domingo, 8 de dezembro de 2013

Complexo de Mártir ou de Vítima?




Complexo de Vítima ou de mártir?

Fazer-se de “vítima” ou de “mártir” são dois dos mais perigosos jogos que o Ego pode jogar. Ambos são jogos que podem destruir nossa vida a não ser que, simplesmente, recusemo-nos a continuar jogando.

Mary era um exemplo clássico de vítima. Ela sofreu maus-tratos na infância, foi criada numa sucessão de lares adotivos e, depois, casou-se com um homem que a espancava habitualmente.

Grávida do terceiro filho, e com a gestação já avançada, o marido atirou-a contra uma cômoda e, em seguida, deu-lhe um pontapé. Ela foi levada para um hospital com três costelas quebradas mas, surpreendentemente, o bebê sobreviveu. Uma assistente social foi convocada e, com muito apoio, Mary mudou-se para um refúgio para mulheres e, depois, para um pequeno apartamento.

Dentro de alguns meses, ela estava em sérias dificuldades financeiras e comprometida com um homem que, segundo suas amigas, tinha um histórico de comportamento violento. “Sei que sou uma tola”, disse ela, “mas parece que simplesmente não consigo ajudar a mim mesma!”

Ela sabia que estava atrapalhando a própria vida e, mesmo assim, continuava. “Se ao menos eu tivesse tido uma infância tranquila, talvez nada disso tivesse acontecido...” Entrementes, um grande número de terapeutas e de outros profissionais tentaram inutilmente ajudá-la, sentindo-se eles próprios cada vez mais impotentes.


Assim como a pobre Mary, muitas pessoas descobrem que estar em crise é a única maneira de pedir amor e atenção. Elas têm medo de que, se a vida correr bem, se conseguirem se arranjar sozinhas, todos vão abandoná-las. Sua esperança é a de que, se chorarem, se lamentarem e rangerem os dentes o bastante, alguém então irá salvá-las, resolver todos os seus problemas e amá-las.

 Obviamente, Annie não queria ser espancada, mas não achava que merecia algo melhor e, por isso, atraía homens violentos para a sua realidade.

Como? Experimente essa nova maneira de ser da próxima vez que se apanhar usando um “melhor do que”. Que tal isso lhe parece?

 As “vítimas” são ímãs que atraem desastres. Elas repetem constantemente o refrão: “Oh, eu sei que não devia ter pena de mim, mas é tudo tão horrível!” As vítimas criam trauma após trauma e, depois, se sentam enquanto os outros tentam ajudá-las — e falham.

 Elas vivem do passado, acreditando que, se tivessem tido pais amorosos, ou se a irmãzinha mais nova não tivesse nascido, ou se não tivessem se casado, tudo estaria bem.

Elas expressam sua raiva destruindo a própria vida e, como consequência, magoando outras pessoas — ao mesmo tempo que arregalam os olhos e assumem um ar de inocência.

A má notícia é que todo mundo se faz de vítima de vez em quando. Sempre que culpamos a sorte, o destino, as circunstâncias, a hereditariedade, a nossa infância, o governo, as outras pessoas ou Deus por qualquer coisa que aconteça na nossa vida, ficamos presos à “mentalidade de vítima” e, portanto, abdicando de parte do nosso poder.

As consequências  de nos fazermos de vítimas são simples: permitem- nos evitar assumir a responsabilidade por nossa vida, punir os outros e entregarmo-nos à autoridade, em vez de cuidar de nós mesmos. Isso não significa que estejamos fazendo esse jogo conscientemente, mas sim que aprendemos a viver dessa maneira, sem percebermos que existe uma alternativa melhor.

Sendo assim, quando deparamos com uma vítima, nunca devemos tentar resolver seus problemas, pois isso serviria apenas para reforçar a ideia de que ela está à mercê das circunstâncias, destituída de força e de recursos próprios, e essa crença deixa-a ainda mais enfraquecida.

 Tampouco devemos culpá-la por suas dificuldades. Em vez disso, devemos proporcionar- lhe meios de assumir a responsabilidade por sua própria vida; e então — se e quando ela estiver pronta —, ajudá-la a compreender suas dívidas e missões ocultas para que possa optar por interromper esse jogo destrutivo.

