sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Para compreender a Roda da vida Tibetana Parte 2


Para compreender a Roda da vida  Tibetana - Parte 2

Este texto é muito interessante e nos leva a refletir sobre nossas necessidades ,  compreender nossas emoções, desejos e compulsão nos leva a Luz da Consciência  Assim, podemos compreender o outro sem julgar.

Os asuras estão completamente inebriados com a competição. Os animais estão completamente imersos na estupidez e falta de iniciativa.

Os espíritos famintos estão completamente absorvidos pela total insatisfação. Os habitantes do inferno estão completamente envolvidos na agressão e na dor. Nestes mundos há menos possibilidades de evolução porque as experiências são tão intensas a ponto de subjugar e hipnotizar totalmente os seus habitantes.

1. Os três mundos superiores
a) O mundo dos devas (ou deuses samsáricos)
Este mundo, no plano físico, é o produto da auto-indulgência nos prazeres sensuais. Cada grau de intensidade de prazer é baseado em graus correspondentes de esperança de consegui-lo e medo de perdê-lo.

Há intensa preocupação com a auto-imagem e com a autogratificação da mais alta ordem. A característica predominante deste mundo é o orgulho, uma atitude autocentrada, egoísta e narcisista... No plano mental, existe uma grande tendência a fixação, absorções meditativas de todas as espécies, êxtases, samadhis, mas tudo ainda baseado sobre o jogo ilusório do ego, onde a meditação é uma experiência separada do próprio ser.


 Há ainda aquela tremenda noção gratificante de que “eu estou meditando”. As experiências meditativas, não importa seu grau de profundidade, ainda são sólidas em vez de serem transparentes e abertas, devido à excessiva autoconsciência, a qual naturalmente reafirma a existência do meditante.

 Pode-se experimentar todas as espécies de estados alterados de consciência, e até experiências culminantes (descritos por Maslow), mas estes estados e experiências ainda serão baseados sobre o “eu”: sou “eu” que estou tendo estas experiências; sou “eu” que estou em tal estado de consciência. É uma total intoxicação de ego.

Os resultados são dramáticos, se há sucesso, pois começa-se a ser grato pela confirmação de ter conseguido felicidade física e mental, de ter conseguido subir, e que afinal de contas se é alguém. Mas justamente por ser alguém, tem-se que manter uma determinada situação e posição. E isto requer um tremendo esforço.

O processo dualista de esperança e medo, típico do samsara e do ego, começa a se desenvolver num crescendo. O medo do fracasso e a esperança da vitória alternando-se sucessivamente cria uma enorme tensão e stress. Sucesso e fracasso têm muito significado na vida dos devas ou deuses samsáricos.

Se há sucesso os amigos aplaudem, se há fracasso os amigos fogem como ratos de um naufrágio. Os valores mais profundos são trocados pelos efêmeros. Vale-se mais pelo que se aparenta ser do que pelo que se é.

 Tudo é muito superficial neste mundo, pois não há tempo para se pensar nos valores profundos e duradouros da existência.

Este mundo, ou estado psicológico, é a realização máxima da confusão. uma espécie de bomba atômica autodestrutiva, em termos de comunicação, de compaixão e de libertação das garras do ego.

 No plano material, o enfoque é orientado para os prazeres e gratificações sensuais sempre no sentido de preservação do ego. A busca por extremos prazeres físicos e mentais é sempre ligada a interesses mundanos: riqueza, beleza, fama, virtude, saúde, geriatria, cirurgia plástica, estética, etc.

A vida neste mundo são férias constantes, onde a luta pela felicidade e pelo prazer se torna uma aventura fascinante.

Este mundo não é particularmente doloroso. Há uma relativa alegria. A dor só vem com eventuais desilusões. Quando se pensa ter atingido um estado permanente de prazer físico e mental, algo acontece e realiza-se de sorte que aquela situação não pode durar para sempre por ser baseada em falsos valores.

 Pensa-se ter alcançado o nirvana, mas só se alcançou um estado temporário de satisfação. Quando finalmente a situação “kármica” responsável pela estada no mundo dos deuses samsáricos se extingue, emergem repentinos pensamentos violentos, acompanhados de suspeitas.

 Suspeita de ter sido enganado, suspeita de não poder permanecer naquele mundo dos deuses para sempre. E todo o processo se torna profundamente desapontador.

