domingo, 8 de setembro de 2013

A simbologia Divina - Alquimia, gnósticos, psicologia.




A simbologia Divina - Alquimia, gnósticos, psicologia.

Meditar sobre a divindade ou sobre o universo Divino -  Deus Pai/Mãe que  tem muitos nomes, muitas faces em todos os tempos , em todos os povos as religiões, é ao mesmo tempo a mais recente e a mais antiga de todas as tradições da contemplação. A  realidade psicológica ou existencial é importante para a saúde da alma. Deus - o Self  está na alma, no Espírito   e não no exterior, assim é prejudicial para a saúde psíquica negá-lo.

Raisa Cavalcanti diz que “O Self, na concepção junguiana, é o princípio numinoso, transcendente e imutável, presente em todas as coisas. Os cabalistas falam de Tav, a marca de Shekinah, ou da presença divina no mundo.

Os alquimistas chamaram de Signatura Rerum, a assinatura do eterno nas coisas. O Self é o Eu superior, ou o Eu maior, a centelha divina no homem de que falam OS sistemas místicos. Nesse sentido, a visão de Jung se aproxima do budismo, da cabala, dos gnósticos e, também, da visão de alguns físicos quânticos.  

Na sua busca do conhecimento e contribuição de outras fontes e tradições, Jung encontrou no gnosticismo e no trabalho dos alquimistas um paralelo simbólico com o processo de individuação e considerou que tanto nos gnósticos quanto na alquimia medieval estavam contidas as raízes espirituais do Ocidente.

 Ele se dedicou profundamente ao estudo do gnosticismo durante doze anos e chegou à conclusão de que havia um liame entre a gnose, a alquimia e a psicologia analítica; por isso, o gnosticismo poderia servir como ponte para uma revalorização da tradição cristã.

No seu livro Sonhos, memórias e reflexões,Jung diz: “Vi logo que a psicologia analítica concordava singularmente com a alquimia. As experiências dos alquimistas eram minhas experiências, e o mundo deles era, num certo sentido, o meu.


Para mim, isso foi naturalmente uma descoberta ideal, uma vez que percebi a conexão histórica da psicologia do inconsciente. Esta teria agora uma base histórica. A possibilidade de comparação com a alquimia, da mesma forma que a sua continuidade espiritual, remontando até a gnose, conferia-lhe substância.

 Estudando os velhos textos, percebi que tudo encontrava o seu lugar: o mundo das imagens, o material empírico que colecionara na minha prática, assim como as conclusões que disso havia tirado”.

Para Jung, o gnosticismo, era a expressão mitológica de uma experiência interior que tinha como finalidade a busca da plenitude do Ser.

Os gnósticos se autodenominavam como aqueles que possuíam a gnose ou o conhecimento. E que este não era racional, mas o conhecimento direto, pessoal e absoluto das verdades da existência. O conhecimento intuitivo que emerge do coração, a “Gnosis Kardia”.

Os gnósticos transformavam as suas experiências místicas em mito. C. Kerényi, o grande mitólogo, no livro que escreveu com Jung, Ensaios sobre uma ciência da mitologia, também afirma que os gnósticos eram místicos que se especializariam na mitologização da experiência mística.

 Jung viu nos símbolos da mitologia gnóstica paralelos psicológicos e arquetípicos com a alquimia e que estavam presentes na psique humana. E descobriu semelhanças incríveis entre as imagens arquetípicas dos gnósticos e dos alquimistas e as suas próprias imagens oníricas.

 O mesmo processo de transformação, descrito pelos gnósticos como a viagem da alma através das regiões eônicas, era descrito pelos alquimistas como a transformação da matéria-prima negra no ouro reluzente do opus alquímico.

Jung interessou-se pelas descobertas dos documentos de Nag Hammadi, embora ele já conhecesse alguns códices gnósticos antes dessa descoberta. Ele reconheceu nas diversas manifestações da mitologia gnóstica as mesmas imagens arquetípicas do processo de....

individuação, que estão presentes na psique humana, em todas as épocas e lugares.
Os evangelhos da Biblioteca de Nag Hammadi falam dos ensinamentos secretos de Cristo revelados aos seus discípulos depois de sua ressurreição e que foram anotados e escondidos por eles.
A concepção de Jung sobre a separação do ego do Self e sua jornada de volta para casa, ou seja, a busca da totalidade, que chamou de processo de individuação, tem similaridade e relação com o mito gnóstico “A canção da pérola”. Esse mito descreve um estado de totalidade original que é rompido pela necessidade da alma de seguir um caminho de realização própria. Nessa jornada individual a alma corre o risco de perder-se. Mas, no final, ela reconquista a totalidade perdida num outro nível. Muitos dos elementos desse mito falam simbolicamente da separação do ego do Self, da realização no mundo e, depois, do processo de reencontro com o Self.

