"A IMAGINAÇÃO do Mago CONCRETIZA AQUILO QUE INVENTA"
Olhai! A grande maga do
universo!
É ela que faz a memória
frutificar, que concebe de antemão o Possível e até inventa o Impossível. Para ela
os milagres nada custam. Ela transporta pelos ares casas e montanhas, põe
baleias no céu e estrelas no mar, enseja reinos aos
bêbedos e os leva a dançarem de alegria
debaixo de um balde de leite. Assim é a Imaginação.
A Imaginação é a Força
Criadora. Deus é a Imaginação da Natureza.
A imaginação é o cristalino
da mente. Ela refrange os raios dos nossos pensamentos e amplia as imagens das
nossas percepções. O âmbito da nossa visão é pequeno que para ver direito neste
tão acanhado mundo é preciso que vejamos
as coisas maiores do que na natureza.
As pessoas destituídas de
imaginação jamais chegam a realizar alguma coisa grandiosa, pois tudo se lhes mostra
em proporções mesquinhas.
É à Imaginação que devemos a
poesia e os sonhos; é ela que adorna as fábulas e símbolos nos véus dos Grandes
Mistérios. Ela inventa as histórias infantis e as lendas camponesas. Ela faz
Deuses trovejantes e anjos exterminadores
surgirem sobre as colinas, bem como produz Alvas Donzelas e Virgens junto das fontes.
Ela faz predições que são amoldadas aos fatos
ou reinterpretadas quando não se realizam. Ela é nutriz da Esperança e cúmplice
do Desespero. Ela doura a auréola dos Santos e bronzeia os cornos do Demônio.
Ela cura e mata, salva a alguns e condena a outros; é casta como a Virgem e
impura como Messalina.
Ela cria entusiasmo e
dilata, até quase o impossível, o império da Vontade. Ela cria uma crença na
felicidade e dá felicidade, na medida em que o sonho dura.
O astrônomo contempla o
universo e imagina o Infinito; o crente contempla a Natureza e imagina Deus. Na
verdade, a Imaginação é maior que o Pensamento. A Ciência está inundada de Fé e
sem Fé a Ciência seria incerta.
O que é a Álgebra senão a
Imaginação da Matemática pura, e o que é a Cabala senão Álgebra das Idéias?
Aquilo que a imaginação
inventa ela cria, e tudo aquilo que cria existe. Imaginar a verdade é
adivinhar, adivinhar é exercer o poder Divino. Em latim chama-se ao homem que
adivinha de divinus, vale dizer homem Divino, e o poeta é denominado vates,
vale dizer, profeta.
A Imaginação dos Cabalistas transformou a
Filosofia numa Ciência exata, ligando idéias e números; a Ciência das Analogias
é inteiramente uma Ciência da Imaginação e as grandes nações não são senão
conglomerados de frios entusiastas que imaginam a glória com empenho.
As imaginações coletivas conseguem
os resultados do microscópio solar. Os heróis, de modo especial, tornam-se
maiores depois da morte e as ficções das opiniões colocam em soberbos pedestais
os vultos mais destacados da história. Quem jamais saberá ao certo a exata
grandeza de Alexandre Magno ou de Napoleão I?
Se a imaginação encontra um
ponto de apoio real, esse é a alavanca de Arquimedes; sem uma base real, ela
não passa de um bordão no qual apenas os tolos confiam.
Baseando-se em hipóteses
razoáveis e científicas, Cristóvão Colombo imaginou a América, ousou lançar-se
ao mar para descobri-la e encontrou-a. Quando se sabe e quando se quer, deve-se
ter a coragem de ousar.
A Imaginação tem os seus
sonhos e os seus pesadelos, o que não impede que a sua epopéia seja gloriosa.
Os arquitetos da Idade Média delinearam o seu perfil em magníficas catedrais,
onde as gárgulas, os consolos entalhados e a ornamentação florida concorrem
para pôr em relevo as linhas puras das ogivas e a placidez dos Santos.
