sábado, 14 de setembro de 2013

Carência e avidez -DAR NOME AOS DEMÔNIOS – Meditação




Carência e avidez - DAR NOME AOS DEMÔNIOS – Meditação

Em suas instruções sobre a atenção plena, ele orientou os praticantes de meditação a observar que “Esta é uma mente cheia de alegria” ou “Esta é uma mente cheia de raiva”, reconhecendo cada estado que ia emergindo e desaparecendo.

Reconhecer nossa experiência e dar-lhe um nome com atenção plena dá-nos a possibilidade de investigar a nossa vida e de questionar qualquer aspecto ou problemas da vida que se nos apresente.

Dê um nome a cada problema ou experiência, como fez Buda quando as dificuldades surgiram à sua frente. Buda teria dito: “Eu te conheço, Mara”.

Num nível mais fundamental, fazemos distinção entre o desejo doloroso e o desejo inequívoco, sendo que ambos são aspectos derivados de uma energia neutra chamada “Vontade de Fazer”.

A vontade de Deus  é para o bem de todos, para realizar e buscar alegria, e felicidade.  A carência é uma compulsão do ego, a necessidade cega que nunca descansa, nos move no karma. DharmadhannyaEL

O desejo doloroso compreende a ganância, egocentrismo, narcisismo, a ignorância, a avidez, a inadequação e o anseio. O desejo inequívoco nasce da mesma “Vontade de Fazer”, porém é orientado pelo amor, pela vitalidade, pela compaixão, pela criatividade e pela sabedoria.


O demônio meridiano da preguiça e do sono surge todos os dias fora de hora. O demônio do orgulho só irá se manifestar, de modo furtivo, depois que tivermos vencido os outros demônios.

Nas culturas da antiguidade, os xamãs aprendiam que dar um nome à coisa que temiam era uma maneira bastante prática de começar a ter poder sobre ela.

Temos palavras e rituais para muitos dos nossos grandes eventos exteriores: nascimento e morte, guerra e paz, casamento, aventura, doença.

 Mas, com frequência, ignoramos os nomes das forças interiores que se movem de maneira tão poderosas através do nosso coração e da nossa vida.

O princípio geral de transformar as dificuldades em prática.

Reconhecer essas forças e dar-lhes um nome é um caminho correto e específico para trabalharmos com elas e desenvolver a compreensão.
 De início, podemos reconhecer e dar nomes a muitos belos estados que dão graça à nossa vida: alegria, bem-estar, paz, amor, entusiasmo, bondade.

Esse é um caminho para honrar e alimentar esses estados. Do mesmo modo, dar nome às dificuldades que encontramos na vida proporciona-nos clareza e compreensão e pode desvendar e liberara valiosa energia ligada a elas.

Cada caminho espiritual tem uma linguagem específica para as dificuldades comuns que encontramos na vida. Os sufis as chamam de nafs. Os anacoretas cristãos (que praticavam há cerca de dois mil anos nos desertos do Egito e da Síria) chamavam-nos de “demônios”.

Um de seus mestres, Evágrio, deixou um texto em latim contendo instruções para as pessoas que meditam nas regiões selvagens:

 “Presta sempre a maior atenção à gula e ao desejo”, alertou ele, “bem como aos demônios da irritação e do medo. O demônio meridiano da preguiça e do sono surge todos os dias após o almoço.

 O demônio do orgulho só irá se manifestar, de modo furtivo, depois que tivermos vencido os outros demônios”.

Na meditação  budista, essas forças são tradicionalmente personificada por Mara( o Deus das Trevas) e, nos retiros, em geral, são chamadas “obstáculos à clareza”.

 Os discípulos iniciantes encontram inevitavelmente as forças da ganância, do medo, da dúvida, do julgamento e da confusão. Os discípulos experientes continuam a lutar contra esses mesmos demônios, embora de uma maneira mais clara e mais, hábil.

Quer se trate de dificuldades ou de prazeres, dar um nome à nossa experiência é o primeiro passo para conduzi-la ao plano da atenção consciente desperta.

Ao abrigo dessa percepção consciente, a compreensão cresce de maneira natural. Então, à medida que sentimos claramente e que damos um nome à nossa experiência, conseguimos perceber o que ela traz consigo e como podemos responder a ela com mais plenitude e habilidade.