Os textos gnósticos falam frequentemente da junção de opostos, a finalidade do processo de individuação. A experiência da Câmara Nupcial se refere simbolicamente ao casamento espiritual. Vários textos afirmam que a Câmara Nupcial existe para refazer a unidade primordial.

 Como diz o Evangelho de Felipe. “Também o feminino é reunido ao seu consorte na Câmara Nupcial. E aqueles que foram reunidos na Câmara Nupcial jamais serão separados novamente.”11

E o Cristo gnóstico, a esse respeito, diz: “... Quando fizerdes de dois um, e quando fizerdes o interior como o exterior e o exterior como o interior e o acima como o abaixo, e quando transformades o masculino e o feminino em uma única unidade, para que o macho não seja só macho e a fêmea não seja só fêmea, quando criardes olhos no lugar de um olho, e uma mão no lugar de uma mão e um pé no lugar de um pé, e também uma imagem no lugar de uma imagem, então certamente entrareis no reino”.12

 Os gnósticos viam no padrão criativo da conjunção de opostos a possibilidade de libertação do homem do conflito da dualidade e a criação de uma consciência nova e superior.

Jung dizia que, como os gnósticos,poderíamos buscar o sentido de Deus como uma presença interior direta e transformadora. Gnose quer dizer conhecimento; mais precisamente, autoconhecimento, conhecimento intuitivo, baseado na visão interior, na contemplação e na meditação.

 Os gnósticos acreditavam que, por meio desse conhecimento, o homem podia descobrir o espírito divino preso em seu interior. Um dos propósitos do gnosticismo era a libertação da centelha divina presa na matéria.

Para os gnósticos, o autoconhecimento e o conhecimento de Deus eram a mesma coisa. E, para obter esse conhecimento, era necessário abandonar o falso mundo criado pela mente. Jung reafirmou o mesmo, em linguagem psicológica, ao declarar que, para reconhecer o Self, o ego deveria libertar-se de sua falsa visão e objetivos, de sua própria alienação do Self.

No início de sua carreira (1916)Jung produziu um tratado poético chamado Os sete sermões aos mortos, o qual nunca assinou e que foi mais tarde considerado inteiramente de cunho gnóstico. Esse trabalho foi distribuído entre um pequeno círculo íntimo de amigos de Jung.

Muitos junguianos consideram esse trabalho como a fonte e a origem da obra de Jung. Nele aparece uma das primeiras afirmações de Jung sobre a individuação.

Jung viu na alquimia a herança da tradição gnóstica do conhecimento e percebeu que os gnósticos e os alquimistas compartilhavam da mesma busca. O processo de transformação, simbolizado pelo gnosticismo como a viagem da alma pelas regiões eônicas, era descrito por Paracelso como a transformação da “matéria-prima negra” em ouro alquímico.

Para Jung, o gnóstico, o alquimista no seu laboratório e o analisando na sua sessão passam por experiências psíquicas semelhantes, na busca da totalidade, do opus alquímico, da pedra filosofal.

O paciente no seu trabalho de transformação psíquica busca, como os gnósticos e os alquimistas, libertar o Deus preso na matéria, busca propiciar a emergência do Self, preso na matéria egóica.

 Quando o ego abandona a sua onipotência (a maldição dos arcontes, segundo os gnósticos) e reconhece o Self, o seu ouro interior começa a brilhar.

Na cabala, o Tzélem corresponde à centelha, à imagem divina presente em todos os homens. O pleroma dos gnósticos é a plenitude eterna e infinita, da qual nos originamos e para onde retornaremos.

 O físico Niels Bohr tomou emprestado de Immanuel Kant a idéia do ego transcendente como o “pano de fundo da consciência” e que mantém uma relação complementar com esta, e os dois estão sempre presentes e entrelaçados. O Self é o arquétipo do homem eterno, o Anthropos, o Homo Totus, o homem divino dos gnósticos.

Jung considerava o conceito do Self de difícil apreensão. Para tomar mais acessível o seu entendimento, procurou fazer aproximações com outras tradições do conhecimento. No seu livro Aion, ele descreve o Self como a imagem de Deus projetada nas profundezas da alma, a imagem da totalidade gravada no inconsciente.

