A sombra e a semente da felicidade em nosso Jardim.
Estudando sobre a sombra encontrei este
texto budista e achei muito interessante e complexo. Eu fique a pensar que há pessoas que entram em
nossa mente e despertam
a semente do ódio, da miséria, da tristeza que estava adormecida, nos levam a girar na roda do karma ao seu
lado e assim, de um momento para o outro nossa vida muda.
Quem dirige o nosso barco nos leva para
o seu mundo para o seu Karma ou dharma. Aquele que vive ao nosso lado, nos
envolve no seu mundo, no seu karma, no seu dharma e o cenário da sua vida se
mistura com o cenário da nossa vida.
O inferno somos nós.
O inferno é o estar sozinho,
Tudo o mais são, nele, projeções.
Não há de onde escapar, nem para onde
fugir.
Sempre estamos sós.
T. S.
Eliot, The Cockail Party
Quando um homem está atormentado,
Como encontrará a paz
Senão pela paciência, até que as águas
serenem?
Como a vida do homem seguirá o seu curso
Se ele não a deixar fluir?
Tao Te Ching, 15
“A Mente Universal transcende todas as
individualizações e limites. A Mente Universal é totalmente pura na sua
natureza essencial, permanecendo inalterada e livre de equívocos da
impermanência, imperturbável pelo egoísmo, serena nas honrarias, desejos e
aversões.”
Intermediária entre a consciência
universal e a intelectual-individual está a consciência espiritual (manas), que
participa das duas. Ela representa o elemento estabilizador da mente, o ponto
central de equilíbrio, que mantém a coesão do seu conteúdo por ser o centro de
referência.
“A mente intuitiva (manas) é una com a Mente
Universal por causa da sua participação
na Inteligência Transcendental, e é una com o sistema mental (os cinco sentidos
e o intelecto) pela sua compreensão do conhecimento diferenciado. A mente
intuitiva não tem corpo próprio nem marcas pelas quais pode ser diferenciada. A
Mente Universal é sua causa e suporte, mas ela evoluiu com noção de um ego e o
que lhe pertence, ao qual se apega e reflete”. (1)
No Texto de Ryotan Tokuda Igarashi há alguns esclarecimentos sobre o tema.
P. — Entendo como é que se vai do
passado ao futuro, mas será que não se vai do futuro ao presente? Mestre Dogen
não fala Isso?
R. — O Yuishíkidiz isso. Quando você muda a consciência do presente, a
experiência do passado também muda. Por exemplo, na minha época de treinamento no
mosteiro, há vinte anos, eu sofria muito.
Mas hoje entendo e agradeço aquelas
experiências dolorosas. Para a transformação da consciência interna, valeu a
pena o esforço e as experiências sofridas e dolorosas. É assim a teoria de
transformar a consciência de Alaya para ganhar a sabedoria.
Agora vamos ver a sétima consciência,
Manas. É o egocentrismo e está constantemente funcionando. A sexta consciência
também possui a idéia de ego, mas quando estamos dormindo ou quando estamos em
coma, ela não funciona.
Mas a sétima consciência, Manas,
funciona constantemente, mesmo quando dormimos e mesmo em estado de coma. Ela
funciona formando a idéia de identidade do ego, pensando que o eu existe para
sempre e se apegando ao mundo material.
É
por esta razão que, se você quebrar a cerâmica contra a qual está encostado,
pode sofrer muito. É como um gatinho que estava doente, que sofre e morre.
Neste nível de consciência, com qualquer mudança se sofre.
P. — Entendo como é que se vai do
passado ao futuro, mas será que não se vai do futuro ao presente? Mestre Dogen
não fala Isso?
A aula de hoje será sobre a consciência
de Manas e a inconsciência de Alaya. Com a noção de subconsciência, os budistas
descobriram conjuntamente as consciências de Manas e de Alaya A sétima
consciência de Manas é a consciência do egocentrismo. A oitava, Alaya é o
depósito de nossas experiências passadas.
Em primeiro lugar, a consciência de Alaya
é a origem de todas as existências. Há olho e a função do olho, e eles surgiram
da consciência de Alaya. E não somente isso, mas esse corpo, esse ambiente, a
natureza, a casa, a montanha, tudo vem da consciência do Alaya.
Por isto é que se chama Alaya Vijnana, consciência de depósito. Com a
palavra Alaya podemos nos lembrar de Himalaya. Hima significa neve, então Himalaya, é onde se deposita ou guarda a
neve.
