele seja íntegro, consciente, autêntico, honesto, auto controlado, responsável pela sua vida... Você imagina algum destes itens sem disciplina?

Ser disciplinado é ser senhor do seu destino, é ser seu próprio mestre, é estar no controle dos seus atos. Filósofos de todas as épocas já identificaram a disciplina como a base de todas as virtudes humanas. Mas, porque é tão difícil ser disciplinado? Primeiro (e aqui seguindo uma vocação da VENCER!: lembrar sempre a nossa origem animal), a explicação biológica merece ser citada.

Temos de lutar contra uma poderosa herança ancestral que está entrincheirada em nosso cérebro.  Aumente o poder do seu cérebro. A nossa porção cerebral reptilínea (cuja função é a sobrevivência e as únicas preocupações são procriar,  comer e dormir) e o sistema límbico,  onde só o que importa é buscar o prazer e fugir da dor.

 E haja disciplina para lidar com o nosso lado réptil... Acordar cedo, fazer ginástica, vencer a inércia da preguiça, sacudir o sedentarismo. O embate com o sistema límbico também não fica por menos. A tarefa é vencer o nosso lado que busca só o prazer, só pensa em delícias, em facilidades.

Mas só há adversidade na nossa herança biológica? Claro que não. Na conquista evolucionista do homem, o cérebro ganhou mais uma porção: o córtex, responsável pelo pensamento, dotado de raciocínio e com poder para negociar com as outras porções mais primitivas. Mas, voltemos a elas.

A primeira é mais fácil de ser domesticada. Bastam algumas semanas de sacrifício e pronto. O corpo habitua-se e até gosta. O difícil é driblar a eterna busca do prazer. Este último, de tão persistente, revolve os miolos de pensadores de todas as épocas - desde Epicuro (que viveu no século IV a.C, na Grécia antiga) até Sponville (que vive atualmente em Paris, França). Quem nunca sucumbiu a um prazer nocivo que atire o primeiro copo.

E para convencer os mortais a tarefa é árdua. Epicuro, por exemplo, explicava que era conveniente primeiro questionar o prazer (já que dizer não de cara é praticamente impossível). De acordo com ele, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; entretanto, nem todos devem ser escolhidos. Do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser evitadas.

Um raciocínio pragmático que busca chamar atenção para o custo e o benefício de determinados prazeres e dores. O prazer deve ser evitado quando dele resultarem efeitos desagradáveis, e o sofrimento acolhido se, após a dor, advier um prazer maior. Aqui um ponto a ser esclarecido. Não se trata apenas de prazer físico ou uma experiência sensorial.

 Epicuro considera como prazer também a ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma, portanto, o conceito é mais global e abarca todas as porções do cérebro humano.

 Resumo da ópera: se as coisas correrem mal, sobra frustração para todos (córtex, sistema límbico e reptilíneo). Sem contar que é uma bola de neve. Começa com uma avalancha interna, depois atinge as pessoas que convivem com você, sua família, seu trabalho, depois a sociedade.
Mas, afinal, o que é?

Para o lama Kalden, o primeiro ocidental a ser ordenado no Tibete, responsável pelo Centro Budista Djampel Pawo em São Paulo, a disciplina é um método que se desenvolve para alguns fins, utilizando as condições e seus meios. “Todo mundo tem disciplina. Se você quer ir ao cinema, compra o jornal para ver o horário, pega o carro, vai até o endereço, estaciona. Isto é disciplina: uma série de passos que leva ao seu objetivo.

 E isto se desenvolve com naturalidade, para pacificar a mente, que se distrai como uma criança em uma loja de doces. É preciso ter claro o que se quer e como conseguir”, ensina ele.

Porém, a disciplina não se resume apenas à execução de tarefas. É uma postura, uma forma de estar no mundo. O psiquiatra e consultor Tom Chung afirma que a disciplina tem a ver com caráter, cujos valores incluem integridade, responsabilidade, visão, capacidade de definir e realizar objetivos.

É uma força moral que leva o indivíduo a fazer o que tem de ser feito, independentemente da própria vontade e da emoção. Você tem uma visão sobre o que pretende realizar, define o que precisa fazer para conseguir seu objetivo, assume o compromisso com sua causa e simplesmente faz. Isso é agir com disciplina.

Muito além das tarefas
Pensadores de todas as épocas debruçaram-se sobre o assunto. O filósofo inglês John Locke, considerado o pai da disciplina, afirmava que ela é um conjunto de leis a que o homem deve se submeter.

Porém, Locke falava em corpo em forma e espírito disciplinado. Portanto, a disciplina como uma atitude diante do mundo. De acordo com ele, a mente deve ser obediente à disciplina e aberta à razão.