Há um sentimento de condenação de si e dos supostos responsáveis pelo término daquela situação desagradável... Há desapontamento e uma sensação estranha de ter sido enganado ou privado de seus direitos.

Até que finalmente todo aquele estado de prazer e felicidade entra em colapso, inclusive os conceitos de amor e segurança. Perde-se o prestígio e os amigos debandam, criticando a quem outrora elogiavam.

Outra alucinação toma o controle da situação, ligando-se a um outro estilo de relacionamento com o mundo. Um outro estado psicológico começa a se desenvolver. Isto é que na psicologia tibetana é chamado de samsara, roda da vida, a girar sem parar.

b) O mundo dos asuras (ou deuses ciumentos)
Então começa a alucinação do mundo dos deuses asuras cuja tônica psicológica é o ciúme e a inveja. Tendo-se experimentado o sonho do céu, deseja-se defender e manter a felicidade e o prazer.

 Daí a paranoia de pensar que os outros possam estar cobiçando seus tesouros, e o desenvolvimento do sentimento de inveja. O orgulho dos devas transforma-se na inveja dos asuras. A mentalidade de um asura é de desconfiança, de insegurança e de extrema inveja.

 Se queremos ajudá-los, eles desconfiam de nossas intenções, pensam que queremos diminuí-los ou oprimi-los; pensam que estamos querendo nos infiltrar em seu território. Se não os ajudamos eles dizem que somos egoístas. Sua extrema inveja os leva a sofrerem pelo bem-estar alheio.

A felicidade  alheia é uma afronta para eles. A mentalidade de um asura é também extremamente competitiva. Eles estão sempre querendo mostrar a sua superioridade, e para isto utilizam todos os meios que vão desde a afronta à difamação. Eles se sentem fortes perante os mais fracos e inseguros diante dos mais fortes perante os fracos e inseguros diante dos mais fortes.

 Procuram sempre os defeitos e as fraquezas dos outros, em vez de procurarem as qualidades. Mas quando alguém lhes mostra as suas próprias fraquezas, eles se sentem infelizes. Eles sempre evitam as mínimas oportunidades de serem atacados ou se exporem. Estão sempre na defensiva e espionando pelas costas.

A mentalidade dos asuras está constantemente preocupada com comparações. Comparando suas forças com os outros, medindo as possibilidades de vitória ou derrota. Quando eles não podem lutar de frente, atacam pelas costas.

 Para eles todos os meios são válidos, desde que se livrem dos inimigos. Eles detestam estar diante de alguém a quem consideram mais inteligentes ou fortes; isto para eles é uma ameaça terrível. Neste mundo dos asuras, as situações da vida são encaradas competitivamente, como se houvesse sempre um oponente diante de si

Os asuras recusam-se a aceitar qualquer ajuda e a aprender qualquer coisa nova que seja apresentada por estranhos, pois todos são considerados como inimigos.

Há um desejo constante de ser o melhor, principalmente no campo profissional. Mesmo quando casados, há suspeita e competição entre eles, tanto no campo afetivo quanto no campo profissional. Há uma constante necessidade de auto-afirmação:

Eu sou o melhor isso; eu sou o melhor aquilo; eu sou mais inteligente do que você; eu tenho mais poderes psíquicos do que você, etc. Quando dois asuras se casam eles permanecem juntos, não porque se amem, mas por medo de sua reputação poder ser manchada pelo outro.

Geralmente os asuras são hipócritas, e blefam muito, pretendendo saber mais do que sabem, pretendendo ser mais fortes do que são. Em nome da verdade, eles praticam os piores atos. Os asuras são mesquinhos e possuem uma visão muito limitada. Cobram o que dão e esquecem o que recebem.

A esperança de ganhar e o medo de perder uma competição traz uma certa irritação. Há uma ligeira tendência à autopunição como meio de poder suportar a dor da derrota.

 Às vezes há uma tendência à autocondenação por não se manter rígida disciplina e/ou por não conseguir alcançar a perfeição ou as metas a si propostas. Os asuras sofrem quando não podem ser os melhores.

O mundo dos asuras é um mundo muito paranóico, sempre levando à derrota. O cansaço da luta e da derrota traz o desejo de se levar uma vida normal, confortável, sem as constantes tensões do mundo dos asuras. Vem então o forte desejo de se levar uma vida humana...

e) O mundo humano

Aqui há inteligência, e o raciocínio lógico da mente está sempre engrenado na criação de novas invenções que tragam maior felicidade e conforto. A pesquisa e o progresso científico e tecnológico estão sempre em marcha. As invenções tornam-se cada vez mais aperfeiçoadas e sofisticadas.

