Quíron em Capricórnio e na Décima Casa.
"A 10° casa refere-se a questões que envolvem um dos
genitores. Nossa atitude para com o mundo “lá fora” e as figuras de autoridade é fortemente
influenciada pelo tipo de vínculo estabelecido com nossa mãe, cujas qualidades
costumam estar simbolizadas neste campo.
Saturno é o
regente natural da 10° casa, e sabemos ser a mãe
aquela que nos fornece o primeiro sentido de limite. Além disso, em nossa
cultura, muitas mulheres viveram, até pouco tempo, o princípio saturniano
através de seus maridos recebendo deles os seus papéis, estabelecendo contato
com o mundo através deles e utilizando até mesmo seus sobrenomes.
Por
conseguinte, a 10° casa pode descrever
as ambições inconscientes da mãe, suas aspirações ao sucesso, à independência e
ao poder; se este for o caso,
sua vida não-vivida e suas ambições frustradas poderão nos afetar
profundamente.
A 10° casa descreve nosso lugar natural no mundo,
nossa herança e a forma pela qual procuramos expressá-la. Relaciona- se também
com as leis, as instituições, as
estruturas da sociedade e o mundo material; em nível mais profundo, mostra a maneira pela qual
pretendemos realizar nossas potencialidades, manifestar nossa individualidade e
participar do mundo.
Quando
Quíron encontra-se em Capricórnio ou na 10° casa, é comum sentirmos
dificuldades em estabelecer e concretizar nossos objetivos, bem como em definir
nosso lugar dentro da sociedade.
E necessário
termos paciência em nossa ânsia de descobrir uma vocação com a qual podemos
contribuir para o mundo, pois é possível que só se manifeste tardiamente,
precedida de inúmeras e falsas oportunidades.
Por outro
lado, talvez tenhamos também certa dificuldade em desfrutar o prestígio que
outros percebem em nós, de modo que ficamos atormentados com sentimentos de fracasso, não importa o quanto sejamos bem-sucedidos.
Em geral,
convém examinar algumas das razões mais profundas que se escondem por detrás
dessa atitude: é possível que estejamos nos impondo padrões inexequíveis ou
esperando que cada nova montanha a ser galgada seja a última.
Podemos
estar lutando sob a pressão de expectativas da família que nunca poderão ser
concretizadas; talvez estejamos tentando ter êxito onde nossos pais fracassaram
ou atingir metas pelas quais não se esforçaram.
Por fim
podemos nos ver compelidos a fracassar com o intuito de decepcionar nossos
pais, e isso pode, de fato, representar nosso primeiro sucesso.
Todavia, se
esta atitude for inconsciente, continuaremos a nos trair e a fracassar, não por
falta de capacidade e desejo de vencer, mas para castigá-los. Com Quíron em
Capricórnio ou na lO° casa, podemos finalmente encontrar prazer em lutar para
escalar a montanha de nossas ambições.
Talvez
possamos nos apegar a fachadas externas e à representação de papéis para
encobrir nossa vulnerabilidade e ocultar a sensação de que estamos de algum
modo deslocados.
Podemos ou
atribuir demasiada ênfase ao êxito material, ao prestígio e ao status ou, pelo
contrário, evitar o poder e a posição social só para descobrir que colidimos
com o sistema, sendo constantemente multados por estacionar em locais
proibidos, passando pelo pente-fino por ocasião da declaração dos impostos ou
entrando em desavença com figuras de autoridade!
Quando Quíron encontra-se neste posicionamento, a
pessoa parece carecer da noção de responsabilidade. Entretanto, uma análise
mais detida poderá revelar um quadro bem diferente: podemos assumir
responsabilidade por coisas sobre as quais não temos, na realidade, nenhum
controle.
Isso dificulta nossa capacidade de sermos
independentes no mundo, e passamos então a procurar alguém que possa tomar
conta de nós (sombras da 4 casa).
Devemos
desistir de nos empenhar em lutas inúteis, enfrentando dificuldades e
responsabilidades que, em realidade, não são de nossa conta.
Se
assumirmos as obrigações e deveres dos outros, esperando alguma recompensa ou
reconhecimento em troca, poderemos ficar decepcionados, amargos e ressentidos,
recusando-nos a participar da vida.
Algumas vezes, julgamos incorretamente nossas próprias
capacidades, assumimos encargos em excesso, fracassamos e, em consequência de
tudo isso, passamos a nos sentir culpados por não termos assumido nossas
responsabilidades.