A disciplina proposta por Locke era uma espécie de alicerce interior e não apenas um processo instrutivo e punitivo. Para ele, a disciplina era uma ferramenta de crescimento, pois a mente só é capaz de crescer, de se aprimorar, quando disciplinada para esse objetivo.

Ela não tem a rigidez de um fim em si mesma. É uma ferramenta de crescimento e deve ajustar.se continuamente às suas necessidades, evoluindo com você, trabalhando a seu favor.

Sem massacres
Se você, a partir de hoje, vai estabelecer para si uma rotina militar ou de monge, como se costuma dizer, saiba que a verdade está longe disto.

Tom Chung alerta para os excessos e afirma que tentar impor regras e limites para tudo é um exagero que pode trazer rigidez burocrata e até tirania. De acordo com o psiquiatra, a disciplina está diretamente associada à responsabilidade, motivo por que exige bom senso para compreender quando ela é essencial, quando é efetiva e quando é inconveniente.

O próprio lama Kalden admite ter uma mente que, por natureza, se distrai e, por isso, precisa ser disciplinada. Mas desenvolveu uma disciplina sem rotina, sem ser maçante. À parte os seus compromissos de estudo e discipulado no templo e suas horas de meditação, o lama não tem horário certo para acordar ou dormir.

“A vida não tem ensaio e torná-la dura não é um objetivo que traga felicidade. É preciso ser flexível. Métodos disciplinares duros frustram e desestimulam. Se for preciso ler um livro, pare tudo, desligue o telefone eleja”, explica ele.

Mente sã
0k. A disciplina para tarefas até que é fácil de ser implementada. Algumas tarefas requerem isolamento, outras vigilância constante na agenda, outras apenas vencer a inércia, os primeiros passos. Mas, e a disciplina de espírito? Como descongestionar a mente, colocá-la no eixo? Uma estratégia recomendada pelo lama para disciplinar a mente é a meditação.

Porém, o lama Kalden chama atenção para alguns conceitos errôneos da meditação. “A idéia que se tem de pensar em um campo com flores e borboletas como meditação é errada. Isso é relaxamento. Meditar é entrar em contato consigo mesmo. Separar o bom do nefasto. Trazer a mente mais clara para o cotidiano. Levar à transformação, à calma. Nós temos venenos mentais. É preciso olhar para si mesmo com carinho, como se cuida de uma planta”, diz.

Como se faz isso? O lama Kalden ensina o seguinte exercício: na hora de dormir, sente-se na cama e traga presente tudo o que fez durante o dia com sinceridade. Tudo mesmo. E avalie.

 No final, traga à sua mente a grande amiga, a morte (“A mente pensa que é imortal e pode perder tempo com coisas sem importância, em vez de saborear laços de amor e amizade, que são o que importa”, detalhou lama).

 “Segundo Buda, a vida tem o mesmo significado de uma bolha de água. Se uma situação o aflige ou o irrita, pense: se eu morrer agora, isso tem importância?”, questiona. “Esse tipo de meditação leva à disciplina, a uma mente mais ativa. Todos os males que afligem a sociedade hoje - obesidade, estresse, depressão - existem porque as pessoas estão ausentes de si mesmas, desconectadas. Falta prestar atenção em si mesmas. Sem objetivo não há disciplina”, complementa.

Fuja do superficial

O lama chama atenção para a frivolidade dos tempos modernos. “A verdadeira disciplina é interna. Há situações em que é preciso seguir uma rotina, mas a verdadeira disciplina é interna, independe de rituais. A disciplina rígida pode se mecanizar e se tornar vazia. As pessoas tentam viver uma vida emprestada. Andam em bloco, sem sentido. É preciso ser um samurai interno. Manter a mente clara em todos os momentos. Tudo para nós é um problema e a culpa é sempre dos outros. Todo mundo acha que não merece as

Você tem capacidade para manter a disciplina?
Veja o que acontece ao seu redor.


Entrar em forma :
54% dos novos atletas só treinam regularmente no primeiro mês.
45% desistem antes do fim do primeiro mês.
 2% dos recém-inscritos continuam a treinar regularmente

Perder peso
35% aguentam seis meses de regime e depois desistem
27% desistem no primeiro mês
2% conseguem ultrapassar o primeiro ano e manter os novos hábitos saudáveis de - alimentação

Parar de fumar.
5% conseguem parar com ajuda especializada
1%consegue parar apenas com sua força de vontade.
30% fracassam antes de completar um ano
35% desistem no Primeiro mês.
Vencer! ABRIl 

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