 Tudo caminha a uma velocidade incrível, a ponto de não se ter nem tempo para gozar do que foi inventado ou descoberto pela mente humana. O que foi inventado ou descoberto ontem torna-se obsoleto hoje, impondo-se um consumo quase obrigatório.

 Tudo isto se reflete num ritmo de vida alucinante e frenético, que só pode ser acompanhado a custo de elevado preço pago em taxas emocionais, culminando num violento stress (físico, emocional e mental).

O alto índice de criatividade desenvolve uma tremenda concorrência. Inventam-se todos os tipos de aparelhos eletrônicos e armas nucleares para se apanhar o inimigo, mas este desenvolve o seu próprio sistema de defesa e ataque, e assim por diante.

Neste mundo tudo é sujeito ao nascimento e à morte, tanto as pessoas quanto as suas descobertas são impermanentes e temporais. Apesar de este mundo ser o único da roda da vida onde há a possibilidade de se sair fora dela, ele é caracterizado pelo sofrimento da eterna nostalgia por uma situação existencial ideal.

A respeito deste mundo, Daniel Goleman nos diz o seguinte:
“O domínio dos seres humanos revela o potencial de “insight” da condição humana, este “insight” é bastante semelhante ao conhecimento formulado na trágica visão de Freud: não se pode escapar ao sofrimento.

Freud ao desenvolver este “insight” não viu nenhum modo de fugir ao sofrimento, a não ser lutar com ele; o psicólogo budista, ao expressar este mesmo “insight” como a primeira Nobre Verdade, oferece uma alternativa: altere os processos da consciência comum e deste modo o sofrimento cessará...

 O estado búdico é alcançado pela transformação da consciência ordinária, principalmente através da meditação, e este, uma vez alcançado, se caracteriza pela extinção do sofrimento (por ex.: ansiedade, carência, orgulho, etc.) que indicam os domínios comuns da existência humana...

 O estado búdico é uma interação de uma ordem superior a qualquer uma sugerida pelos esquemas de desenvolvimento da Psicologia Contemporânea. 74

Diz-se que o mundo humano é a terra do “karma”, porque os seres humanos podem perceber e trabalhar com as forças kármicas, e isto é a própria fonte de ilimitadas possibilidades.

Cada um tem o livre-arbítrio de utilizar a sua existência como ele bem quiser; o que não ocorre nos outros mundos da roda da vida. No momento em que o homem decidir, ele pode dar o rumo certo à sua vida e encontrar o verdadeiro significado de sua existência. Todos podem mudar o seu karma.

A liberdade de escolha é total. Um grande amigo tibetano, psicólogo, Pema Wangyal Rinpoche, em visita ao Ocidente, disse-me em conversa informal: “Se os homens aqui canalizassem a mesma quantidade de energia utilizada nas pesquisas e descobertas científicas e tecnológicas para a realização da verdadeira natureza da mente, eles já estariam iluminados, há muito tempo!”

 As oportunidades estão aí diante de nossos olhos, basta aproveitá-las. O homem desperdiça uma enorme quantidade de energia na busca de valores relativos. A constante busca destes valores e as consequentes desilusões, a constante esperança de encontrar a felicidade e o medo do fracasso, levam a mente do homem à neurose.

Os psicólogos tibetanos têm uma ideia menos parcial do homem do que aquela de um mero consumidor de bens perecíveis e de falsos ideais. Para eles: “A essência do mundo humano é o empenho para o alcance de um alto ideal”.

A mentalidade humana dá grande ênfase ao conhecimento e à sabedoria, ao aprendizado e à educação. O intelecto é superativo neste mundo. A mente está sempre trabalhando, seja na digestão de idéias ingeridas ou no planejamento de projetos de toda a espécie.

 O constante turbilhão de emoções e pensamentos discursivos do mundo humano é bem diferente dos outros cinco mundos da roda da vida. Os devas estão completamente absortos num estado de auto-satisfação.

Os asuras estão completamente inebriados com a competição. Os animais estão completamente imersos na estupidez e falta de iniciativa.

Os espíritos famintos estão completamente absorvidos pela total insatisfação. Os habitantes do inferno estão completamente envolvidos na agressão e na dor. Nestes mundos há menos possibilidades de evolução porque as experiências são tão intensas a ponto de subjugar e hipnotizar totalmente os seus habitantes.