A
palavra Alaya quer dizer depósito. É onde todas as experiências e nascimentos
estão depositados, como uma semente que amadurece com o tempo, que cria outra
semente e a deposita quando encontra condições favoráveis, como solo, água,
terra e adubos.
Então, esta semente brota. As sementes boas
dão frutos bons. Nesta teoria da Alaya Vijnana,
a pessoa está vendo aquilo que ela criou como substância e objeto e está
depositando o Karma: atos bons e ruins, como semente.
O treinamento do budismo é transformar
todas as sementes ruins em sementes boas. Precisa trabalhar cem, mil, milhares
de vezes, e se conseguimos transformar esta consciência de Alaya em sementes
boas, então a sua existência, espiritual e física, se torna totalmente boa.
Não somente o corpo e o espírito se tornam
bons como Alaya cria todos os fenômenos do mundo e assim todo mundo se torna
bom. Nós nos tornamos Buda e vemos aquele mundo que é de Buda. Os mundos
inferiores, como o inferno, animais e demônios famintos, e os estados
inferiores de consciência desaparecem. É muito importante realmente ver as
coisas deste mundo, o corpo e a natureza, a partir da consciência de Alaya.
A Alaya cria todas as consciências (as
sete consciências), cria os corpos e o meio ambiente. Tudo é criado pela Alaya.
A característica desta consciência de Alaya é que, primeiramente, ela guarda
todas as ações do Karma Passado e todas as experiências passadas estão ali
guardados como uma semente.
Esta semente, ao mesmo tempo que ela é o
resultando do Karma é também a possibilidade de se criar uma ação nova.
Mas o Karma não é destino. Podemos mudar
o destino com a nossa prática porque tudo está depositado e registrado dentro
da Alaya e, desse modo, o que está depositado — o mundo da pessoa — começa a
mudar e a personalidade também.
É
como o perfume: o conhecimento, a cultura e a experiência têm o perfume de cada
personalidade, depende do que a pessoa está guardando em sua consciência. Essa
consciência e a percepção do mundo externo iniciam uma nova experiência e essa
nova experiência imediatamente se deposita na subconsciência da Alaya.
Esta semente depositada se transforma em uma
outra semente e esta cria uma outra experiência condicionada pelas vivências
passadas.
Assim, a pessoa não pode ver o mundo
além do seu limite. Por isso o treinamento consiste em aprender as coisas, os
conhecimentos e as sabedorias para poder sair deste círculo.
Quando falo em Psicologia Budista,
sempre conto a história da padaria porque ela ilustra muito bem o que quero
dizer. Havia um monge budista ocupando um templo, mas ele precisava viajar a
uma cidade longínqua.
Então, ele pediu ao vizinho para que cuidasse
do templo na sua ausência. Esse vizinho era dono da padaria da localidade, e,
como é natural, sendo o dono da padaria não sabia nada sobre as doutrinas
budistas. Mas aceitou tomar conta do templo com muita boa vontade.
Logo depois da partida do dono do
templo, um monge viajante chegou à aldeia. Naquela época existia entre os
monges a tradição do debate verbal em relação aos seus entendimentos sobre o
budismo. Quem ganhasse o debate ficava com o templo e quem perdesse tinha de ir
embora. Chamava-se a isto uma batalha do Dham’za. Hoje, este costume ainda
existe. Com muito cerimonial mas ainda existe.
Bem, o sujeito ficou muito preocupado
com a notícia da chegada do monge viajante, já que ele era apenas o dono da
padaria. Mas o chefe da aldeia veio até ele e disse: “Você faz o seguinte:
raspa a cabeça, coloca a roupa de monge e depois se senta contra a parede como
fazem os monges. Você tem que se conscientizar de que está treinando o
silêncio. Assim, não precisa falar. Se você não falar, nada será revelado.”
“Ah, está combinado”, disse o dono da
padaria. Assim ele fez e ficou esperando. O monge viajante chegou, começou a
perguntar, mas o monge da padaria estava sentado, em silêncio.
“Ah”, pensou o viajante, “ele está fazendo o
treinamento do silêncio. Não pode quebrar o treinamento e isto tem que ser
respeitado. Mas já que estou aqui com tempo. vou tentar me comunicar com ele
através de gestos”. E fez um gesto querendo dizer: “como é que está o seu
coração?”
O da padaria respondeu com outro gesto:
“o meu coração é grande como o oceano..”
“Ah”, entendeu o viajante, ele respondeu “grande como o oceano, como o universo
inteiro”. Universo inteiro significa dez direções, os pontos cardeais, e mais o
meio, e em cima e em baixo.
