"A inveja"
"A inveja pode manifestar-se de forma “decapitadora”,
segundo o protótipo de Caim que odeia competitivamente o outro que tem o que
lhe falta - o rico, o macho, o privilegiado. Porém existe também a inveja
admirativa daquele explora a si mesmo num afã auto exigente para estar à altura
de valores ou modelos sociais com respeito aos quais se sente deficiente.
O caráter masoquista está relacionado a ideia de que o
apego ao sofrimento é seu defeito fundamental. Explica-se este apego por uma
função manipuladora do sofrimento. Por um lado, existe a manobra de atrair amor
através da identificação da própria necessidade e frustração; diz-se: “Bebê
que não chora não mama”.
Por outro lado,
o colocar-se no papel de vítima serve à exigência frustrada através da
culpabilização do outro; algo assim como: “olhe como sofro por tua culpa e
compreendas o que me deves em nome da humanidade e da decência”.
Pode-se também
entender a dor dos sofredores como uma transformação do ódio - que se torna em
um aparente perdão enquanto que, uma posição de sacrifício, “destrói” o outro.
Esta atitude tem sido descrita pela psicanálise ao falar de como o outro se
transforma em um “mau objeto”.
O caráter da inveja manifesta uma forma mais
tipicamente impulsiva e dramaticamente autodestrutiva é a que se chama
personalidade em que existe um temor
doentio ao abandono e uma exagerada
necessidade de proteção e auxílio, assim como um desejo de proximidade física
de quem os provê.
Cria-se uma
dependência amistosa e assume um controle hostil se o protetor ou amante não dá
o suficiente (e nunca o que dá é suficiente) o indivíduo não se permite alegria
ou êxito, por um implícito apego à sua
condição de necessidade e frustração.
A um mecanismo de reclamação que alimenta a carência,
como um caráter masoquista e uma personalidade “boicotadora”; a exigência
através do sofrimento que os caracteriza, de sua dependência afetiva e sua auto
depreciação, (que não crê em si mesmo ) apenas sofre e se desvaloriza diante do
mundo.
Comentando esta observação à luz da psicologia dos
eneatipos, há uma diferença o orgulhoso
acredita, exalta e idealiza sua paixão..
Pode-se dizer que a pessoa invejosa é propensa ao
amor. A inveja é um sentimento carencial, uma voracidade do outro, uma espécie
de canibalismo amoroso que se auto frustra por seu excesso.
Este excesso leva à frustração por dois motivos:
porque pede mais do que lhe é dado esperar e porque molesta o outro com sua
insistência. A situação pode ser comparada à do bebê que morde o peito da mãe
em seu afã; a frustração que o levou a mordê-la em primeiro lugar se soma à
produzida por uma mãe dolorida que lhe faz cara feia ou o rejeita.
A exigência excessiva é resposta à uma frustração anterior,
naturalmente. É como se estivesse dizendo: “Dá-me porque não me deste o
suficiente, compensa-me! Existe nesta exigência de compensação um matiz de
vingança.
Para um adulto que não se desconhece completamente, a
situação se complica porque se sabe “mordedor”, e aquele que tem uma imagem
negra de si mesmo - alguém que percebe a carga agressiva que existe em seu amor
- não se sente digno e antecipa a rejeição, boicota seus relacionamentos e
escolhe pessoas que trazem sofrimento.
É algo bem
conhecido - a antecipação da rejeição que se torna realidade. Um conhecido
chiste o explica: alguém se dirige para a casa de um amigo para pedir-lhe o
violão emprestado. Já a caminho da propriedade vizinha, pensa que pode ser uma
má hora pois talvez seu amigo esteja comendo. Nos poucos minutos de caminhada,
fantasia que não só seu amigo ficara aborrecido como terá pouca boa vontade
para emprestar-lhe o instrumento.