COMO COMEÇAR A DAR NOMES

Comece sentando-se confortavelmente e focalizando a percepção consciente sobre a sua respiração. Ao sentir cada ato de respirar, identifique-o cuidadosamente, mediante um simples nome: “inspiração”, “expiração”, pronunciando as palavras em silêncio e com suavidade no fundo da sua mente.

 Isso o ajudará a manter o controle da respiração, proporcionando à mente racional uma maneira de apoiar a percepção consciente em vez de vaguear em qualquer outra direção.

 E então, à medida que você se aquieta e que sua habilidade vai crescendo, você poderá observar e dar nomes com mais precisão: “respiração longa”, “respiração breve”, “respiração tensa” ou “respiração relaxada”.

 Deixe que todos os tipos de respiração se apresentem a você.

Ao continuar a desenvolver a meditação, o processo de dar um nome pode estender-se a outras experiências, à, medida que elas vão emergindo na sua percepção consciente.

 Você pode dar um nome às energias e sensações do corpo que surgem, tais como: “formigamento”, “coceira”, “quente” ou “frio”. Você pode dar nomes aos sentimentos, tais como “medo” ou “prazer”.

Em seguida, você pode ampliar essa prática e dar nomes aos sons, às visões e pensamentos, tais como “planejamento” ou “lembrança”.

Ao desenvolver a prática de dar nomes, mantenha o pensamento fixo na sua respiração até que uma experiência mais forte surja para interromper a sua atenção.

 Então inclua essa experiência mais forte na meditação, sentindo-a plenamente e chamando-a pelo nome, tranquilamente, enquanto ela persistir — “ouvir, ouvir, ouvir” ou “triste, triste, triste”.

 Quando ela desaparecer, volte a dar nome à respiração até que apareça uma outra experiência forte. Continue a dar nomes a tudo o que se destacar a cada momento, mantendo plena consciência do fluxo mutável e contínuo da vida.

De início, sentar-se quieto e dar nome às coisas pode parecer estranho ou embaraçoso, como se isso interferisse com a sua percepção consciente.

Você precisa realizar com muita tranqüilidade essa prática de dar nomes, dedicando 95% da sua energia para sentir cada experiência e 5% para encontrar-lhe um nome preciso.

 Se você usar mal esse processo de dar nomes, ele se parecerá a uma pancada, uma maneira de julgar e descartar uma experiência indesejável, como gritar ao “pensamento” ou à “dor” para fazê-los desaparecer.

 No começo, é possível que você também se sinta confuso quanto ao nome que deve usar e fique procurando palavras no seu “dicionário” interior, em vez de se conscientizar com relação ao que realmente está presente.

 Lembre-se de que a prática de dar nomes é a essência da simplicidade; é apenas o simples reconhecimento daquilo que está presente.

Logo você estará pronto para executar a prática de dar nomes e de dirigir perguntas diretamente às dificuldades e obstáculos que surgem na sua vida.
As cinco dificuldades mais comuns que Buda descreveu como os principais obstáculos à percepção consciente e à clareza são: avidez, raiva, sonolência, inquietação e dúvida.

É inevitável que você venha a encontrar muitos outros obstáculos e demônios e até mesmo venha a criar alguns novos para si mesmo. As vezes, eles o cercarão em grupo, aquilo que um discípulo chamou de “um ataque de múltiplos obstáculos”.

Aconteça o que acontecer, você precisará começar para poder ver claramente essas dificuldades básicas à medida que elas vão aparecendo.

AVIDEZ E CARÊNCIA

“Avidez” e “carência” são dois nomes para os aspectos mais dolorosos do desejo. Como o nosso idioma usa a palavra “desejo” de tantas maneiras diversas, seria útil classificá-las.

 Existem desejos benéficos, tais como o desejo pelo bem-estar dos outros, o desejo do despertar espiritual e os desejos criativos que expressam os aspectos positivos da paixão e do belo.

 E existem os aspectos dolorosos do desejo: os desejos do vício, a ganância, a ambição cega ou a fome interior infindável.

Através da percepção consciente da meditação, é possível obter uma atenção capaz de classificar e conhecer as minhas formas de desejo.

 Como disse William Blake:
Quem atravessa as portas dos céus não são os seres desprovidos de paixão ou os que controlaram as paixões, mas, sim, aqueles que cultivaram uma compreensão das paixões.