 No caso do mundo humano, há mais espaço mental. A mente lógica e intelectual torna-se muito mais poderosa do que nos outros mundos da roda, criando novos pensamentos e idéias.

 O conteúdo de fatos estocados na mente inconsciente, ou no subconsciente, volta constantemente à mente consciente de uma forma mais freqüente do que nos outros mundos da roda.

Este processo de trazer o conteúdo da mente inconsciente à mente consciente é um dos 78 objetivos da psicoterapia. A partir daí pode-se eliminar uma série de maus hábitos enraizados na mente humana e adquirir uma conscientização ininterrupta.

É esta continuidade de conscientização que provê ao homem os meios de sobrepujar a maioria de suas dificuldades e obstáculos. Trazer esta conscientização contínua ao nível da vida diária é um dos objetivos da psicoterapia tibetana. A partir daí a conscientização, que é intrínseca ao ser humano, começa a se desenvolver, até que ela seja totalmente realizada.

Quando totalmente realizada, a conscientização torna-se o meio da libertação, levando-nos além do sofrimento da mente samsárica. A liberdade de aceitar ou rejeitar o funcionamento e manifestações da mente samsárica com equanimidade é um privilégio do ser humano, o qual é o único responsável por seu próprio destino. Tudo é uma simples questão de realizar ou não-realizar.

 Na perspectiva da psicologia budista tibetana, o potencial de crescimento e amadurecimento do homem não é limitado à condição samsárica da roda da vida. Os limites do potencial humano não são confinados só a objetivos especificados pelo conhecimento intelectual, objetivos tais como ajustamento à sociedade, boas relações interpessoais, adequado funcionamento do ego, e um caráter agradável.

 Além destes objetivos, o contexto psicológico tibetano de evolução inclui conscientização de níveis mentais que ainda não foram explorados sistematicamente pelos esforços introspectivos da psicologia ocidental tradicional;
 incluindo a possibilidade imanente da iluminação total, num desdobramento contínuo de aspectos ainda não conhecidos, mas que são inerentes à mente humana. A mente humana possui infinitas possibilidades...

De todos os mundos da roda da vida, o humano é o único onde há a possibilidade de transmutar o samsara em nirvana.

d) Os quatro sofrimentos principais da condição humana
Os tratados de psicologia budista tibetana nos dizem ainda que a condição humana possui quatro sofrimentos principais:
o nascimento, a velhice, a doença (física e mental) e a morte......76


1. Os sofrimentos do nascimento
Primeiramente ele nos fala sobre o processo da fecundação, dizendo o seguinte: No momento da procriação... “Nosso princípio consciente” une-se às secreções (espermatozóide-óvulo) do pai e da mãe e nossa memória consciente (lembrança) torna- se confusa como os sonhos nebulosos de um sono profundo...

O embrião (assim formado) desenvolve-se (então) a partir do sangue e das essências nutritivas da mãe, até que seu corpo esteja completamente formado, num processo que dura trinta e oito semanas. Em seguida ele nos fala sobre o processo da gestação: Durante a primeira semana na matriz o embrião é “ovóide” por possuir tal forma, e é comparável em consistência à água do arroz, sofrendo como se estivesse sendo cozido.

Na segunda semana, ele é “oblongo” por possuir tal forma e é semelhante em consistência à manteiga. Os quatro elementos (terra, água, fogo e ar) manifestam-Se (em sua constituição física). Na terceira semana, o embrião possui a forma de uma “formiga”, e a manifestação dos quatro elementos torna-se mais evidente.

O embrião modifica-se em seguida progressivamente até a sétima semana, quando aparecem os quatro membros; ele sofre como se eles estivessem sendo esticados com força.

 Durante a oitava semana, são produzidos os nove orifícios do corpo (olhos, narinas, ouvidos, boca, órgão genital e ânus) e ele sofre como se um dedo furasse uma ferida.

 A partir deste momento, se a mãe bebe líquido muito gelado, ele tem a impressão de ser jogado no gelo; se ela come muito, de ser esmagado entre rochedos; se ela come pouco, de ser suspenso no ar.

 Se ela corre violentamente ou cai, ele o sente como se rolasse num precipício; se ela tem relações sexuais com penetração muito profunda, ele sente como se estivesse sendo furado por agulhas de ferro.