A condição de mártir é mais sutil e sofisticada — e, portanto, ainda mais perigosa, porque pode passar despercebida. Apesar disso, todos temos um mártir dentro de nós. Laz sugere que, se alguma vez tivermos qualquer uma das seguintes sensações, então esse é o nosso mártir saindo sorrateiramente de seu esconderijo:

1. Sentirmo-nos incompreendidos.
2. Sentirmo-nos malquistos.
3. Sentirmo-nos impotentes.

4. Sentirmo-nos oprimidos por exigências inacreditáveis.
5. Sentirmo-nos sobrecarregados por problemas insolúveis.
6. Sentirmo-nos livres de todas as responsabilidades.
7. Sentirmo-nos julgados ou tratados injustamente.

“Mas eu realmente sou malquisto!” Talvez, e foi você quem criou essa realidade. Por que você fez isso?

Durante a década em que trabalhei no Serviço Nacional de Saúde, vi inúmeros mártires — e boa parte deles pertencia ao corpo de funcionários.

 As conversas na sala do café frequentemente giravam em torno das pressões das listas de espera, da carga de trabalho, dos “casos sem esperança”, da falta de reconhecimento por parte da administração, da ausência de apoio e da inevitabilidade de se trabalhar incontáveis horas além do expediente, sem remuneração, em detrimento da vida pessoal de cada um.

 “Pobres de nós, seres tão maravilhosos!”, era o tácito consenso. As reuniões dos funcionários reverberavam com os pesados suspiros (os mártires gostam muito de suspirar) e estávamos tentando ajudar os nosso clientes a pôr em ordem suas vidas! Não é de surpreender que raramente identificássemos os nosso clientes como outros tantos mártires. Isso os aproximaria excessivamente de nós mesmos.

É raro os mártires se queixarem abertamente de seu destino. Eles em geral negam que sentem pena de si mesmos. — “Não, tudo está bem!” — mas deixam claro que a vida está sendo dura com eles. Eles se sentem esmagados pelas responsabilidades, mas raramente aceitam alguma ajuda. (“Vou me arranjas sozinho.”)

 Eles associam sofrimento a santidade. Enquanto as vítimas vivem no passado, os mártires vivem no futuro: uma era dourada em que seu fardo será aliviado, seus esforços serão reconhecidos e eles serão plenamente vingados. De alguma maneira, porém, esse futuro nunca chega.

Quando eu estava escrevendo este texto, fiz o papel de mártir durante duas semanas. Vi-me trabalhando de 12 a 14 horas por dia, mal saindo para tomar ar e não vendo a hora de terminar o livro para que a vida pudesse recomeçar — em vez de desfrutar o dia-a-dia do processo de escrever, de viver a vida em sua plenitude.

 Meu mundo exterior começou a refletir tudo o que não estava bem, O muro do jardim caiu durante uma tempestade; um pneu de meu carro furou e recebi vários telefonemas “por engano”. Esforcei-me durante algum tempo para compreender essas metáforas até que, durante a meditação, uma voz interior me disse:

 “Você está se martirizando por causa desse livro.” Subitamente, tudo fez sentido! Examinei minhas crenças e decisões, reorganizei minha programação de trabalho, fiz diversos passeios — e senti uma enorme sensação de alívio.

A martirizarão  pode ser vista como uma “silenciosa e justificada cólera que procura uma vingança justa e silenciosa”. Os mártires, sugere ele, querem punição. Eles estão convencidos de serem os únicos que sofrem e recusam-se a ver o impacto que produzem sobre os outros.

Os mártires nunca estão errados. Eles sempre justificam e racionalizam o próprio comportamento. Sempre são as outras pessoas que estão erradas. Eles simplesmente sentem-se incompreendidos e não-reconhecidos.

Na condição de pais, os mártires ensinam os filhos a jogar o jogo. (“Veja tudo o que eu fiz por você, e é assim que você se comporta!”

“Não, você sai para se divertir com seu pai. Vou ficar para esfregar o chão da cozinha, lavar suas roupas e preparar o jantar.”) Os filhos de mártires bem desenvolvidos aprendem que é errado gozar a vida, errado satisfazer as próprias necessidades, errado expressar a raiva diretamente, e que “amor” significa sacrifício de si próprio.