Ao começar a dar nome aos demônios, podemos lançar um olhar especial aos aspectos difíceis do desejo: a mente ávida e carente.

 Quando a mente ávida surge pela primeira vez, é possível que não a reconheçamos como um demônio, pois nos deixamos envolver pelo seu feitiço.

 A carência é caracterizada como um Fantasma Faminto: um fantasma com um estômago imenso e uma boca minúscula que jamais consegue comer o suficiente para satisfazer seu apetite infindável.

 Quando esse demônio ou dificuldade surgir, simplesmente dê-lhe o nome de “carência” ou “avidez”, comece a estudar o poder que ele exerce na sua vida.

 Quando olhamos para a carência, para a necessidade  experimentamos a parte de nós mesmos que nunca está satisfeita, aquela ... feliz!”

— seja um outro relacionamento, um outro emprego, uma almofada mais confortável, menos barulho, temperatura mais fresca, temperatura mais quente, mais dinheiro, um pouco mais de horas de sono — “e então eu me sentiria realizado”.

 Na meditação, a voz da carência nos chama e diz: “Se ao menos eu tivesse algo para comer agora, eu comeria e ficaria satisfeito, e então alcançaria a iluminação”.

 O desejo da carência é aquela voz inconsciente que vê uma pessoa atraente meditando ao nosso lado e já imagina todo um romance, um relacionamento, casamento e divórcio e só então, meia hora mais tarde, lembra que estamos meditando. Para a voz da carência, o que existe aqui e agora nunca é suficiente.

Dar Nome à Mente Ávida

À medida que trabalhamos observando a carência e a avidez sem condená-las, podemos aprender a ter consciência desse aspecto da nossa natureza sem deixar-nos aprisionar por ele.

Quando ele surgir, um pensamento fixo, angustiante, persistente, depressivo, invejoso, carente, magoado seremos capazes de senti-lo plenamente e de chamar a nossa experiência de fome carência anseio ou dar lhe outro nome qualquer, ou podemos dar a ele várias formas (criar várias imagens, várias faces, até que ele seja dissolvido com a meditação.

Chame essa experiência pelo nome durante todo o tempo em que ela estiver presente, repetindo o nome a cada poucos segundos, cinco, dez, vinte vezes, até que ela termine.

 Ao observar essa experiência, tenha plena consciência do que está acontecendo: Quanto tempo dura esse tipo de desejo? Ele primeiro se intensifica e depois se dilui? Como você o sente no seu corpo? Quais as partes do corpo que são afetadas por ele — as entranhas, a respiração, os olhos?

Como você o sente no coração, na mente? Quando ele está presente, você se sente feliz ou agitado, aberto ou fechado? Ao chamá-lo pelo nome, veja como ele se move e se transforma. Se a carência surgir como o demônio faminto, dê-lhe esse nome. Onde você percebe a fome — na barriga, na língua, na garganta?

Ao olhá-la, vemos que a carência cria tensão, vemos que ela é realmente dolorosa. Observamos que ela se manifesta a partir dos nossos anseios e do sentido de imperfeição; a partir do sentimento de que somos seres separados do todo, e não uma totalidade.

 Ao observar mais de perto, percebemos que a carência também é fugaz, sem essência. Na realidade, esse aspecto do desejo é urna forma imaginária e emocional que entra e sai do nosso corpo, da nossa mente. E claro que, em outros momentos, ele parece ser bastante real.

 Oscar Wilde afirmou: “Consigo resistir a tudo, menos à tentação”. Quando nos deixamos aprisionar pela carência, ela atua como um agente tóxico que nos toma incapazes de ver com clareza.

Na Índia, diz-se que “ao encontrar um homem santo, o batedor de carteiras vê apenas a sua bolsa”. A carência e a avidez podem tornar-se poderosas vendas para os olhos que impedem a nossa visão.

Não confunda desejo com prazer. Não há nada de errado em desfrutar experiências agradáveis. Diante das muitas dificuldades que enfrentamos na vida, é maravilhoso podermos sentir prazer. Contudo, a mente ávida se “agarra” ao prazer.