Embora possamos sentir certo temor por nossa
notoriedade ou por assumirmos uma posição de controle e autoridade, é possível
que também alimentemos fantasias de poder desconfiado e despótico, geralmente
reprimidas por vergonha e medo.
Se esses
sentimentos constrangedores permanecerem inconscientes, poderemos nos
prejudicar a partir do momento em que começarmos a ter êxito.
Por exemplo,
uma mulher com Quíron na lO° casa estava convencida de que, em vidas passadas,
fora membro de uma família real no antigo Egito.
Estava
deprimida e também preocupada em descobrir que tipo de ato terrível cometera
para cair em desgraça, o que a obrigava agora a lutar por dinheiro e a viver
num modesto apartamento em Londres, juntamente com milhões de outros cidadãos
que não lhe reconheciam as origens nobres.
Ao analisar longamente essa fantasia, percebeu, com
o decorrer do tempo, que só conseguia definir a auto-estima em termos de poder
e status no mundo. A imagem da princesa que acreditava representar sua grande
meta estava atuando como obstáculo, impedindo que realizasse coisas que estavam
dentro de suas capacidades.
Por fim,
começou a vislumbrar essa figura como meio de simbolizar suas qualidades
internas de dignidade, compostura e auto- suficiência.
A partir do momento em que seu senso de auto-
estima começou a melhorar, os conceitos de êxito ou fracasso em termos mundanos
foram perdendo seu rigor e ela, gradativamente, passou a definir objetivos mais
realistas e a concretizá-los.
Uma das
dádivas desse posicionamento é o sucesso que emana de um forte senso de
auto-respeito e auto-estima e não o sucesso como compensação pela falta disso.
Muitas
pessoas com Quíron em Capricórnio ou na 10° casa possuem um senso natural de
autoridade e dignidade que impõe respeito.
Com Quíron em Capricórnio a área ferida pode ser o
relacionamento com o pai pessoal e, portanto, com o princípio paterno em geral.
O pai pode
ter sido desconhecido; pode ter sido visto como fraco e incapaz, ou rígido e
autoritário, ou uma coisa e outra. “Não faça o que eu faço, faça o que eu digo”
é uma mensagem bem conhecida para muitos daqueles que apresentam esse
posicionamento.
Homens e mulheres podem crescer determinados a
nunca serem iguais a seus pais; passam então a vida lutando energicamente
contra o modelo paterno para mais tarde descobrir que esse pai ferido ou
autoritário avulta como verdadeiro gigante no interior de sua própria psique,
ameaçando a concretização positiva de objetivos almejados.
Muitos homens tornam-se pais com a intenção de
“serem diferentes”, porém, para seu assombro, descobrem mais tarde que acabam
por repetir exatamente, se bem que de outra forma, as características de seus
próprios pais, que consideravam tão desagradáveis.
No exemplo citado a seguir, entretanto, o padrão do
pai foi redimido pelo indivíduo que teve a coragem e a oportunidade de
enfrentar primeiro suas próprias feridas.
Este jovem, ao qual darei o nome de Roger, tinha
Quíron em Capricórnio na 5° casa, fazendo parte de uma quadratura T: Quíron em
oposição a Urano em conjunção com Júpiter posicionado em Câncer na 11° casa,
todos fazendo quadratura com Netuno em Libra na 2° casa.
O pai de
Roger foi um homem que venceu pelo seu próprio esforço e subiu
consideravelmente na vida, adquirindo status e transmitindo ao filho um modelo
de educação tipicamente capricorniano.
Suas
atividades profissionais e seu imenso desejo de ter sucesso (no íntimo para
superar o próprio pai) exigiam que passasse longas horas fora de casa, de modo
que Roger foi praticamente criado pela mãe e, assim, mal conheceu o pai.
Quando o pai começou a beber (Quíron de Roger em
Capricórnio fazendo quadratura com Netuno e Libra), tornando-se violento e
exibindo comportamento imprevisível (Quíron em oposição a Urano), Roger
resguardou sua vulnerabilidade ao decidir não tomar qualquer atitude diante da
situação (Quíron em Capricórnio);
também negou
os valores do pai, ligados ao sucesso e à realização material. Posteriormente,
entretanto, Roger viu-se aprisionado em sua não-reatividade emocional;
sentiu-se internamente paralisado e esteve muitas vezes à mercê de um juiz interno
severo e impiedoso.
Quando
Saturno e Plutão em trânsito entraram em conjunção com Netuno e, portanto,
fizeram quadratura com Quíron, Roger iniciou sua terapia.