 Na alquimia, ele demonstrou que o Self está representado na “Opus Alquímica”, o trabalho final dos alquimistas. Em Psicologia e Alquimia, ele reafirmou que os símbolos quaternários da mandala mostravam “o deus dentro da psique”.

 No taoísmo, ele mostrou o Self representado como a Flor de Ouro. No hinduísmo, como a Semente Dourada. Jung afirmou que o símbolo do Self e o símbolo da imagem de Deus no homem, são na verdade a mesma coisa.

Ele mostrou, com grande profundidade, como essa imagem está presente na psique humana e aparece representada nas mais diversas tradições. Para Jung, as antigas tradições sagradas são repositórios dos segredos da alma, e este inigualável conhecimento manifesta-se em grandes imagens simbólicas.

Nos seus escritos, Jung via Cristo como um símbolo do Self, que reconcilia os pares de opostos, divino/humano, espírito/corpo. Ele sempre atribuiu um grande valor psicológico e espiritual ao símbolo de Cristo como a expressão unificadora e curadora do Self.

 E reconheceu no Cristo o maior e o último representante simbólico d arquétipo do Self. E viu na redenção a expressão religiosa de individuação.

Jung concebe o Self como a quintessência dos arquétipos, o princípio organizador e diretor interior, a representação da divindade interior que guia todo o desenvolvimento do ego, pois contém sementes do destino do individuo.

 Segundo Jung, o Self é: “o potencial para a integração da personalidade inteira”. O Self individual a centelha do Self universal ou Deus. E corresponde à verdadeira individualidade, da qual a individualidade do ego seria um reflexo.

 O Self é a totalidade numinosa da psique, o verdadeiro centro da psique, e o regente da função transcendente e espiritual do homem.

Para Jung, a religiosidade do homem não era, como explicava Freud, uma expressão de sentimento de desamparo infantil ou sublimação de outros sentimentos sexuais, mas a função inerente natureza humana, mobilizada pelo Self e que podia estar consciente ou reprimida.

 O impulso espiritual era a expressão da psique humana e do seu anseio pelo encontro com a Fonte do Ser. A potencialidade espiritual humana contém um impulso inerente para a plenitude e expressa por meio de símbolos.

Esses símbolos se originam no Self e aparecem, principalmente em sonhos, visões e estados alterados de consciência, mostrando um caminho de desenvolvimento espiritual ou psicológico. Jung via necessidade do autoconhecimento como espiritual.

 O desejo de autoconhecimento era tanto psicológico quanto espiritual. Para Jung o desenvolvimento da espiritualidade tinha grande importância n processo evolutivo e na autotransformação. Ele viu na busca de autoconhecimento um significado espiritual implícito e, mais tarde perseguiu esse propósito de forma clara e determinada.

O Universo como entidade maternal é uma noção comum a muitos caminhos espirituais relacionados à Deusa. Os católicos rezam para Maria, os egípcios para Ísis e os nativos norte-americanos para a Grande Mãe, mas todos a vêem como uma forca infinitamente criativa e protetora, que ama Sua criação.

Muito antes das tribos patriarcais de Abraão, mulheres e homens sentiam a presença da Deusa como parte de sua vida guiando-os e protegendo-os como uma mãe protege seus filhos.

Hoje, as pessoas a estão redescobrindo. Nos Estados Unidos houve uma explosão de interesse pela Deusa, que resultou em retiros, workshops e serviços de adoração em quase todas as cidades, durante todo o ano. Há dezenas de livros sobre a redescoberta da Deusa, além de documentários em vídeo que exploram suas raízes.

Jung mostrou que o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento psicológico são a mesma coisa e fazem parte do mesmo processo. E que um não pode prescindir do outro pois, do contrário, pode-se cair em alienação e fuga.

Não existe desenvolvimento espiritual sem o correspondente desenvolvimento psicológico. E os dois caminhos levam ao desenvolvimento do sentido ético na vida.

Jung estudou profundamente os sistemas místicos tanto do Oriente quanto do Ocidente, e descobriu que todos eles descrevem o caminho do autoconhecimento como o que leva do material ao espiritual.

 O processo psicológico conduz ao espiritual, é a sua via de acesso, e os dois caminhos estão interligados. Sem esta condição, o que se tem é um processo espiritual estereotipado, alienado e dissociado da vida. Autoconhecimento e espiritualidade caminham juntos.