Aqueles grandes artistas
haviam adivinhado o enigma do bem e do mal; eles compreendiam a luz e as sombras.
É a imaginação que opera
milagres; através de um ato de sua imaginação um punhado de crianças do campo
faz que igrejas sejam erguidas do chão e abalem populações inteiras; atente-se
para as peregrinações a Lourdes.
Através da imaginação Josué deteve o Sol e fez
ruir as muralhas de Jericó ao som de suas trompas; através da imaginação o pão
torna-se Deus e o vinho do cálice se transforma em sangue imortal, e nós não
cuidamos de dizer, como bem se pode imaginar, que não é assim; mas assim é ,
pois assim imaginamos, em obediência à palavra e à Fé de Cristo.
A Imaginação cura os doentes
e faz a fortuna de muitos médicos de renome; cria a homeopatia da qual tantos
crentes obtêm benefícios; faz mesas falarem e dita aos médiuns, páginas e mais páginas de matéria erudita, e pode ditar orações ou pragas.
A Imaginação amplia a
sabedoria, exagera a loucura, exige demais da verdade, faz a falsidade parecer
verdadeira; e ao mesmo tempo não há falsidade para a imaginação; tudo quanto
esta afirma verdadeiro é como poesia: e pode lá a poesia dizer-nos mentiras?
A Fé tem por objeto apenas
as adivinhações daqueles que imaginam as Verdades Eternas. Moisés imaginou
Jeová e uma nuvem surgiu sobre o tabernáculo. Salomão imaginou o templo
universal e esse templo, sucessivamente destruído pelos assírios e pelos
romanos, permanece ainda hoje de pé, com
o nome de S. Pedro de Roma.
Alexandre imaginou a unidade entre as nações,
quase concretizada sob Augusto e mais tarde imaginada de novo por Pedro o
Grande e Napoleão I, cujos antagonismos continuam mantendo em equilíbrio o
mundo.
A Imaginação é o eterno
motivo dos amores intempestivos. Via de regra, é através da imaginação que as mulheres
impressionáveis e nervosas são conquistadas. Amiúde, basta a um homem ser
estranho ou até mesmo horrível para ser amado.
Aquilo que de forma mais poderosa excita a
imaginação, e consequentemente o desejo, é o perigo.
A Morte ara o solo do Amor, e ali o Amor
semeia o grão destinado a desabrochar na Colheita da Morte. É proibido sob pena
de morte entrar na Vida, pois todos ao nascer são condenados a morrer.
A Imaginação é o Pégaso dos
poetas, o Hipogrifo dos Paladinos, guia de Ganimedes e a pomba de Anacreonte; é
o carro de fogo de Elias e o anjo que carrega consigo os profetas,
arrastando-os pelos cabelos.
Assim como há um calor
latente que determina a polarização molecular dos corpos, assim também existe
uma luz latente que se manifesta em nós por meio de uma espécie de
fosforescência interna.
É ela que ilumina e dá cor
aos fantasmas das nossas visões e dos nossos sonhos e nos exibe, na ausência absoluta
de luz externa, espantosas imagens fotográficas. É por meio dessa luz que lemos
na memória da natureza ou no reservatório geral das impressões e formas os
germes rudimentares do Futuro nos arquivos do Passado.
O Sonho é um estado de imersão do pensamento
nessa luz invisível para os olhos despertos, nesse banho universal, no qual estão
refletidos todos os pressentimentos e todas as recordações e no qual as mentes
e as inteligências se interpenetram.
Por essa forma pode uma
pessoa adivinhar, traduzir e explicar as idéias de outra. É por essa forma que
o cérebro de uma pessoa torna-se como que um livro aberto
para outra. As maravilhas do sonambulismo lúcido não têm outra causa e são
explicadas por uma série de miragens e reflexões.