Teve uma série de sonhos nos quais era atacado e
violentado por um bando de homens loucos e violentos. Ao trabalhar com esses
sonhos, começou a emergir um lado infantil vulnerável até então desconhecido
(Quiron na 5° casa).
A princípio
Roger sentiu apenas desprezo e medo por essa criança; com o pai aprendera que
era sinal de fraqueza demonstrar qualquer sensibilidade.
Pouco depois
desse período, sua esposa engravidou; ele era favorável ao aborto, porém mudou
de idéia no último minuto, a despeito de todo o seu temor de “não ter base
suficiente” para ser pai.
Posteriormente, através de seu relacionamento
com o filho, conseguiu sentir respeito pelo seu próprio sentimento de
vulnerabilidade.
O pai de uma cliente servia no Exército Territorial
e quase sempre estava ausente de casa. A configuração de Quíron dessa mulher
caracterizava-se por Plutão na 12° casa, Marte na 1° casa, ambos em Câncer em
conjunção com o Ascendente, todos em quintil com Quíron na 10? casa;
Saturno, regente natural da 10° casa, encontrava-se
em Sagitário, em sesquiquadratura com Marte. O pai entrou no Exército no ano em
que ela nasceu, e, com o tempo, ela se convenceu de que ele fora embora por sua
causa.
A mãe andava
quase sempre irritada e tinha dificuldade em enfrentar sozinha a situação; esse
ambiente reforçou na filha a ideia de que era culpada por tudo que pudesse
ocorrer, sendo essa vivência simbolizada por Quíron na 10° casa (onde se
encontram tanto a mãe ferida quanto o pai ausente) em quintil com Marte (sendo
ferida pela raiva).
Esse sentimento de ser responsável pela ausência do
pai manteve-se oculto até a morte deste aos cinquenta e três anos de idade. A
certeza inconsciente de que ela era, de certo modo, uma pessoa perversa, fora,
nesses anos todos, absorvendo grande parte de seu senso de auto-estima.
Outra mulher tinha Quíron em Capricórnio na 4°
casa, em aspecto com quase todos os planetas do mapa. Vinha de uma abastada
família de caráter nitidamente patriarca!. Sua rejeição do pai e de tudo o que
ele representava era tão corrosiva que a levou a se tornar lésbica e feminista radical.
Odiava os homens e procurava eliminá-los o mais
possível de sua vida; pertencia também a um grupo que fazia campanha pela
reforma das leis relacionadas com os estupradores.
Entretanto, por debaixo de sua raiva, manavam
dolorosos sentimentos de vulnerabilidade e dependência (Quíron na 4° casa), bem
como um intenso amor pelo pai.
Algumas vezes a ferida de Quíron na 10° casa
reflete problemas relacionados com a mãe. Pode ter sido ela a agressora, e as
mulheres com este posicionamento podem empenhar todo seu esforço para não
repetir os padrões herdados da mãe.
Trata-se também de um posicionamento comum em
pessoas que trabalham no campo da cura, e, por vezes, a escolha da profissão
representa um esforço direto para contrapor-se aos ferimentos decorrentes de
seu relacionamento com a mãe, tornando-se elas próprias “boas mães”.
E também
possível que estejam tentando reparar uma raiva inconsciente contra a mãe. Se
esta foi por algum motivo ferida ou esteve incapacitada, é provável que, quando
ainda muito jovens, tenham sido capazes de enfrentar a vida e cuidar dos
outros.
Ao atingir a
idade adulta, as pessoas com esse posicionamento quase sempre têm empregos que
exigem muita responsabilidade e são peritas em dominar as situações:
entretanto, podem não ser capazes de assimilar a seiva da vida (ecos da 4°
casa).
Por exemplo,
a uma mulher que dirigia um centro terapêutico disseram que agia como
comerciante no processo de cura, sem incorporá-lo. A princípio ela considerou
impossível aproveitar tudo aquilo que estava à sua disposição, a exemplo de
Quíron, que proporcionava aos outros a cura que ele próprio não conseguia para
si.
Por outro lado, um dom
desse posicionamento é a capacidade de estimular o crescimento dos outros, “reprocriando-os”, manifestando amor e dando orientação que podem ter faltado antes. Aqueles que têm Quíron nesse posicionamento também podem assumir com seriedade suas obrigações para consigo mesmos e para com os outros; além disso, não têm medo de enfrentar dificuldades e responsabilidades das quais outros fugiriam assustados".
O texto está livre para divulgação, desde que seja citada a Fonte:
http://dharmadhannyael.blogspot.com.br/2013/10/quiron-em-capricornio-e-na-decima-casa.html
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