 A não ser que consigam enxergar além do jogo, essas crianças crescem para também ser vítimas e mártires de si mesmas. Mártires geram mártires.

A mãe de Jéssica comportava-se como mártir, e a filha havia aprendido bem o jogo. Aos 17 anos ela ficou grávida de um homem mais velho, que logo a abandonou. Ela foi rejeitada por sua família e mudou-se para outra cidade, onde teve de lutar para criar o filho, sozinha e sem apoio.

 Quando seu filho foi gravemente ferido num acidente de trânsito, ela cuidou dele até ficar exausta, recusando ajuda externa e confortando-se com o pensamento de que, se sua família soubesse o que estava se passando, todos viriam em seu socorro.

Jéssica comprometeu-se com um homem casado, que acabou pondo um fim no relacionamento. Decorridos dez anos, porém, Jéssica ainda estava convencida de que um dia ele perceberia que a amava, chegaria à sua porta com um anel e, depois disso, os dois viveriam felizes para sempre.

De fato, seu guarda-roupa estava cheio de roupas novas, sapatos, perfumes e cosméticos que ela “guardava” para o seu futuro de fantasia. Nesse meio tempo, usava os velhos trapos, semana após semana, vivia na pobreza e mantinha-se “fiel” a seu ex-amante.

Eu tinha conversado com Jéssica ao longo de doze meses, antes que ela chegasse a admitir para si mesma que o amante nunca voltaria.

Demorou ainda mais tempo para ela perceber que não tinha a certeza de que, algum dia, tivesse chegado a desejar que ele o fizesse. Foi preciso muita coragem — e amor-próprio — para admitir que todo o seu sofrimento havia sido em vão.

O Ego é o mártir hipócrita que existe dentro de nós mesmos. É o diabo interior; e se reconhecermos a martirização em nossos amigos, parentes e colegas, então é preciso nos lembrar: o mundo é nosso espelho!

Martirização
1) Considere os sete sinais de martirização relacionados acima e lembre-se de quando você teve esses pensamentos e sentimentos. Como você se comportou nessas situações?

De quem você estava com raiva? A quem você estava tentando castigar? (Poderia ser alguém que nem sequer estivesse lá, como um pai ou mãe que existiam dentro da sua cabeça.)

2) Descreva as vantagens de ser um mártir. Por que você pratica um jogo tão destrutivo? Você gosta de sentir pena de si mesmo? Isso o faz sentir-se especial ou único? Você imagina que, de alguma maneira, será recompensado por ser um mártir? Esta é a sua maneira de ser “poderoso”?

Esta é a única forma de expressar a sua raiva? A quem você se sente incapaz de perdoar? Você acredita que a vida é cheia de sofrimento? Ou que o sofrimento santifica? Você reluta em aceitar a ajuda dos outros porque detesta sentir-se dependente ou agradecido?

 Esta é uma maneira de evitar responsabilidades pela sua vida? Você se apega a problemas porque não sabe em que outra coisa pensar ou discutir com os amigos? (Não basta dizer que você aprendeu com seus pais a se martirizar. Você optou por jogar esse jogo. Por quê?)

3) Anote agora os custos de ser um mártir. Qual é o preço que você paga? Em que a sua vida seria diferente se você desistisse desse jogo?

Como iria sentir-se em relação a si mesmo? Imagine-se sofrendo uma súbita transformação em que o mártir é banido de sua vida para sempre. Como o seu “novo eu” se comporta, pensa, sente e fala? Como a mudança afeta seus relacionamentos, trabalho, finanças, lazer e saúde?


4) Por fim, tome a decisão: você está preparado para abrir mão de suas vantagens em favor dos benefícios de perder o seu mártir? Se for este o caso, comece a ser essa nova pessoa de agora em diante. Sempre que puder, evite começar a fazer o papel de mártir — e, em vez disso, seja amoroso, compassivo, honesto, grato, responsável, otimista, corajoso". Gilda Eds

Este texto está livre para divulgação desde que seja citada a fonte:
http://dharmadhannyael.blogspot.com.br/2013/12/complexo-de-martir-ou-vitima.html

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