A
luz interior tem a mesma relação com a luz externa que tem a eletricidade
negativa com a positiva , e é por isso que os
fantasmas aparecem de preferência à noite e que os feiticeiros precisam da
escuridão para praticar seus pretensos milagres; é por essa razão que os
espíritos não podem produzir seus fenômenos característicos diante de quaisquer
pessoas; precisam de um pequeno grupo de simpatizantes, predispostos à
influência contagiante daquela fosforescência interior que faz ver e sentir
coisas que não são visíveis nem sensíveis para outros.
A pessoa é então lenta e progressivamente
penetrada pela vida do sonho; a mobília se desloca, canetas escrevem sem ser
tocadas, homens erguem-se do solo e pairam suspensos no ar. Então as realidades
ficam loucas e as loucuras tornam-se reais; os videntes são insensíveis à dor.
Pode-se adivinhar ou
predizer, seja pelas observações e induções da sabedoria, seja pelas intuições
dos êxtases ou do sono, pelos cálculos da Ciência, ou ainda pelas visões do
entusiasmo, que uma é espécie de intoxicação.
- A VONTADE
CONSEGUE TUDO AQUILO QUE NÃO DESEJA
O Príncipe Sakyamuni, que foi chamado Buda, disse que todos os tormentos da Alma Humana se originaram no medo ou no desejo; e concluiu com duas frases que podemos traduzir assim:
Nada desejes então; nem
mesmo a Justiça; cedo ou tarde o céu irá realizá-la. O Nirvana não é aniquilamento;
é, na Ordem da Natureza, o grande apaziguamento. Querer sem temer e sem
desejar é o segredo da vontade Onipotente.
Deus nada teme; ele sabe que
o mal não pode triunfar, e nada deseja; ele sabe que o bem se realizará,mas
deseja que a verdade se pratique, por se verdadeira, e que a justiça se
consuma, por ser justa.
A Magia deve querer aquilo
que o Mago quer.
Este quer a beleza da
natureza, as quais desfruta em sua plenitude, pois nunca abusa delas. Quer as fontes
recamadas de flores, as rosas desabrochando em sua beleza, as crianças felizes
e as mulheres amadas.
O Mago quer que os homens se
ajudem mutuamente, encorajem os jovens e ajudem os velhos.
Ele quer que o bem eterno
triunfe sobre o mal passageiro, e participa, paciente e pacificamente, da obra da
Sociedade e da Natureza.
Ele quer ordem, quer razão,
quer bondade, quer amor, e trabalha com todas as suas forças em prol daquilo
que quer, conquistando com isso a imortalidade e a felicidade.
Nada desejando, ele é rico;
nada temendo, ele é livre; querendo apenas aquilo que deve querer, ele é feliz.
Disse um poeta a respeito de
Deus: "Para Ele, querer é criar; existir é produzir."
O mesmo podemos dizer do
Mago — desejar o bem é fazer o bem, e nenhuma existência é estéril. Jó, estendido
em seu esterqueiro, conseguiu uma coisa sublime. Deu paciência ao mundo.
Todo sofrimento consiste em
dar vida a alguma coisa; a pobreza produz a riqueza, a doença a saúde, o cativeiro
a liberdade, a punição a expiação e o perdão; as lágrimas o a semente da
alegria. A sã morte
nutre a vida. Para aquele
que sabe e ama, tudo é esperança e felicidade.
Fortuna, honrarias e
prazeres, eis o que a maioria dos homens deseja, sem sonhar jamais que os
prazeres são a ruína da fortuna e da honra; que a riqueza produz a saciedade e
uma aversão aos prazeres, e que as honrarias são com demasiada
frequência compradas com a baixeza.
Quantas desilusões aguardam
esses homens! O mendigo atrai a miséria, o debochado deprava seus sentidos e
mata seu coração, e o ambicioso, julgando escalar o Capitólio, encontra apenas
o Rochedo de Tarpéia; o mendigo passa
fome e sede como Tântalo, o debochado faz girar a roda de Ixião, o ambicioso faz
rolar o rochedo de Sísifo. Suas vidas são o Inferno, seu fim é o Desespero.