Um violão é uma coisa muito pessoal para alguém que
tenha se dedicado tanto a tocá-lo... Depois de ter batido na porta, o amigo o
recebe e sorrindo lhe pergunta acerca do motivo de sua visita. Ele não consegue
evitar responder: “Vá para o diabo com seu violão! ”
Mesmo sendo o gesto da inveja um excessivo pedir,
demasiada exigência, esta necessidade do amor alheio se baseia em uma
correspondente incapacidade de valorizar- se ou querer a si mesmo;
a pessoa
depende exageradamente do outro não por simples desconexão - mas por uma
desvalorização mais presente que chega a extremos de uma autoagressão
consciente ou de ódio a si mesmo, um sentimento de ridículo. Quando se fala de
uma paixão amorosa, é este o tipo de amor o que se tem presente; o
amor-enfermidade, como disse Maurois.
Pode-se dizer que a intensidade da importância que se
dá ao amor o converte numa grande paixão; porém mais que paixão poderia
chamar-se enfermidade, por seu elemento de dependência e insaciabilidade.
Uma dificuldade adicional para a pessoa que tanto
necessita carinho se sinta querida, além de sua auto invalidação é a invalidação
do sentimento do outro:
“Se tu queres a
mim, que sou uma porcaria, que tipo de pessoa és tu? Se podes enganar-te tanto,
tua necessidade deve ser tão grande quanto a minha.”
A pessoa não
pode conceber-se querida e não se permite a satisfação ainda quando poderia
dizer-se que a conseguiu, embora isto seja difícil porque é muito
característico deste tipo ver o que falta mais do que o que possui.
O amor não é
suficientemente perfeito, ou suficientemente exaltado ou suficientemente
romântico para chegar a tocar a sua sensibilidade. Um amor tão suscetível de
ser ferido ou frustrado se contamina de ressentimento precisamente pela
frustração ou a necessidade. Aquele que me ama,
deve ser muito inferior, menor.
O invejo é um caráter demasiado serviçal, sempre à disposição,
adaptável, inclusive obsequioso, empático, ajudante, sacrificado, que aguenta
até níveis masoquistas a frustração e o sofrimento, porém ao mesmo tempo cobra-
se ou se compensa por todo o seu sacrifício através de uma exaltação de seu
próprio desejo frustrado, que se toma voracidade inconsciente.
O amor dos invejosos torna-se mórbido pela intensidade
de sua sede do outro, por sua interpretação pessimista das situações e sua
tendência à auto frustração. Tão característica como isto ou mais é a tendência
a pedir por meio de um “pôr-se doente”.
A associação da
atitude romântica com a enfermidade é suficientemente reconhecida para que
tenha graça para qualquer um o chiste que encontrei tempos atrás em uma
revista: um médico inclinado sobre o leito de um enfermo, dizia à sua mãe:
“Seu filho é um poeta muito doente. ”
Quanto menos permitido é o pedir e mais vergonhoso o
desejo, maior é a necessidade de atrair o objeto do desejo “inocentemente”,
quer dizer, sem culpa, através da intensificação da experiência -
intensificação histriônica, pode-se dizer - da necessidade e sua frustração.
Quanto mais proibida é a exigência, mais necessário se
faz para este caráter exigir atenção e cuidados, aparentemente sem pretendê-lo,
seja através do sofrimento, de seu papel de vítima ou de sintomas físicos e
dificuldades variáveis.
Às vezes, chama-se a isto, “chantagem emocional” e
observa-se não só entre amantes como entre pais e filhos. A sedução através da
debilidade e da necessidade é para nós um recurso feminino tão conhecido como a
sedução das irresistíveis, que um par de gerações atrás se expressava em
desmaios. Não é, no entanto, mais que uma amplificação do pranto com que toda
criança chama sua mãe pedindo-lhe a satisfação de suas necessidades ou socorro.
Contudo, é necessário distinguir o lamento da verdadeira
compaixão por si mesmo. Apesar de sua busca de compaixão e sua queixa de não encontrá-la
o invejoso dificilmente a sente por si e nem sequer lhe resulta fácil recebê-la.
Nem para receber coisas boas sente-se com direito, pois não só não se ama,
odeia-se, desvaloriza-se e se rejeita.
O amor transpessoal, mais além do eu e do tu, pode- se
dizer que não está caracteristicamente na esfera do religioso nem da do bem
tanto como na esfera da beleza. Os valores superiores com os quais a pessoa se
conecta são principalmente o amor à arte e o amor à natureza. Talvez o amor a
um Deus pessoal se complique com o não se sentir merecedor, porque a evocação
do divino só intensifica a dor da culpa. Além do mais admirar é coisa muito problemática
para os competitivos.
