http://veja.abril.com.br/noticia/saude/16-perguntas-para-entender-o-transtorno-de-deficit-de-atencao-e-hiperatividade
Psicopedagogia/ Seu filho tem déficit
de atenção?
Conheça as causas do
problema e os sinais de que a criança pode ter o problema
Por Ana Lis
Soares, filha do Marco Túlio e da Arlete
10.07.2013
TDAH na escola
Segundo o mestre em
educação pela Framingham State University, Dr. Gustavo Teixeira, no livro
“Manual dos Transtornos Escolares”, alguns sinais podem indicar que a criança
sofre do problema:
- Deixar de
prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades;
- Ter dificuldade
para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
- Parecer não escutar
quando lhe dirigem a palavra;
Não seguir instruções
e não terminar seus deveres escolares. Ter dificuldade para organizar tarefas e
atividades;
- Apresentar
esquecimento em atividades diárias;
- Falar muito;
Dar respostas
precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas;
- Ter dificuldade
para aguardar a vez;
- Interromper ou se
meter em assuntos dos outros (por exemplo: intromete-se em conversas ou
brincadeiras) etc.
- Diagnóstico – o que
fazer?
O diagnóstico de TDAH
é essencialmente clínico. Não existem exames laboratoriais ou de imagem que o
façam. A investigação envolve detalhado estudo clínico por meio de avaliação
com os pais, com a criança e a escola. A avaliação com os pais deve abranger um
histórico da criança desde a gestação até os dias atuais.
Conheça as causas do
problema e os sinais de que a criança pode ter o problema.
“Tem que olhar no
fundo dos olhos e repetir. Às vezes, até pedir que ela repita o que eu disse e
perguntar: ‘Entendeu? Então me fala o que você tem de fazer”. Se uma mosca
entra no quarto, lá vai embora a concentração.
Como saber se meu
filho tem TDAH?
O transtorno de
Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos comportamentais
com maior incidência na infância e na adolescência. Pesquisas realizadas em
diversos países revelam que ele está presente em 5% da população mundial em
idade escolar. Trata-se de uma síndrome clínica caracterizada, basicamente, por
três sintomas: déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade.
Mas nem sempre é preciso haver os três sintomas
simultaneamente. Crianças e adolescentes diagnosticadas com TDAH têm
dificuldades de focar em um único objeto, têm fácil distração (vivem “no mundo
da Lua”) e não conseguem terminar atividades como deveres de casa.
Além disso,
apresentam facilidade em perder materiais escolares, chaves, dinheiro ou
brinquedos. A criança ou adolescente que possuem o transtorno têm dificuldade
de ficar parados, se levantam por várias vezes da cadeira na escola ou na hora
do jantar, por exemplo.
Causa controversa
Um assunto
controverso, com teorias diversificadas. Uma das principais correntes defendem
que o TDAH seja um fenômeno biológico – ou um transtorno neurobiológico,
funcional e hereditário (forma de diagnóstico americano, seguido pela maior
parte dos profissionais brasileiros).
A outra afirma que se trata de algo
psicológico ou social, ligado à relação da criança com a família e o ambiente
em que vive (forma de diagnóstico usado pela maior parte de profissionais da
França).
Recentemente foi
publicado um estudo que mostra uma diferença gritante em número de crianças com
TDAH nos EUA (que possui 9% das crianças diagnosticadas) e a França (com 0,5%).
Essa discrepância numérica pode ser explicada, segundo autores da pesquisa,
pela forma com que o transtorno é diagnosticado – na França, há maior
preocupação com a avaliação da família e do meio social em que a criança vive.
“O problema existe em todos os lugares,
seja na França, EUA, Brasil. Mas podemos pensar que nos EUA, por exemplo, há
uma pressão maior para o trabalho, os pais têm menos tempo para a educação e
interação com crianças de 0 a
6 anos, fase importante na formação da identidade.
Já em países
nórdicos, existem leis que protegem mais a gestante, a licença-maternidade é
bem maior. Os filhos americanos apresentam estrutura emocional mais imatura.
São inteligentes, mas imaturos”, defende o neurologista infantil e colunista da
Pais & Filhos Saul Cypel, pai de Marcela, Irina, Eleonora e Bruna.
É biológico
Alguns especialistas
acreditam que a herança genética seja o fator mais importante na causa do TDAH.
Muitas crianças com o transtorno possuem familiares (pais, tios, avós, irmãos)
com o mesmo diagnóstico.
A incidência pode chegar até dez vezes mais em
famílias de crianças com TDAH quando comparadas à população em geral. Segundo o
livro “Manual dos Transtornos Escolares” (2013, editora Best Seller), filhos de
pais hiperativos possuem maior chance de terem o transtorno.
Segundo a Sociedade
Brasileira do Déficit de Atenção, o número total de casos no Brasil está entre
5% e 8% das crianças. Estamos mais próximos dos EUA, portanto. Em 60% dos
casos, o transtorno tem diagnóstico tardio, acompanhando o indivíduo para a
vida adulta.
Eles enumeram alguns fatores que influenciam
na tendência ao transtorno, todos associados à herança genética.