O Mago, o Sábio se
preferirem, acolhe de bom grado prazer, aceita a riqueza, preza as honrarias,
mas jamais se escraviza a tais coisas. Ele sabe ser pobre, limitar-se e sofrer;
suporta o esquecimento, porque a sua própria felicidade nada espera e nada teme
dos caprichos da Fortuna.
Ele pode amar sem ser amado;
pode criar tesouros imperecíveis e alçar-se acima do nível das honrarias, a
dádiva da Sorte.
Aquilo que deseja ele possui, pois possui uma paz profunda.
Ele não lastima nada que tem de chegar ao fim, mas recorda com alegria tudo aquilo que para ele foi bom.
Aquilo que deseja ele possui, pois possui uma paz profunda.
Ele não lastima nada que tem de chegar ao fim, mas recorda com alegria tudo aquilo que para ele foi bom.
Sua esperança já é uma certeza; ele sabe que
Deus é eterno e que o Mal é transitório. Ele capaz de é desfrutar da solidão
mas não teme a companhia dos homens; é uma criança com as crianças, é expansivo
com os jovens, sereno com os velhos, paciente com os tolos, feliz com os
sábios.
Sorri com todos os que
sorriem, chora com todos os que choram. Toma parte em todas as festividades, solidariza-se
com todos os sofrimentos, aplaude a fortaleza mental, é indulgente com a
fraqueza; jamais ofendendo quem quer que seja, nunca tem de perdoar, nunca se
julga ofendido; lamenta aqueles que não o entendem e aguarda a oportunidade de
lhes fazer o bem.
É pela força da bondade que ele gosta de vingar-se
dos ingratos. Pronto, ele próprio, para dar tudo, acolhe com satisfação e
gratidão tudo o que lhe é dado. Ele se apoia afetuosamente em qualquer braço
estendido na sua direção nas épocas difíceis e não confunde com virtude o
rabugento orgulho de Rousseau.
Ele pensa que dar aos outros
a oportunidade de fazer o bem é prestar-lhes um bom serviço e nunca recusa uma
oferta ou uma exigência.
Pode-se pensar que um homem
desse caráter não seja maior que um rei, mais rico do que um milionário?
Feliz aquele que compreende essa grandeza, aprecia
essas riquezas e prova dessas alegrias e desses prazeres! Ele não quererá nada
mais, tudo aquilo que quer ele tem.
Perfeição é equilíbrio e os
excessos de privação são tão maléficos como os excessos de prazeres. As macerações
têm o seu insalubre epicurismo e os Faquires gostam de definhar no êxtase do
seu orgulho.
Os penitentes carrascos dos
seus próprios corpos e almas sentem a crueldade do Deus, a quem julgam vingar,
triunfando neles. Os incendiários de homens são aqueles que se submetem a uma cruel
autodisciplina. O fanático capaz de matar-se por Deus é capaz de matar também o
seu semelhante; as orgias da austeridade endurecem o coração tanto quanto as
orgias do prazer.
Chegando a um equilíbrio
perfeito, o homem pode caminhar ou correr sem recear um tombo. É preciso que se
seja alguém para merecer a existência, mas é preciso que se seja alguém para
fazer alguma coisa;
nós só existimos para agir;
pensamos para falar. A Razão é também o Verbo, mas o Verbo não é apenas a fala,
é também vida e ação.
Nós somos fortes para trabalhar; somos
instruídos para ensinar; somos médicos para curar os doentes. Nós não acendemos
uma lâmpada para ocultá-la numa touceira, disse Cristo. A luz deve ser colocada
num candeeiro; cada um se deve a todos e todos se devem a cada um".
Palavras de sabedoria de um antigo Mago.
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