O erótico pode ser veementemente perseguido, pois é
algo que tira o indivíduo do ordinário e acalma sua sede de intensidade; porém
existe neste caráter uma dificuldade de entregar-se ao prazer, e também ao
outro. Tanto é assim que Wilhelm
Reich interpretou o masoquismo como expressão de uma
inibição orgástica. Também é proeminente a expressão do “amor generoso”, tipo
ágape, que se manifesta como orientação ao serviço, defesa dos oprimidos e
empatia. Os que necessitam de piedade não sabem recebê-la, porém se apiedam
facilmente dos demais.
“Ensinamos às crianças
que a inveja é a " tristeza por não ter o que o outro tem”. Quando
recitavam as virtudes correspondentes, cantavam em coro: " contra a
inveja, citavam a caridade.
" A mensagem era clara: tinha
de se alegrar nem fazer bem aos outros, mesmo que se não tinha o que tanto desejou
com todo o meu coração. No entanto, característica dominante, nem sempre são
aquelas pessoas e de mau humor, triste, mas principalmente aqueles que, em
algum momento sua infância, viveram a perda do seu pequeno paraíso: o seu
direito de primogenitura, ou a separação do amor paterno ou do amor maternal.
Aquela dor profunda
na infância tornou-se gradualmente uma espécie de melancolia nostálgica ,
de irremediável falta, do seu mundo que ruiu - o destino arrebatou-os ,
muitas vezes com a chegada de um novo irmão ou irmã, ou a separação súbita e
inexplicável do pai, ou ausência mãe.
O trauma às vezes
acontece na primeira infância e “foi tão profundo que nem me lembro”. O
que sei é que, desde pequeno, algumas vítimas foram consideradas muito
sensíveis: revelaram à compaixão pelos
outros, por um lado, e capacidade empática de sentir o sofrimento do
outro.
Aos poucos,
eles entraram em um círculo vicioso que se formou um caráter particular, que
também poderia ser chamado de "romântico" ou "sensibilidade
artística".
Em geral
pode-se dizer que diante da infelicidade doméstica, e do isolamento interior,
sente-se um pouco perdido em um mundo em que os outros parecem ser mais
felizes, os leva a aumentar o seu desejo de recuperar o paraíso perdido -
anseiam oportunidades e relações que podem construir uma vida perfeita; quanto
maior o desejo, maior será o mundo de fantasia e a desconexão com as suas
necessidades mais básicas e simples.
O invejoso nunca agradece o que tem, sempre
está de olho no jardim do outro. E pensa que não merece um lindo jardim, e por
isso não cuida do seu jardim. Sente-se inferior e fica do lado de fora das
festas da vida, porque acredita que não merece entrar na festa do rei, e nunca
encontra sua princesa, porque se sente um “sapo”.
A característica geral
pode ser a sensação permanente de falta, que causa tristeza, angustia e
desespero: sempre falta algo para ser feliz. Sempre a eterna
insatisfação produzido por aquilo que falta no presente, e que foi
perdido, e podem atrair percalços e infortúnios.
A tristeza está incluída na preguiça e na inveja. Há uma
insatisfação com o presente, vivem no passado, no canto do lamento do passado
sem esperança para o futuro e por isso
não plantam no seu jardim.
Embora muitas vezes
não recebem apoio psicológico, moral ou emocional, acreditando que eles não
merecem, algo que pode ameaçar a sua identidade como vítimas, arrancar seu “pequeno”
hábito alegre de ser sensível ao sofrimento do outro.
Normalmente captura
muito bem os estados emocionais dos outros, Portanto, não é raro encontrar
médicos, psiquiatras, terapeutas, clérigos, conselheiros, enfermeiros e ajuda
em geral a partir de pessoas que podem se identificar com essa característica".
Este texto é
resultado de uma pesquisa, é uma compilação inspirado em vários mestres do
assunto".
Agradeço se você citar
o endereço da fonte quando for compartilhar.
Pesquisado por Dharmadhannya
Nenhum comentário:
Postar um comentário