O poder da visualização e das imagens que curam.
Os amigos sempre me pedem que
lhes sugira exercícios de visualização para aplicar em todo tipo de
dificuldades, crises e doenças, e sempre consideram esses exercícios úteis.
Visualizações não exigem aprendizagem subjetiva ou muita orientação.
Recentemente, uma amiga minha
fraturou o pulso. Foi atendida por um ortopedista, que lhe disse que aquele
osso necessitava de três meses para se recompor. Tanto o diagnóstico quanto o
prognóstico foram confirmados por um segundo ortopedista. Sugeri à minha amiga
que auxiliasse a recuperação com o uso do exercício Tecendo a medula.
Feche os olhos. Expire três vezes
e imagine as extremidades fraturadas dos ossos como aparentam estar agora.
Imagine as duas extremidades encostando uma na outra.
Imagine e sinta a medula fluindo de uma ponta
para a outra. Imagine essa mesma medula branca sendo transportada em canais de
luz azul ou branca através da corrente sanguínea, as arteríolas fluindo de um
lado para o outro entre as duas extremidades, urdindo uma teia que aproxima as
duas extremidades.
Imagine-as tecendo uma perfeita malha
simultaneamente até que já não possa perceber nenhum sinal de fraturas. Sinta
que o osso agora está inteiro e abra os olhos.
Pedi a ela que repetisse o
exercício a cada 3 ou 4 horas enquanto estivesse acordada, durante mais de 3
minutos por vez. Com esse exercício, resultados significativos podem ser
percebidos em uma ou duas semanas.
Após três semanas, minha amiga foi ao
ortopedista para um checape programado e o médico descobriu que o osso havia
sarado, O ortopedista ficou tão surpreso que imediatamente reexaminou as
radiografias, que confirmaram sua expectativa original:
pela sua experiência, o tipo de osso que minha
amiga havia fraturado levava três meses para sarar, O ortopedista não pôde explicar
os resultados que estava constatando.
Minha amiga me disse que ao
deixar o consultório tremia de excitação ao se dar conta do que havia sido
capaz de fazer em benefício próprio.
Visualizar — compor visualizações
— é um processo simples. Significa encontrar, descobrir ou criar uma imagem
mental, uma forma mental. Essa forma imaginada, mas ainda assim real — tem
todas as características de um acontecimento, coisa ou situação que podemos ver
em nossa realidade quando estamos acordados.
A diferença é que, ao contrário dos objetos
que percebemos quando estamos acordados, os da imaginação não têm volume ou
massa. Resumindo, eles não têm substância.
Contudo, têm energia. Devemos pensar nessas
imagens como filhos mentais. Nós os criamos para atuar em nosso favor como
agentes de cura; depois, com sua energia, eles continuam a estimular o processo
de cura por conta própria.
Ao descobrirmos ou criarmos essas
imagens, começamos um processo importante. As imagens são tão reais quanto
nossas emoções e tão significativas quanto nossos sonhos noturnos. Obviamente,
o que criamos é uma realidade subjetiva, mas ainda assim realidade, com o poder
de afetar nosso corpo e nos dizer mais sobre quem somos.
Neste texto, abordaremos como
preparar a mente para praticar as visualizações e usar a realidade interior
para influenciar a saúde. Não há nada de complicado nisso: utilizamos aptidões
normais que todos temos.
Mudança
O que quero dizer quando afirmo
que a transformação é um elemento da cura pela visualização?
Tanto os físicos quânticos
modernos quanto os místicos chineses já disseram que o que experimentamos
subjetivamente como tempo, nosso retrato limitado da realidade, é, na verdade,
o fluxo contínuo da mudança.
A medicina tradicional chinesa
baseia--se inteiramente na premissa de que as doenças nada mais são do que
bloqueios do fluxo — ou seja, resistência à natureza mutável das coisas.
Tentamos nos agarrar ao que
julgamos ser “bons momentos” e, nessa ânsia, seguramos firme, resistimos à
possibilidade de dor ou de desprazer, e acabamos indo de encontro à dor que
tentamos evitar.
As pessoas que trabalham com
visualizações dizem que “sentir-se bem” está associado a “liberar” — coisas,
ideias, preconceitos sobre si mesmo e sobre os outros — e a parar de tentar
deter o fluxo dos acontecimentos.
Elas não se tornaram fatalistas, daquelas que
se sentam passivamente à beira do rio dizendo “o que será, será”. Em vez disso,
tomaram a atitude de abandonar o desespero decorrente de tentar se identificar
com experiências, coisas e situações fixas, limitadas.
Quanto mais o processo de
liberação se intensifica, mais aumenta a sensação de bem-estar. Visualizar e
deixar-se levar com o processo de mudança são atos inextricavelmente ligados.
Isso pode acontecer devido ao
funcionamento distinto dos hemisférios esquerdo e direito do cérebro: o lado
direito parece conectado com a intuição e a imaginação, enquanto o esquerdo aparenta
estar relacionado com as funções da lógica, das palavras e do pensamento
racional.
Dar rédeas à imaginação, a imagens não
causais, em lugar da organização das palavras no pensamento sequencial, permite
nos rendermos ao fluxo das coisas.
Quando colocamos a imaginação em pé de
igualdade com o pensamento lógico, abrimo-nos à mudança e à renovação,
dando-nos uma chance de aproveitar a constante sucessão dos momentos presentes
enquanto vão acontecendo.
Na verdade, isso é o oposto da
nossa experiência comum de nos concentrarmos geralmente no passado ou no
futuro. Fazendo isso, aplicamos a atenção na descontinuidade, não no fluxo. Ligamo-nos
a pontos fixos aos quais vinculamos um tipo prejudicial de julgamento e de
significado.
Por exemplo, pensamos em nós como
“formado no ensino médio em 11 de dezembro de 1980” , ou dizemos que e então
ligamos a esses acontecimentos diversos pensamentos, lembranças, sentimentos,
projeções e atitudes.
Os acontecimentos se transformam em pequenas
lembranças cristalizadas, que nos envolvem como se fossem uma casca — que, com
o passar do tempo vai-se tornando cada vez mais difícil de romper.
Se pudéssemos apenas registrar o acontecimento
em si, sem comentário algum, sem categorização, julgamento ou rejeição, não
ficaríamos bloqueados por “identificações de sentimento” que podem trazer
doenças e tristeza.
Não que seja possível permanecermos jovens e
sadios para sempre, mas podemos envelhecer com alegria e com a capacidade sublime de acompanhar o fluxo
da vida.
Quando entramos em sintonia com a
mudança conseguimos perceber o paradoxo que a maioria de nós vive.
Costumamos ter atitudes
individualistas, independentes e talentosas, tentando mudar o destino.
Entretanto, ao mesmo tempo tememos parecer diferentes dos outros.
Embora seja muito bom nos
encararmos como indivíduos independentes, na verdade resistimos a novas maneiras
de enxergar as coisas, o que é o verdadeiro sinal de individualidade e de
independência.
Gostamos de pensar que somos diferentes dos
outros e mais autodeterminados que eles — e até podemos sê-lo. Mas, para
algumas pessoas, esse sentimento pode mascarar uma necessidade de aprovação social
— ou seja, de igualdade.
No mundo material, esforçamo-nos
para nos destacar e ficar mais ricos, mais “autorrealizados” do que os outros;
mas, à medida que subimos na vida, lá estamos nós procurando nos ajustar às
normas de outros ricos.
Claro que quem tem dinheiro tem
mais liberdade para satisfazer suas vontades, mas os ricos podem ficar tão
entediados com sua vida de luxo quanto nós podemos nos cansar de tentar ganhar
dinheiro. A mudança não ocorre em pessoas que alteram apenas suas
características exteriores.
PREPARANDO A MENTE
Há quatro aspectos a ser
considerados na preparação da mente para a cura por meio de visualizações. Os
dois primeiros fazem parte de todo exercício de visualização.
Eu os chamo de intenção e tranquilidade. Os
outros dois elementos fazem parte da experiência de visualização como um todo.
Eu os chamo de limpeza e mudança.
Intenção
A visualização de imagens está
direta e crucialmente ligada à intenção, que é a ação mental que direciona
nossa atenção e rege nossas ações. Todos sabemos o que é intenção. “Pretendo
tirar férias no próximo mês”, dizemos, e planejamos de modo adequado.
A intenção nos guia nas grandes e
pequenas questões. A intenção é a expressão ativa dos desejos, canalizada
através do sistema psicológico. Frequentemente ela se manifesta como ação —
física ou mental. Colocando de maneira simples, ela é o que desejamos
conseguir.
O que isso tem que ver com
visualizações e cura? Quando executamos um exercício de visualização, sempre
começamos definindo e esclarecendo nossa intenção — o que desejamos conseguir
com tal exercício.
Por exemplo: se deseja curar um osso quebrado,
você diz a si mesmo, antes de começar o exercício, que vai fazê-lo para
recuperar o osso. Você dá a si próprio uma instrução interior. Experimente
pensar nisso como uma espécie de programa de computação, só que para a sua
mente, de modo a fazê-la concentrar-se apenas no processo em que está
trabalhando.
Se você diz a si mesmo que vai
atingir uma meta específica com determinação, seu sucesso no emprego da
visualização será maior.
A intenção depende da vontade,
que é simplesmente o impulso da força vital que nos capacita a fazer escolhas.
Todas essas ações são atos da vontade.
Quando direcionamos nossa vontade
temos uma intenção. A intenção é a vontade dirigida, e é essencial para todo o
trabalho de autocura gerado por meio da visualização. Usando a visualização,
direcionamos a vontade para dentro de nós, a fim de encontrarmos novos
caminhos, que nos levem a uma saúde melhor e a uma vida mais rica. Tornamo-nos
os mestres conscientes da vida.
Esquecemos que podemos direcionar
essa mesma vontade, essa mesma força, para nós mesmos a fim de mudarmos e
tomarmos as rédeas da vida. A vontade alerta, a intenção consciente, é o cerne
da cura pela visualização.
Muitas vezes, direcionamos o esforço que
deveria nos ajudar para os outros, estamos programados para servir, cuidar do
outro, porque fomos condicionados a não
usar nossa vontade em proveito próprio.
Tranquilidade
A segunda exigência na preparação
da mente para a cura pela visualização é o que chamo tranquilidade.
O ambiente de cura requer dois tipos de tranquilidade:
exterior e interior. A tranquilidade exterior nos ajuda a fixar a atenção na
tarefa de voltarmo-nos para dentro. Distrações e aborrecimentos do dia a dia
nos privam desse tipo de atenção.
A cura pela visualização tem características
próprias e funciona melhor em ambientes — e horários — reservados para esse
fim. Em geral, recomendo que os exercícios sejam feitos três vezes ao dia —
antes do café da manhã, ao entardecer e antes de dormir.
O aspecto interior da
tranquilidade é relaxamento.
O estado de meditação ou, como é
chamado, de relaxamento profundo não é recomendável, pois pode deixá-lo menos
alerta ou até sonolento e, assim, menos sensível à experiência de visualização.
O objetivo não é relaxar, mas sim
visualizar e lembrar. A atenção, ou a extrema vigilância, é o estado de
espírito exigido, e a própria atividade de visualização gera mais concentração.
Limpeza
Um terceiro aspecto do trabalho
de visualização é o que chamo limpeza. Nem todo exercício de visualização
requer limpeza, mas ela é um dos passos iniciais mais importantes para que você
se abra para a cura.
A maioria dos sistemas medicinais
da Antiguidade empregava procedimentos de limpeza. Os médicos egípcios, por
exemplo, fizeram do banho uma condição para a cura, assim como todas as
culturas conhecidas do mundo antigo, do Ocidente e do Oriente.
A doença mental — inclusive os
estados psicóticos — é caracterizada por pensamentos “sujos”, como fantasias
sexuais violentas, e culpa advinda de atos como a masturbação.
Pessoas muito deprimidas geralmente são
desleixadas com a aparência e, como os psicóticos, tornam-se cada vez menos
asseados porque perdem o interesse nas relações sociais e carecem da energia física
necessária para limpar o corpo.
Ao afirmar que a limpeza é
necessária para o trabalho de visualização, naturalmente estou falando sobre
algo além da limpeza física. Sem querer ser moralista, eu diria que ser
saudável é ser “limpo”, em todas as acepções da palavra.
Eticamente falando, devemos nos
perguntar até que ponto somos “limpos” nas relações com os outros. Muitas
pessoas esperam nunca ficar doentes, como se isso fosse um direito nato.
Contudo, iludem a si mesmas se
não veem nenhuma conexão entre a doença e um comportamento inescrupuloso, e as
consequentes experiências de culpa e autopunição — mesmo que exteriormente
saiam impunes de seus “atos sujos”.
Quantas vezes já ouvimos a
expressão “o corpo não mente”? Pela minha experiência, isso se aplica tanto à
saúde moral e ética quanto aos hábitos alimentares, aos exercícios físicos e às
atitudes em relação ao trabalho. Isso vale para todos: cada imprudência moral
ou ética é registrada no corpo e pode influenciar adversamente a vida física e
mental.
Um deslize ético não significa apenas
que você está enganando ou prejudicando alguém intencionalmente. A questão é
mais complexa: você pode enganar também a si próprio.
Um paciente me procurou sofrendo
de câncer. A doença estava em sua família materna havia quatro gerações. Além
disso, a cada geração um irmão da vítima de câncer comportava-se de modo a
trazer vergonha, desonra e desarmonia à família. Todas as vítimas de câncer
eram os cabeças da família e sabiam das atividades dos irmãos. E igualmente
escolheram guardar os fatos para si, carregando seu pesar e preocupação em
segredo.
No caso de meu paciente, o irmão
ovelha negra era um jogador compulsivo que estava arruinando a família dele.
Meu paciente estava tirando dinheiro da própria família para tentar pagar as
dívidas do irmão.
Seus familiares sofriam e não sabiam por quê.
Meu paciente, na realidade, estava sem querer roubando deles. Além disso,
estava mentindo por não contar a todos o que estava acontecendo. Sua vida moral
estava comprometida (era um homem decente, íntegro) por causa de seu “apoio” ao
comportamento negativo do irmão.
Em nosso trabalho terapêutico, o
paciente acabou tomando consciência de que devia informar a família inteira da
situação do irmão. Quando isso foi feito, o ar clareou e todos os outros
familiares acudiram o irmão, confrontando-o. Depois disso ele foi se tratar,
entrando, inclusive, para os Jogadores Anônimos.
Quanto ao meu paciente, foi como
se lhe tivessem tirado um peso dos ombros, e ele entrou em fase de remissão.
Para chegar à cura devemos
começar fazendo uma “faxina interior”. Essa é a parte do ato consciente da
vontade que precede a abertura para as imagens mentais, parte da decisão de nos
autoanalisarmos lucidamente e de estarmos abertos a compreender o que nosso
corpo e nossos sentimentos estão nos dizendo.
Por meio de imagens, podemos nos livrar da
sensação de que algo vai mal, combater a ilusão e esclarecer os padrões
destrutivos a que sempre recorremos. Só então poderemos confrontar nossos males
e chegar à autocura.
A limpeza é parte da cura, e
juntas elas abrem espaço para o surgimento de padrões novos e possibilitam um
crescimento e uma completude inéditos e positivos.
O trabalho de visualização com o
corpo e a mente é a guinada para o processo de autolibertação; com ele nos
transformamos em indivíduos plenos e passamos a conviver facilmente com a
mudança.
Permitindo-nos nos afastar da
rigidez do mundo dos bens e das aparências, o trabalho de visualização nos
ajuda a rejeitar o comportamento e as atitudes que prejudicam nossa saúde.
Intenção, tranquilidade, limpeza,
mudança — esses são os componentes de um estado de ânimo que cura.
Você achará essas atividades
recompensadoras por si sós. À medida que avançar neste caminho e aprender a
usar esses elementos para ajudar a curar suas doenças e seus problemas, você
não apenas se tornará uma pessoa mais saudável como também mais livre, pronta
para experimentar algumas das infinitas possibilidades que a vida nos oferece. Epstein G.
Gratidão imensa por esse texto. Muito obrigada por compartilhar tamanho conhecimento. =)
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