Fatores de influência
para a TDAH (segundo a Sociedade Brasileira do Déficit de Atenção:
Hereditariedade: os
genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma
predisposição ao TDAH. A prevalência da doença entre os parentes das
crianças afetadas é cerca de 2 a
10 vezes maior do que na população em geral, o que chamado de recorrência
familial.
Substâncias ingeridas
na gravidez: pesquisas indicam que mães com problemas com álcool têm mais
chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É
importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram
necessariamente uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação
de causa e efeito.
Sofrimento fetal: alguns
estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram
causando sofrimento fetal, tinham mais risco de terem filhos com TDAH. A
relação de causa não é clara.
Exposição a
chumbo: Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem
apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH.
Fatores psicológicos: Para
o neurologista Saul Cypel, o Transtorno de Déficit de Atenção não tem origem biológica.
Para ele, se a causa fosse biológica, não haveria exceção.
“Se você coloca a
criança em frente à televisão, ela fica horas! Super concentrada. Se sou míope,
por exemplo, sou míope sempre – com prazer ou sem prazer. Se quiser jogar, vou
continuar míope, do mesmo jeito que serei ao arrumar meu quarto. Biológico é
biológico”.
No Brasil, há um uso
de medicação muito intenso. Os diagnósticos aqui são realizados na maioria das
vezes pelo modelo de questionário americano. “Não sou a favor da medicação, acho
que tem que ser muito criterioso, tem que olhar muito a família, fazer uma
terapia com a família. Quando você coloca esse tipo de diagnóstico, é preciso
ter muito cuidado. Virou moda”, defende Dr. Saul.
A professora da
Escola AB Sabin de São Paulo, Taís Andrade, mãe da Luiza, tem pós-graduação em
distúrbios de aprendizagem e psicopedagogia e acredita que há abuso de uso de
medicamentos no Brasil.
Para ela, o tratamento ideal deve ter a união
de escola, pais e médicos. “É comum que até os mais novinhos sejam tratados
assim. É precipitado, não concordo. Elas estão explorando o seu mundo, se
colocando... É complicado”, acredita a professora.
O papel da escola
Os professores da
educação infantil hoje são mais preparados a perceber os sintomas e,
precocemente, conversar com os pais. Além disso, são treinados para lidarem com
as crianças com TDAH, ensinarem de forma eficiente, o que é um grande desafio.
Foi na escola que a
Ullya, filha da Flávia, que o problema foi percebido e, graças à união da
família, dos professores e diretores, e dos profissionais da saúde, a menina
agora demonstra melhora.
“É incrivelmente desgastante e frustrante
sentar para estudar para provas com ela, por exemplo. Mas também existe o outro
lado, chamado hiperfoco, quando ficam obcecados por algo, o que pode ser
positivo. Ullya agora está obcecada com vôlei.
Ultimamente, as notas dela começaram a
melhorar muito (desde o diagnóstico), e com o suporte das professoras e corpo
docente, estamos todos apoiando a Ullya”, finaliza a mãe.
O tratamento pode
envolver medicamentos (estimulantes) e intervenções psicoeducativas e
psicoterapêuticas (educação e aprendizagem dos pais, professores e paciente
acerca do transtorno).
No tratamento, gestos
simples como colocar a criança próxima ao quadro negro em sala de aula e longe
de janelas já podem ajudar.
Há também grupos de
apoio a familiares e portadores de TDAH, formado por médicos, psicólogos,
psicopedagogos, terapeutas familiares, fonoaudiólogos, psicopedagogos e demais
profissionais de saúde mental também participam dos encontros e reuniões.
No Brasil, a
Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) é a maior organização
brasileira de portadores, familiares e profissionais da educação e da saúde
mental. http://www.tdah.org.br/
Crianças diagnosticadas
devem receber tratamento – seja de medicamentos e/ou de terapia – pois, se não
bem cuidadas podem apresentar uma série de prejuízos ao longo dos anos, como
perda de autoestima, tristeza, falta de motivação, episódios depressivos e, no
extremo, podem se tornar adultos anti-sociais e inseguros.
Mas, quando tratadas,
as crianças se tornam adultos e profissionais normais. O jornalista e escritor
Gilberto Dimenstein foi diagnosticado tardiamente com o transtorno. Ele falou
em entrevista a Pais & Filhos em 2007 que começou a enfrentar
problemas ainda jovem.
Durante a época da
escola, ele chegou a ser considerado semi-analfabeto. “Era uma sensação
horrível, como se eu estivesse na 25 de Março em véspera de natal. É uma coisa
enlouquecedora”.
O jornalista descobriu
o problema bem mais velho e o médico lhe indicou a medicação. O filho mais novo
de Dimenstein também foi diagnosticado com TDAH e toma remédio. “Meu filho
realmente melhorou, mas ele também começou a se auto-disciplinar. Isso é
difícil, ainda mais para quem não sabe. É como tentar deslizar no gelo”.
Consultoria:
Neurologista infantil e colunista da Pais & Filhos Saul Cypel, pai de
Marcela, Irina, Eleonora e Bruna.
Livro “Manual
dos Transtornos Escolares: entendendo os problemas das crianças e adolescentes
na escola", 2013, de Gustavo Teixeira, Editora Best Seller LTDA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário