Problemas na Tireoide.
Não só ganho de peso, mas coração fora
do ritmo, intestino desregulado, queda de cabelo, pele ressecada e até
depressão — a origem de tantos tormentos pode estar em um só canto do corpo,
bem ali no pescoço. Saiba por que esses problemas se tornam cada vez mais
comuns e como arremeter suas repercussões
por DIOGO SPONCHIATO
Desde que o
anatomista flamengo Andreas Vesalius (1514-1564) fez a primeira descrição
científica daTireóide, ainda no século 16, a glândula com o formato de borboleta
jamais saiu dos holofotes da medicina. Nos últimos anos, então, ela frequenta
rodas de conversa que não se restringem à turma do jaleco branco. O motivo,
infelizmente, é que os distúrbios tireoidianos, capazes de ressoar literalmente
das unhas dos pés aos fios de cabelo, estão em ascensão.
Sem dúvida aumentou o número de
diagnósticos — algo que se deve à atenção crescente dos clínicos e aos avanços
nos exames. Mas o fenômeno, observado no consultório médico, não é reflexo só
disso. O que pode explicá-lo?
Uma das respostas estaria no consumo excessivo de uma das matérias primas dos hormônios tireoidianos, o iodo. “Em pessoas que já têm predisposição genética, o excesso da substância pode puxar o gatilho para o hipotireoidismo, quando a glândula produz menos do que o necessário”, afirma Geraldo Medeiros, professor de endocrinologia sênior da Universidade de São Paulo.
Uma das respostas estaria no consumo excessivo de uma das matérias primas dos hormônios tireoidianos, o iodo. “Em pessoas que já têm predisposição genética, o excesso da substância pode puxar o gatilho para o hipotireoidismo, quando a glândula produz menos do que o necessário”, afirma Geraldo Medeiros, professor de endocrinologia sênior da Universidade de São Paulo.
Pois é isto: o exagero de iodo, assim como a
falta do mineral, atrapalha a linha de montagem dos hormônios. “Muito iodo pode
fazer com que a Tireóide passe a ser
vista como estranha pelo sistema imune, que envia anticorpos para atacá-la”,
explica Medeiros.
O desfecho da história é uma doença
autoimune batizada de tireoidite de Hashimoto, a principal causa de
hipotireoidismo. Para entender essa questão, porém, é preciso fazer uma breve
viagem ao passado. Quando faltava iodo na alimentação, pululavam episódios de
uma doença séria, marcada pelo inchaço do pescoço — o bócio endêmico.
Com o intuito de remediá-la, foram criadas, a partir da década de 1940, leis obrigando a inclusão do mineral no sal de cozinha — a proporção adotada pela legislação em 1995, por exemplo, foi de40 a 60 miligramas por quilo do ingrediente.
Com o intuito de remediá-la, foram criadas, a partir da década de 1940, leis obrigando a inclusão do mineral no sal de cozinha — a proporção adotada pela legislação em 1995, por exemplo, foi de
“Mas em 1998 a quantidade máxima de iodo
pôde ser estendida a até 100 miligramas, um teor muito alto”, considera
Medeiros. O abuso foi liberado até 2003, quando as autoridades deram um passo
atrás e reduziram o limite para entre 20 e 60 miligramas.
O
problema é que, nesse meio-tempo, muita gente se refestelou de sal iodado e
acionou, sem querer, a alavanca que desgoverna a tireóide — que, às vezes,
demora um tempo até entrar em queda livre.
Hoje, no entanto, há outro dilema. “O sal tem menos iodo, mas o brasileiro ainda o consome mais do que o recomendado”, aponta o endocrinologista Hans Graf, presidente da Sociedade Latino- Americana de Tireoide.
Hoje, no entanto, há outro dilema. “O sal tem menos iodo, mas o brasileiro ainda o consome mais do que o recomendado”, aponta o endocrinologista Hans Graf, presidente da Sociedade Latino- Americana de Tireoide.
Ora,
quem despeja o conteúdo do saleiro no prato, além de ficar exposto à
hipertensão, ganha de brinde iodo em demasia. No final das contas, é a Tireóide
que entra em parafuso. Calma, ninguém está fazendo campanha para abolir de vez
o tempero. A presidente do Departamento de Tireóide da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Edna Kimura, lembra,
inclusive, que regiões do país sem acesso à versão iodada ainda sofrem com o
bócio. “A mensagem é não exagerar”, diz.
Outras hipóteses buscam justificar tanta Tireóide fora de rota. “Especula-se que agentes químicos presentes em alimentos e em produtos de limpeza possam estar relacionados a disfunções da glândula, mas nada foi comprovado”, diz Danielle Andreoni. Há quem desconfie ainda dos efeitos da poluição e até do estilo de vida — o estresse, por exemplo, daria permissão de decolagem a doenças auto imunes por trás do desequilíbrio.
Mas não são apenas as desordens hormonais que alçam voo. Um levantamento do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos revela que o tipo mais comum de tumor de tireoide avança velozmente em prevalência — e isso também ocorre no Brasil. “Uma das razões é o uso de técnicas de imagem e biópsia sofisticadas”, afirma Elaine Ron, uma das pesquisadoras que assinam o trabalho americano. “Antes, a doença muitas vezes passava despercebida e, hoje, a observação mais atenta possibilita sua detecção precoce”, avalia a professora Edna Kimura.
Mistérios ainda pairam no ar quanto à escalada desse câncer. Não há nenhuma prova cabal contra o iodo nem contra substâncias químicas espalhadas no ambiente. “Suspeitamos, inclusive, de uma influência da obesidade”, conta Elaine.
Outras hipóteses buscam justificar tanta Tireóide fora de rota. “Especula-se que agentes químicos presentes em alimentos e em produtos de limpeza possam estar relacionados a disfunções da glândula, mas nada foi comprovado”, diz Danielle Andreoni. Há quem desconfie ainda dos efeitos da poluição e até do estilo de vida — o estresse, por exemplo, daria permissão de decolagem a doenças auto imunes por trás do desequilíbrio.
Mas não são apenas as desordens hormonais que alçam voo. Um levantamento do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos revela que o tipo mais comum de tumor de tireoide avança velozmente em prevalência — e isso também ocorre no Brasil. “Uma das razões é o uso de técnicas de imagem e biópsia sofisticadas”, afirma Elaine Ron, uma das pesquisadoras que assinam o trabalho americano. “Antes, a doença muitas vezes passava despercebida e, hoje, a observação mais atenta possibilita sua detecção precoce”, avalia a professora Edna Kimura.
Mistérios ainda pairam no ar quanto à escalada desse câncer. Não há nenhuma prova cabal contra o iodo nem contra substâncias químicas espalhadas no ambiente. “Suspeitamos, inclusive, de uma influência da obesidade”, conta Elaine.
E os quilos extras não pesam apenas nos
tumores. Um estudo italiano prova que a criançada gordinha está na linha de
frente da tireoidite de Hashimoto. “O estado de inflamação típico do excesso de
peso propicia alterações na glândula”, assegura Giorgio Radetti, o autor da
pesquisa. “Felizmente, ela volta ao normal quando a criança entra em forma.” Do
contrário, é dada a largada para distúrbios que podem se perpetuar pela vida
inteira.
Depois de vislumbrar em nosso mapa tantas repercussões, já deu para perceber que a Tireóide segue aquele velho preceito de que a virtude é o meio-termo. Nem hormônio de mais nem de menos. Quando respeitada, essa fórmula assegura o desenvolvimento da criança, torna real o sonho da maternidade e garante disposição para a vida inteira. Ao longo dos anos, até os olhos podem espelhar uma Tireóide equilibrada. Um trabalho da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, mostra que os problemas na glândula catapultam a probabilidade de glaucoma, o aumento da pressão intra ocular capaz de levar à cegueira. “Tanto o hipo quanto o hipertireoidismo parecem elevar esse risco”, diz o autor do estudo, Gerald McGwin.
No entanto, muito antes de essa ameaça despontar, serão outras as queixas que conduzirão uma tireoide em pane ao endocrinologista. Cansaço crônico, depressão, arritmia... Com base nessas pistas, o médico investigará se o culpado pelos descompassos é, de fato, a glândula. As suspeitas são sempre maiores quando quem pisa no consultório pertence ao sexo feminino.
Depois de vislumbrar em nosso mapa tantas repercussões, já deu para perceber que a Tireóide segue aquele velho preceito de que a virtude é o meio-termo. Nem hormônio de mais nem de menos. Quando respeitada, essa fórmula assegura o desenvolvimento da criança, torna real o sonho da maternidade e garante disposição para a vida inteira. Ao longo dos anos, até os olhos podem espelhar uma Tireóide equilibrada. Um trabalho da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, mostra que os problemas na glândula catapultam a probabilidade de glaucoma, o aumento da pressão intra ocular capaz de levar à cegueira. “Tanto o hipo quanto o hipertireoidismo parecem elevar esse risco”, diz o autor do estudo, Gerald McGwin.
No entanto, muito antes de essa ameaça despontar, serão outras as queixas que conduzirão uma tireoide em pane ao endocrinologista. Cansaço crônico, depressão, arritmia... Com base nessas pistas, o médico investigará se o culpado pelos descompassos é, de fato, a glândula. As suspeitas são sempre maiores quando quem pisa no consultório pertence ao sexo feminino.
“As disfunções são cerca de cinco vezes mais
comuns nas mulheres”, estima Mário Vaisman. Segundo o professor Geraldo
Medeiros, além dos genes, alterações hormonais durante a gestação são
responsáveis por essa desvantagem.
Para acusar uma tireoide de preguiçosa ou agitada, entretanto, é preciso ter provas. E a primeira delas é colhida no sangue. “Dosamos os hormônios TSH e T4 com o objetivo de avaliar a função glandular”, explica a endocrinologista Roberta Villas Boas, do Hospital Nove de Julho, na capital paulista. Um ultrassom pode complementar o inquérito, mas, aí, a meta é apurar a existência de nódulos. “No hipotireoidismo, a glândula tende a ficar mais atrofiada, enquanto no hiper ela costuma aumentar de tamanho”, diferencia Roberta.
Para acusar uma tireoide de preguiçosa ou agitada, entretanto, é preciso ter provas. E a primeira delas é colhida no sangue. “Dosamos os hormônios TSH e T4 com o objetivo de avaliar a função glandular”, explica a endocrinologista Roberta Villas Boas, do Hospital Nove de Julho, na capital paulista. Um ultrassom pode complementar o inquérito, mas, aí, a meta é apurar a existência de nódulos. “No hipotireoidismo, a glândula tende a ficar mais atrofiada, enquanto no hiper ela costuma aumentar de tamanho”, diferencia Roberta.
A
cintilografia — método em que o paciente toma um contraste e é submetido a um
aparelho que fotografa a tireoide — só é solicitada hoje em situações
específicas, como no controle de tumores.
Tanto a greve como as várias horas extras que dominam as linhas de produção hormonal são remediáveis. “No hipotireoidismo, fazemos a reposição com uma versão sintética do hormônio T4, que, dentro do organismo, é transformado em T3 para agir nas células”, conta Danielle Andreoni.
Tanto a greve como as várias horas extras que dominam as linhas de produção hormonal são remediáveis. “No hipotireoidismo, fazemos a reposição com uma versão sintética do hormônio T4, que, dentro do organismo, é transformado em T3 para agir nas células”, conta Danielle Andreoni.
É
preciso tomar um comprimido em jejum cuja dose varia de acordo com a
necessidade da bendita substância — aliás, a grande dificuldade, em casos
assim, é ajustar a tal dose.
Do outro lado, o hipertireoidismo é contra atacado com drogas de uso oral que bloqueiam a liberação desmedida de hormônios. O tratamento não é tão simples por causa dos seus efeitos colaterais, como problemas de pele e estômago. Alguns casos, em que já se visualiza um considerável inchaço no pescoço, pedem cirurgia e outros são balanceados com uma terapia à base de iodo radioativo.
A boa-nova é que as táticas disponíveis podem exigir paciência, mas permitem que a tireóide entre na linha — e, com isso, sejam silenciadas aquelas inúmeras manifestações a distância. “Uma vez que o tratamento obtém sucesso, tudo volta ao normal”, tranquiliza Roberta. Daí, a glândula recupera o manche e, sem turbulências à vista, embarca o corpo inteiro rumo ao equilíbrio.
Do outro lado, o hipertireoidismo é contra atacado com drogas de uso oral que bloqueiam a liberação desmedida de hormônios. O tratamento não é tão simples por causa dos seus efeitos colaterais, como problemas de pele e estômago. Alguns casos, em que já se visualiza um considerável inchaço no pescoço, pedem cirurgia e outros são balanceados com uma terapia à base de iodo radioativo.
A boa-nova é que as táticas disponíveis podem exigir paciência, mas permitem que a tireóide entre na linha — e, com isso, sejam silenciadas aquelas inúmeras manifestações a distância. “Uma vez que o tratamento obtém sucesso, tudo volta ao normal”, tranquiliza Roberta. Daí, a glândula recupera o manche e, sem turbulências à vista, embarca o corpo inteiro rumo ao equilíbrio.
Ela está no comando
Seu nome tem origem grega e significa “em forma de escudo”. Localizada logo abaixo do gogó, a tireoide mede cerca de5 centímetros de
diâmetro e trabalha sob influência de outra glândula.
Seu nome tem origem grega e significa “em forma de escudo”. Localizada logo abaixo do gogó, a tireoide mede cerca de
“A hipófise, que fica no cérebro, produz
TSH, um hormônio que por sua vez estimula a tireoide a fabricar os hormônios T3
e T4”, explica a endocrinologista Danielle Andreoni, da Universidade Federal de
São Paulo. Embora o corpo estoque T4, é o T3 quem efetivamente bota a mão na
massa. “Ele atua no metabolismo celular de praticamente todos os órgãos e
tecidos”, diz Mário Vaisman, diretor da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Em outras palavras, dita
o ritmo de funcionamento das células do fígado, do cérebro, do coração...
Revista Saúde.
Dr. Arthur Frazão (Médico)
Os sintomas de tireóide são:
Quando está aumentada, hipertireoidismo:
Agitação, pessoa muito ativa, que tem dificuldades em
engordar, taquicardia.
Quando está diminuída, hipotireoidismo:
Cansaço, desânimo, facilidade em engordar, aumento dos
pelos corporais, acne, ciclo menstrual irregular, queda de cabelo.
veja também tiroide e depressão:
Muito bom a explicação
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