E fez outro gesto querendo dizer: “e
para viver neste mundo, nas dez direções, como é que eu posso viver?”“São
importantes”, respondeu, gesticulando, o monge da padaria, “os cinco preceitos:
não matar, não roubar, etc.”
O
monge viajante fez outro gesto: “Então, o que são os Três Tesouros, Buda,
Dharma, e Sangha.” O dono da padaria respondeu, com gestos: “Está muito perto
de você, não pode procurar longe. Está aqui”. Com esta resposta o monge
viajante se assustou: “Ah, está certo, ele é um grande monge”, pensou. E foi
embora.
Logo depois, o chefe da aldeia chegou e
perguntou ao dono da padaria: “O que foi que aconteceu que aquele monge foi
embora2”“O monge viajante era muito doido, não é”? perguntou o dono da padaria.
“Em primeiro lugar perguntou, com gestos, pelo pão da minha padaria.
Por que é que era tão pequeno. Eu respondi com
gestos, querendo dizer: Não, é muito grande. Ele então me perguntou: Quando
custa o pão? Gesticulei querendo dizer. Cinquenta centavos. Aí ele perguntou:
Abaixa para trinta centavos? Eu respondi com gestos: De jeito nenhum. E ele foi
embora”.
Esta história é muito engraçada, mas é
exatamente isto o que está acontecendo no nosso mundo. Estamos vivendo dentro
da nossa consciência. O monge viajante está vivendo dentro das teorias
budistas, do treinamento etc., mas o dono da padaria não, ele está é preocupado
com a qualidade do pão, quanto é que ele vai ganhar. É assim que cada um vive o
seu mundo.
Seu mundo significa aquilo que cada um
está depositando dentro da sua consciência. Cada um tem os seus Karmas,
particulares e coletivos.
Dentro de uma só pessoa estão mais de
trinta bilhões de anos passados e as experiências estão depositadas como
sementes. Estas se- mentes dependem de condições, e quando existem estas
condições, elas brotam e a árvore aparece.
Por exemplo, o marido arrumou uma
amante. Na sua esposa, uma senhora bonita, jovem, rica, inteligente e educada,
surge um enorme ciúme e ódio. No primeiro momento, ela pensa: “Que vergonha,
dentro de mim havia esta consciência suja.” Mas logo depois aquele ódio já
tomou conta dela totalmente, ela já está dentro do estado de diabo. Aí, a sua
fisionomia muda imediatamente.
O que estou querendo dizer é que a
pessoa não sabe o que é que está guardando dentro da subconsciência.
Aparentemente, é uma pessoa rica e bonita, inteligente e culta, mas em
condições adversas aquela semente de ódio pode brotar. Aí o mundo muda.
A consciência de Alaya tem três
características: a primeira é depositar as experiências do passado.
A
segunda: com esse depósito o mundo da pessoa muda e a pessoa muda.
Terceira e mais importante: com isso nós
nos enganamos pensando que a consciência de Alaya é um objeto do ego. Pensamos
que é a substância do ego através da sétima consciência, porque a Manas Vijnana
é a idéia do egocentrismo.
A oitava consciência é a consciência de
depósito, enquanto que a sétima se chama consciência contaminada. Vivemos aqui
e aquilo que já está depositado em nossa consciência nesse momento não pode ser
alterado; não tem mais jeito.
Mas o que eu registrar ou depositar na
subconsciência nesse momento presente é de minha responsabilidade. A limitação
da percepção do mundo depende da personalidade, cultura, educação,
conhecimento, tradição ou ponto de vista de valores e preconceitos. A nossa
percepção está limitada ao que recebemos, ou com que fomos criados.
Dependendo do que eu depositar, o mundo
externo começa a mudar. Com o que depositamos, às vezes vemos o que não existe.
Isto acontece quando, por exemplo, estamos lendo o jornal. Há um tipo de prova
para saber se você já está velho ou não. Se, ao abrir o jornal, em primeiro lugar
você quer ver quem morreu, uma nota de falecimento ou uma coisa preta com uma
cruz, dizendo:
“Morreu com 78 anos “Eu tenho 77” , pensa o idoso que lê o
jornal. Não somente os velhos morrem, mas os jovens não ligam para isso, a não
ser que se trate de uma pessoa íntima, um parente ou amigo que tenha morrido.
Dependendo do nosso interesse, do nosso foco ou experiência, começamos,
portanto, a ver as coisas.