Jung sempre concebeu o seu trabalho científico como uma expressão de seu desenvolvimento interior. O seu comprometimento com os conteúdos do inconsciente, do Self, o levava, frequentemente, a provocar transformações na sua vida e na sua obra.

 Ele foi além das concepções terapêuticas de sua época, e deslocou a preocupação excessiva com a psicopatologia e com os sintomas para a busca da realização do aspecto espiritual.

Os sintomas e a doença eram importantes na medida em que constituíam entraves para o desenvolvimento e para a realização da vida criativa e espiritual. Por isso, Jung pôde compreender a doença como um caminho, como um fator mobilizador para o autodesenvolvimento.

Para Jung, o papel dos símbolos arquetípicos religiosos era dar significação à vida do homem e ligá-lo à realidade transcendente do Self, da qual faz parte.

Ele defendeu a importância das experiências transcendentais ou espirituais para a saúde mental, pois a falta de consciência espiritual aliena o homem do Self e do significado e propósito maior da vida. A crença num processo evolutivo que também é espiritual torna o homem mais responsável pelo seu próprio desenvolvimento.

Jung via o chamado “mal do século”, a depressão, a infelicidade, o embotamento, a automatização e a alienação da natureza e da vida, como a perda do significado espiritual que ligava o homem a uma realidade maior e transcendente.

 Ele afirmou que o materialismo e o racionalismo contribuíram para a negação do lado transcendente da psique e a alienação de suas raízes mais profundas.

Por isso, Jung incluiu na sua meta terapêutica o resgate do sentido espiritual perdido, pois só assim seria possível a busca do sentimento de plenitude, de totalidade e de pertencer a uma realidade transcendente que só a ligação com o Self pode dar, a experiência do processo de individuação.

A plena realização e evolução do ser humano, segundo Jung, estaria em alcançar o sentimento de totalidade pela consciência de ser parte da realidade maior do Self e como indivíduo, ser um veículo para a expressão das inúmeras possibilidades de sua manifestação.

 A identificação com o Self cura a ferida da castração, da incompletude e da falta e os sentimentos de baixa auto-estima. E retira do ego toda a ilusão de buscar, neuroticamente, a compensação para os sentimentos de inferioridade.

Jung descreveu o desenvolvimento humano como uma jornada que começa com a saída do estado de totalidade indiferenciada, de fusão com o Self. No início, o ego vive num estado de identidade com a psique arquetípica, com o Self.

 Mas, para obter a consciência pessoal, o ego deve deixar essa matriz primordial e iniciar a sua jornada como herói para, depois, retornar para casa. Sem essa separação, não pode haver individualidade, e sem individualidade, não pode haver individuação.

Nesse processo, o ego se diferencia do Self e nasce como entidade autônoma. É estabelecida a discriminação entre o eu e o não-eu, o que pode ser traduzido, psicologicamente, como a saída da unidade regressiva mãe-criança, a saída desse estado de construção do sentimento de individualidade e independência. Com a separação do ego do Self, a consciência tende a se consolidar numa estrutura temporal, que se sente limitada e separada.

O homem, após trilhar o caminho de construção da individualidade, da consciência pessoal, deve iniciar o seu percurso em direção à busca da totalidade, ao reconhecimento da sua inter-relação com todas as coisas e à sua identificação com a realidade do Self.

Essa busca da totalidade, da união e identidade com a realidade transcendente do Self e do exercício criativo da individualidade a serviço do Self, Jung chamou de processo de individuação, a doutrina central de sua psicologia.

O processo de individuação é o tornar-se inteiro e uno que leva à experiência do divino e do sagrado na dimensão simbólica da vida. Na individuação vivencia-se a reconciliação dos opostos — ego e Self, masculino e feminino, anima e animus, introversão e extroversão, matéria e espírito.
 A união dos opostos no interior da psique que Jung chamou de “casamento sagrado” — leva a uma mudança radical. O Principium Individuationis, inerente à natureza humana, impele o homem a buscar a evolução, a totalidade e a ligação com Deus.

A finalidade da individuação para Jung é a androginia psíquica, a união do masculino com o feminino, a integração na unidade primordial, anterior à criação da consciência da individualidade.

 Por meio do processo de individuação, que envolve a busca contínua do autoconhecimento, do conhecimento da vida e da realidade divina, da junção de opostos, o homem pode fazer o seu caminho consciente de volta para casa, para a totalidade.