 Nossa cultura nos ensina que, se pudermos “agarrar” suficientes experiências agradáveis em rápida sucessão, nossa vida será feliz. Assistir a uma boa partida de tênis seguida por um jantar delicioso, um bom filme, uma excelente relação sexual, uma tranquila noite de sono;

 uma saudável corrida matinal, uma hora perfeita de meditação, um ótimo café da manhã e depois uma excitante manhã de trabalho... garante felicidade duradoura. Nossa sociedade é perita em perpetuar essa farsa. Mas, isso satisfaz o coração?’
O que acontece quando satisfazemos uma carência? Em geral, isso acarreta ainda mais carência. Todo o processo pode tornar-se bastante cansativo e vazio. “O que vou fazer em seguida? Bem, vou conseguir algo mais.”

George Bernard Shaw disse:
“Sofremos dois grandes desapontamentos na vida: um, não conseguir o que queremos; dois, consegui-lo”. O processo desse desejo equivocado é infindável, pois a paz não surge da realização daquilo que queremos, mas, sim, do momento em que a insatisfação termina.

 Quando uma carência é preenchida, surge um momento de satisfação; mas esse momento não se deve ao prazer, mas ao fim daquela avidez.

Ao dar um nome à mente ávida e senti-la com muito cuidado, observe o que acontece logo depois que a experiência termina e note quais os estados que se seguem. A questão da carência e da avidez é bastante profunda.

Você verá quão frequentemente nossos desejos estão deslocados. Um exemplo óbvio disso é quando usamos a comida para substituir o amor pelo qual ansiamos.

 Através da prática de dar nomes, é possível perceber quanto do nosso desejo superficial surge de alguma carência mais profunda do nosso ser, de uma solidão, de um medo ou vazio subjacentes.

Muitas vezes, quando as pessoas iniciam a prática espiritual, a mente ávida torna-se mais intensa. À medida que retiramos algumas camadas de desatenção, descobrimos que sob a mente ávida existem poderosos impulsos por comida, por sexo, por contato com os outros ou uma forte ambição.

 Quando isso acontece, algumas pessoas talvez sintam que sua vida espiritual se desvirtuou; mas esse processo é necessário para desmascarar a mente ávida.

 Devemos enfrentá-la e vê-la em todos os seus disfarces, para podermos desenvolver um hábil relacionamento com ela. O desejo equivocado provoca guerras e domina grande parte da sociedade moderna; nós, como seguidores inconscientes, estamos à sua mercê.

Mas poucas pessoas se detêm para examinar o desejo, senti-lo dc uma maneira direta e descobrir um relacionamento sábio com ele.

Estudando a psicologia budista, descobrimos que o desejo se divide em várias categorias. Num nível mais fundamental, fazemos distinção entre o desejo doloroso e o desejo inequívoco, sendo que ambos são aspectos derivados de uma energia neutra chamada “Vontade de Fazer”.

 O desejo doloroso compreende a ganância, a avidez, a inadequação e o anseio. O desejo inequívoco nasce da mesma “Vontade de Fazer”, porém é orientado pelo amor, pela vitalidade, pela compaixão, pela criatividade e pela sabedoria.

 Com o desenvolvimento da percepção consciente, começamos a distinguir o desejo doentio da motivação inequívoca. Podemos sentir quais estados não dependem de um desejo equivocado e desfrutar um modo de ser mais espontâneo e natural, sem luta nem ambição.

 Quando deixamos de ser prisioneiros de desejos equivocados, nossa compreensão cresce, realizamos a vontade da Alma e nossa vida passa a ser dirigida, de uma maneira mais natural, pela paixão saudável e pela compaixão.

processo de dar nomes aos demônios do desejo Descobrimos que existe sob o desejo equivocado, um profundo anseio espiritual pela beleza, pela abundância e pela harmonia. Dar nome ao desejo pode levar-nos a descobrir o que há de mais verdadeiro nesse desejo.

Um velho mestre disse-me certa vez: “Teu problema com o desejo é que não desejas com profundidade suficiente! Por que não desejas tudo, de uma vez? Não gostas daquilo que tens e queres aquilo que não tens. Reverte esse quadro com a alegria da gratidão que cuida e multiplica o que tem.


Passa a querer aquilo que tens e a não querer aquilo que não tens. Assim encontrarás a verdadeira realização”. Ao estudar o desejo, começamos a incluir todas as suas possibilidades na nossa vida espiritual". 

Pesquisado por dharmadhannya
 Este texto está livre para divulgação desde que seja divulgado a Fonte:http://dharmadhannyael.blogspot.com.br/2013/09/carencia-e-avidez-dar-nome-aos-demonios.html

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