A pessoa vê as coisas mas não as vê. As
coisas não existem mas às vezes as vemos. É algo que está acontecendo
constantemente. Por esta razão, quando os casais namoram e se casam pode dar
confusão. Por quê? Muito simples. O que eles viveram separadamente, o ambiente,
a educação, os costumes de família, tudo é diferente.
Para a esposa, a salada tem que ser aquela
salada do papai e da mamãe, mas para o marido a salada tem que ser um tabule,
aquela feita pelo tio árabe ou russo.
“Vamos preparar uma salada hoje à noite”,
combinam eles. “Claro, eu vou preparar”, diz a esposa. O marido se entusiasma
mas quando vê a salada que sua esposa fez, bem, a idéia dele era totalmente
outra.
Aí ele diz: “Ah, eu não quero isso”.
“Mas eu fiz com todo o carinho,” diz a esposa. “Isto não é salada, é porcaria”.
E aí começa a briga.
Assim, vemos que a palavra “salada” tem
no seu bojo uma armadilha. Cada um pensa na salada à sua maneira. Este é um
limite das palavras humanas. Pelo menos podemos saber que cada um tem o seu
limite de acordo com suas experiências.
Não é somente o meu ponto-de-vista que
está certo. Nem sou eu quem está com a verdade; e nem sempre o outro é quem
está errado. Se a pessoa trocar de posição e pensar como outro está pensando,
vai entender as coisas imediatamente. O marido tem toda a razão.
E
ela, a esposa, também tem, é claro. São diferentes, mas dá para chegar a um
acordo, sem brigar. Este é um dos pontos que o Yuishiki nos ensina.
Cada um está armazenando sua experiência
e Karma, ou seja, cada um está vivendo no mundo que ele próprio criou com este
Karma que está acumulando. Então, você pode achar que não tem jeito de mudar —
mas tem.
Neste momento, aquilo que você está
observando, aquilo que você está estudando, o que está pensando, é o que vai
ser guardado, e com isso o mundo todo começa a mudar. Se realmente
transformamos toda a nossa consciência em uma coisa pura, o mundo inteiro muda
totalmente.
A oitava consciência tem três nomes: Alaya, Vpaka, Adana, mas depende do
estado em que a pessoa estiver operando dentro dela.
Alaya é o primeiro nome da oitava
consciência. Indica aquele estado em que se está ainda apegado ou
impressionado, com a sétima consciência, a da identidade do ego, a Manas
Vijnana ou o egocentrismo.
Por isso, até chegar ao estado do Bodhisattva,
a idéia de ego prossegue como lembrança porque não entrou profundamente ainda
na oitava consciência, ainda há lembranças dele na sétima consciência.
Em segundo lugar, a Vipaka. Este estado
significa que as coisas, ruins ou boas, são depositadas dentro da oitava
consciência. Mas enquanto estão guardadas dentro da oitava consciência de Alaya
elas são neutras. Esta semente não é boa nem ela é neutra. Havendo condições
ela brota e ai pode dar a visão boa ou má.
A boa semente guardada é neutra, mas quando brota faz
coisas boas. Isto quer dizer duas coisas. Mesmo que a pessoa esteja fazendo
coisas boas, não precisa ficar vaidosa, porque na verdade sua ação é neutra.
Mesmo fazendo coisas ruins, também a ação é neutra, o que significa ainda há
possibilidade de melhorar. Há a possibilidade c salvação.
E assim, a semente má e a semente boa
podem se transformar em uma outra coisa. O processo de treinamento budista é
isso, é como um glóbulo branco combatendo as doenças e matando os micróbios.
Devemos trabalhar para a limpeza total,
para a iluminação completa do ego, pois aí o mundo inteiro fica totalmente puro
e perfeito e o exterior também fica totalmente puro e limpo.
Esta consciência se chama Adana, e já é o
estado de Buda. Chegou-se ao estado de Buda e Adana é o terceiro nome da oitava
consciência.
Muita gente fica preocupada em ganhar a
Iluminação e isto soa como uma brincadeira, não é? O treinamento não é isto.
Não é tão fácil assim. Temos de trabalhar bem dentro de nós.
A pessoa vive neste mundo sem saber o
que faz. Jesus Cristo disse: “Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que
fazem.” Sempre existe a preocupação com alguém que está fazendo coisas ruins.
Alguns reclamam, mas a pessoa quando não sabe o que está fazendo não sabe se
está fazendo o mal ou não. Ela não deve ser culpada. Tudo bem, ela pode não ser
culpada, mas o Karma está criado e a responsabilidade é inteiramente da pessoa.
A ignorância é isso: é não saber as
coisas.
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