 Após a trigésima sétima semana, ele começa a sentir-se como que aprisionado num lugar sujo, fedorento e escuro; ele sente-se infeliz e concebe a idéia de sair de lá”.

E, finalmente, ele nos fala dos sofrimentos do nascimento propriamente dito:

 “Durante a trigésima oitava semana, ele é virado para o orifício do nascimento, em cuja hora ele sofre como se seu corpo estivesse sendo colocado sobre uma roda em movimento (e esmagado entre duas montanhas)...

E finalmente ele sai com os braços encolhidos, sofrendo como se estivesse passando através de uma tela metálica. No momento em que ele sai da matriz (e sua pele é tocada), ele tem a impressão de ser colocado sobre espinhos, e quando ele é esfregado (por algum tecido) ele sente como se sua pele estivesse sendo arrancada”.

Em resumo, estes são os sofrimentos humanos do nascimento descritos pelo mestre da psicologia budista tibetana, Kálu Rinpoche, segundo a tradição tibetana da “consciência”.

Que não se espantam os médicos ocidentais, para os psicólogos e médicos tibetanos, o feto é um ser consciente. Meu grande amigo, Dr. Frederick Leboyer, inspirado nas antigas tradições orientais, assim como nas observações pessoais de seus longos anos de prática profissional como obstetra e na experiência de reviver seu próprio nascimento, desenvolveu o magnífico e humano método de nascimento, através do qual se procura minimizar e não aumentar os traumas e sofrimentos, já enormes, do pequenino ser que vem ao mundo.

Privilegiados são os bebês que podem ter a chance de “nascer sorrindo” graças à sensibilidade do Dr. F. Leboyer que humanizou a arte da obstetrícia.

2. Os sofrimentos da velhice
Quanto a estes tipos de sofrimento, Kálu Rinpoche nos diz que eles também são incomensuráveis: “Nosso corpo, que era ereto, torna-se curvo, inclinado para a frente, e deve se apoiar sobre uma bengala... A força do corpo se esgota. A mente se enfraquece.., o poder dos sentidos diminui.., perde-se a memória, as riquezas e a autoridade.

Entristecidos por todos estes sofrimentos não há outra maneira de saída senão esperar pela morte... As Possibilidades desta existência tendo se extinguido, a vida chega a seu fim. A respiração se torna difícil e rouca, e a energia declina e se apaga”.

 Os sofrimentos da doença
Continuando, Kálu Rinpoche nos diz o seguinte sobre a doença: “A dor é insuportável, a parte inferior de nosso corpo não pode mais sustentar sua parte superior, e não podemos nem mais sentar sobre o leito.

Perdemos a vontade de comer e de beber, e não podemos mais satisfazer nossos desejos. Sofremos por estar sob o controle médico, de ver tudo o que é necessário fazer se esgotar, e de ter que ser examinado de modo rigoroso. É um período de terríveis sofrimentos durante o qual, o dia chegando ao fim, ainda resta passar a noite interminável”.

4. Os sofrimentos da morte
E sobre a morte, Kálu Rinpoche nos diz como ela se apresenta para as pessoas cuja mente samsárica ainda está muito preocupada com este mundo: “Quando os horrores da morte no consomem, perdemos toda a alegria e ficamos sob o tormento da doença.

 Nossa boca se resseca, nossa fisionomia se deforma e nossos membros, agitados de tremor, não podem mais se mover. Nosso corpo é maculado de saliva, de mucosa, de urina e de vômitos; deixamos então escapar grunhidos roucos. Após verem se esgotar tantos remédios, os médicos desistem; violentos fantasmas se levantam em nossa mente e somos amedrontados e tomados de pânicos.

Os movimentos de nossa respiração param e então, com a boca e as narinas escancaradas, vamo-no para além deste mundo, tumultuados por esta grande migração que é a morte. Entramos na grande obscuridade, caímos no abismo, e somos levados pelo grande oceano, varridos pelo vento do karma”.

Vejamos agora o que ele nos diz sobre os cinco estágios do momento da morte.

 “No momento da irresistível partida, devemos tudo deixar atrás de nós: abandonar nossas riquezas, nosso privilégios, nossa influência, nossa casa, nossa família, e mesmo o nosso corpo tão querido.