Porque a pessoa que se tornou unida, que se tomou una, é capaz de entender a verdadeira origem do seu ser e assim pode voltar para casa, O processo de autoconhecimento sempre restabelece o eixo que liga o ego ao Self.

Essa busca da unidade é não-regressiva, ela só pode ser alcançada depois da construção da individualidade, do autoconhecimento. Nessa busca da unidade e totalidade não é abolida a noção de individualidade  e de autonomia.

O processo de individuação exige que o indivíduo substitua os valores coletivos por valores individuais e que mantenha a liberdade, independência e autonomia. É um tipo de liberdade que não é a liberdade ilusória do ego, mas a do Self.

Na individuação, o sentimento de unidade é criado em outro nível mais profundo, onde é encontrado o sentido e a ligação entre  todas
as coisas e da auto-realização consciente, que envolve a integra
f ção dos opostos, o casamento interior. Este processo, quando real,
traz um grande sentimento de bem-estar, de relacionamento pleno
consigo mesmo, com os outros, com a natureza. E leva à superação
dos sentimentos de alienação e isolamento e à experiência da unida
de com tudo o que existe, o conhecimento unificado.

2O processo de individuação exige a renúncia aos objetivos do ego, o sacrifício de seus valores e de seus apegos, a fim de que possa emergir a verdadeira natureza que é divina. Quando o homem perde o ego, encontra o Self. Jung viu o processo de individuação como a realização do aspecto divino no homem.

 Segundo ele, por meio do conhecimento de Deus, da realidade divina dentro de si mesmo e da totalidade de todas as coisas, o homem poderia renunciar às necessidades defensivas de segurança, preservação e sobrevivência do ego, como prestigio, poder, status ou a necessidade de se sentir produtivo, ativo e aproveitador da vida.

Quando o individuo supera esses sentimentos pode realmente sentir-se vivo e participante da vida. Dessa forma, pode exercer a sua ação criativa, atualizando o seu potencial no mundo e se colocando como um veículo para a realização do Self.

O processo de individuação se refere a essa busca ascendente da unidade transcendente, do centro real, o Self, que é a finalidade comum a todas as religiões e aos sistemas metafísicos do Oriente, no
taoísmo, no budismo, no hinduísmo, no tantrismo etc.

Jung viu no sistema da Yoga Kundalini um símbolo do processo de individuação, um caminhar progressivo do mais instintivo para o mais espiritual, do mais terreno para o mais celeste. E interpretou o sistema dos chakras, os centros psíquicos de energia, como a representação simbólica corporal dos vários degraus, estágios ou níveis de consciência que o homem pode alcançar.

 A meta seria o sétimo chakra, o lugar da união de Shiva e Shakti. No tantra budista, o sistema dos chakras é comparado a um templo sagrado com seus vários pavimentos.

Segundo Jung, o processo de individuação envolve a realização da individualidade de cada um, que deve ser posta a serviço do Self, e não a serviço dos desejos narcísicos e auto-afirmativos do ego pois, nesse processo, o ego abdica de seu poder e do desejo de apropriação dos potenciais do Self, porque sente que esses também lhe pertencem. A personalidade individual pode se sentir co-criadora com o Self;

Na sua prática clinica, Jung reconhecia a singularidade de cada um e respeitava a direção interior individual na busca da totalidade. Ele acreditava que o Self possuía a sabedoria para conduzir cada individuo à sua verdadeira natureza, bastando apenas saber ouvir a sua voz interior.

A individuação se refere à plena realização do potencial inato de cada um, que é divino, e que é sentido e colocado, de forma consciente, a serviço da realização do Self e a serviço da evolução da humanidade como um todo. O processo de individuação leva sempre para além do ego, até o Self, do pessoal ao transpessoal, do profano ao sagrado. No cristianismo, essa totalidade é simbolizada pela Arca da Aliança, que representa a aliança do homem com Deus.

Para Jung a individuação é o tomar-se o que se é em potencial, na real essência de cada um, mas mantendo a consciência de um objetivo maior: a realização do Self.


A individualidade são os incontáveis meios pelos quais o Self, Deus, se manifesta e se atualiza. Realizar os potenciais da individualidade é realizar o desejo do Self de manifestação na experiência humana. Realizar os potenciais do Self é permitir que o espírito se expresse no mundo das formas temporais e culturais". Raissa Cavalcantti . O Retorno do Sagrado.

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