Lágrimas gotejam, e no momento em que começamos a partir, ‘passamos pelos cinco estágios do momento da morte’: 1) Quando primeiramente o elemento terra se dissolve no elemento água; o corpo se imobiliza e temos impressão de ser esmagados por uma montanha;

2) então o elemento água se dissolve no elemento fogo, e líquidos escorrer da boca e das narinas e temos a sensação de ser levados pela correnteza de um rio;

3) o elemento fogo se reabsorve em seguida no elemento ar: boca e narinas secam, os olhos se reviram o calor vital deixa as extremidades do corpo, concentrando-se no centro do mesmo, escutamos o barulho do crepitar de um grande fogo e sentimos sensações de queimaduras pelo corpo;

 4) é no momento em que o elemento ar se dissolve no principio consciente (1), que os movimentos respiratórios cessam, e ouvimos o forte ruído como o sopro de um vento, sentindo muito medo;

5) enfim, o princípio consciente (1) se dissolve em ignorância e temos a experiência das três luminosidades..., depois caímos inconscientes, sem nenhuma memória, durante três dias e meio após os quais retomamos consciência e devemos fazer face às diferentes aparições do bardo. (II)”;
 Finalizando, ele nos diz que “Após tudo isto, pelo poder do karma (III), renascemos num dos seis mundos de existência da roda da vida que mais for apropriado”.
E desta forma a roda da vida continua girando sem cessar...

e) Os quatro sofrimentos secundários da condição humana
Além dos quatro sofrimentos principais, os tratados de psicologia budista tibetana nos falam de quatro sofrimentos secundários da condição humana: o fato de estarmos separados daqueles a quem amamos, encontrarmos aqueles a quem não amamos, não obtermos o que desejamos, e não conseguirmos nossas posses.

1) O fato de estarmos separados involuntariamente daqueles a quem amamos (pais, filhos, netos, amigos), por circunstâncias existenciais (guerras, catástrofes, etc.) ou pela morte (nossa ou deles), causa sofrimento.

2) O fato de encontrarmos involuntariamente aqueles a quem não amamos (inimigos, ladrões, etc.) pode nos trazer distúrbios emocionais assim como a possibilidade de empenhar-nos em luta (física ou verbal), levarmos uma surra, sermos roubados, mortos ou levados à justiça. Este tipo de sofrimento pode nos tirar o apetite durante o dia e o sono durante a noite.

3) O fato de não obtermos o que desejamos aumenta as frustrações e as ansiedades, causando um sofrimento e um sentimento de pobreza muito grande.

4) O fato de não conseguirmos guardar nossas posses, tão duramente conquistadas, é motivo de grandes preocupações e de intermináveis sofrimentos. Obter posses ou posições é muito difícil, porém conseguir guardá-las é ainda mais difícil.

Quanto a esses tipos de sofrimento, o mestre psicólogo Kálu Rinpoche nos diz o seguinte: “Quando compreendermos que todos os elementos do samsara (roda da vida) são como ondas que aparecem na superfície das águas e às quais não temos o tempo de seguir, que elas são aparências ilusórias, irreais como alucinações ou sonhos, e se sabemos nos contentar com o que possuímos, poderemos então permanecer felizes, com a mente tranqüila e em paz”.

2. Os três mundos inferiores
a) O mundo animal
À medida que se desce do mundo dos devas ao mundo animal, as alucinações e projeções vão se tornando cada vez mais sólidas e pesadas. Aqui, neste domínio, predomina a ignorância e a indiferença estúpida. Segundo a descrição dada por D. Goleman:

“O mundo animal da besta estúpida significa o nível de comportamento que é totalmente condicionado e que corresponde ao mundo estudado pelo behaviorismo, onde o princípio determinante da ação e do pensamento é um simples hábito e a relação estímulo-resposta”.

Este mundo ou estado psicológico é caracterizado pela falta de humor e de criatividade, e também por uma pessoa fazer-se inteligentemente passar por ignorante, quando isto for conveniente. Este estado também pode ser desenvolvido pela crença em certas estruturas religiosas, pela superstição ou crença baseadas no medo. Também pela satisfação em permanecer sempre prático, seguro e sólido.

Tal pessoa pode até ser muito eficiente e muito boa num trabalho mecânico que não exija muita criatividade nem iniciativa, mas também poderá ser muito acomodada, precisando sempre ser comandada e orientada. Ela prefere sempre seguir a liderar.

 Se ela compra um brinquedo novo, se orienta sempre pelo “modo de usar”. Se problemas aparecem, ela sempre recorre a todos os tipos de profissionais para que eles os resolvam para ela. Se algum imprevisto acontece em sua vida, ela desenvolve uma paranóia por se sentir ameaçada, devido a total falta de autonomia e de raciocínio.

 Se encontra pessoas cujo estilo de vida é diferente ou irregular, ela se sente inconfortável e insegura. As novas idéias são sempre encaradas com desconfiança. Tudo deve ser superplanejado e pré-dirigido. Qualquer situação imprevista é motivo de pânico, fazendo desmorona? toda aquela aparência de solidez e sanidade.

A estupidez do mundo animal é mais motivada por preguiça do que por embotamento; pois, além de se recusar terminantemente a se aventurar em novos territórios, tem uma forte tendência de se apegar às situações acomodadas.

 Se por acaso houver uma força que a leve a explorar um novo território, a reação imediata é se fazer de desentendida, fingir-se de morta ou se camuflar como se não estivesse lá. As possibilidades de evolução são reduzidas a um mínimo e a única preocupação é a luta pela sobrevivência; o resto não interessa, qualquer relacionamento com os outros é baseado no instinto.

A teimosia é uma característica deste estado, principalmente a de permanecer no erro. Porém esta permanência é às vezes devida à incapacidade de sair dele. Muitas vezes há uma tendência de se meter em situações das quais não se sabe sair.

Há sempre um modo de justificar os próprios erros perante os outros, inventando-se toda espécie de mentira e desculpas para provar que se está fazendo a coisa certa.

A mentalidade animal não sabe olhar para os lados, só para a frente; como que usando viseiras ela tenta ajustar as situações às suas expectativas. Quando aparecem obstáculos diante de seus objetivos, ela vai em frente derrubando tudo sem preocupar se vai machucar alguém ou destruir algo de valor.

Falando do mundo animal, não estamos nos referindo à possibilidade de literalmente renascer como um animal, mas da qualidade mental animal, uma mentalidade que, cega e teimosamente, vai em frente rumo a objetivos predeterminados.

 Uma mentalidade que prefere seguir os instintos em vez de comandá-los. A essência do mundo animal é tentar satisfazer os desejos com a maior seriedade, e sem nenhum senso de discriminação. Este é sobretudo um mundo de reações (impulsivas) em vez de ações (espontâneas). Aqui há total ausência de espontaneidade.  Clovis  C.S. Filho -  Introdução a Psicologia  Tibetana

veja a parte 1 introdutória do texto :
http://dharmadhannyael.blogspot.com.br/2013/09/para-compreender-roda-da-vida-tibetana.html

Pesquisado por Dharmadhannyael
Este texto está livre para divulgação desde que seja citado a Fonte:
http://dharmadhannyael.blogspot.com.br/2013/09/para-compreender-roda-da-vida-tibetana_20.html

3 comentários:

  1. Gostaria de saber se é possivel uma pessoa renascer num plano fisico desses mundos, pois vi em muitos site sobre isso. Por exemplo: Nascer um gato ou nascer como um Preta com aquela aparência estranha..,
    Isso são apenas metáforas ou são frequência d e realidades? Como pode ver não sou um praticante experiente, sou jovem e estou estudando um pouco sobre a prática. Obrigado pela atenção.

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  2. Esses reinos são só metáforas ou são realmente reais?

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  3. Olá Felipe desculpe eu só vi sua pergunta agora... a mente pode ser compreendida como um universo paralelo virtual, onde a consciencia é a porta, Existem mundos e culturas diferentes e ficam "adormecidas" em nosso inconsciente. e quando nascemos entramos em contato preferencialmente com o mundo que vivemos - nossa realidade.
    .Eu compreende os mundo do asuras por exemplo como uma realidade no plano mental e representam os arquetipos dos asuras e seus significados.. Quando pensamos e meditamos em um Buda. Levantamos dentro da nossa mente o arquetipo do Buda que tem o significado universal de amor, dharma, felicidade, ...e este buda na minha pevisão é o nosso Buda interior que se levanta em nossa consciencia para o nosso dharma. quando ativamos arquetipos da escuridão, ativamos a nossa escuridão interior , os nosso demonios que vivem em nosso mundo. Para mim tudo aquilo que sonhamos faz parte do nosso mundo interno ... é muito complicado...Você precisa primeiro compreender o que é um arquetipo e tudo fica mais fácil. Eu respondi com a minha visão...Vou procura rum texto budista para voce e vou colocar mas me aguarde... grata dharmadhannay

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