quarta-feira, 28 de maio de 2014

A inveja


"A inveja"
"A inveja pode manifestar-se de forma “decapitadora”, segundo o protótipo de Caim que odeia competitivamente o outro que tem o que lhe falta - o rico, o macho, o privilegiado. Porém existe também a inveja admirativa daquele explora a si mesmo num afã auto exigente para estar à altura de valores ou modelos sociais com respeito aos quais se sente deficiente.
O caráter masoquista está relacionado a ideia de que o apego ao sofrimento é seu defeito fundamental. Explica-se este apego por uma função manipuladora do sofrimento. Por um lado, existe a manobra de atrair amor através da identificação da própria necessidade e frustra­ção; diz-se: “Bebê que não chora não mama”.
 Por outro lado, o colocar-se no papel de vítima serve à exigência frustrada através da culpabilização do outro; algo assim como: “olhe como sofro por tua culpa e compreendas o que me deves em nome da humanidade e da decência”.
 Pode-se também entender a dor dos sofredores como uma transformação do ódio - que se torna em um aparente perdão enquanto que, uma posição de sacrifício, “destrói” o outro. Esta atitude tem sido descrita pela psicanálise ao falar de como o outro se transforma em um “mau objeto”.
O caráter da inveja manifesta uma forma mais tipicamente impulsiva e dramaticamente autodestrutiva é a que se chama personalidade  em que existe um temor doentio ao abandono e  uma exagerada necessidade de proteção e auxílio, assim como um desejo de proximidade física de quem os provê.

 Cria-se uma dependência amistosa e assume um controle hostil se o protetor ou amante não dá o suficiente (e nunca o que dá é suficiente) o indivíduo não se permite alegria ou êxito, por um implícito  apego à sua condição de necessidade e frustração.
A um mecanismo de reclamação que alimenta a carência, como um caráter masoquista e uma personalidade “boicotadora”; a exigência através do sofrimento que os caracteriza, de sua dependência afetiva e sua auto depreciação, (que não crê em si mesmo ) apenas sofre e se desvaloriza diante do mundo.
Comentando esta observação à luz da psicologia dos eneatipos, há uma diferença  o orgulhoso acredi­ta, exalta e idealiza sua paixão..
Pode-se dizer que a pessoa invejosa é propensa ao amor. A inveja é um sentimento carencial, uma voracida­de do outro, uma espécie de canibalismo amoroso que se auto frustra por seu excesso.
Este excesso leva à frustração por dois motivos: porque pede mais do que lhe é dado esperar e porque molesta o outro com sua insistência. A situação pode ser comparada à do bebê que morde o peito da mãe em seu afã; a frustração que o levou a mordê-la em primeiro lugar se soma à produzida por uma mãe dolori­da que lhe faz cara feia ou o rejeita.
A exigência excessiva é resposta à uma frustração ante­rior, naturalmente. É como se estivesse dizendo: “Dá-me porque não me deste o suficiente, compensa-me! Existe nesta exigência de compensação um matiz de vingança.
Para um adulto que não se desconhece completamente, a situação se complica porque se sabe “mordedor”, e aquele que tem uma imagem negra de si mesmo - alguém que percebe a carga agressiva que existe em seu amor - não se sente digno e antecipa a rejeição, boicota seus relacionamentos e escolhe pessoas que trazem sofrimento.
 É algo bem conhecido - a antecipação da rejeição que se torna realidade. Um conhecido chiste o explica: alguém se dirige para a casa de um amigo para pedir-lhe o violão emprestado. Já a cami­nho da propriedade vizinha, pensa que pode ser uma má hora pois talvez seu amigo esteja comendo. Nos poucos minutos de caminhada, fantasia que não só seu amigo fica­ra aborrecido como terá pouca boa vontade para empres­tar-lhe o instrumento.
Um violão é uma coisa muito pes­soal para alguém que tenha se dedicado tanto a tocá-lo... Depois de ter batido na porta, o amigo o recebe e sorrindo lhe pergunta acerca do motivo de sua visita. Ele não conse­gue evitar responder: “Vá para o diabo com seu violão! ”
Mesmo sendo o gesto da inveja um excessivo pedir, demasiada exigência, esta necessidade do amor alheio se baseia em uma correspondente incapacidade de valorizar- se ou querer a si mesmo;
 a pessoa depende exageradamente do outro não por simples desconexão - mas por uma desvalorização mais presente que chega a extremos de uma autoagressão consciente ou de ódio a si mesmo, um sentimento de ridí­culo. Quando se fala de uma paixão amorosa, é este o tipo de amor o que se tem presente; o amor-enfermidade, como disse Maurois.       
Pode-se dizer que a intensidade da importância que se dá ao amor o converte numa grande paixão; porém mais que paixão poderia chamar-se enfermidade, por seu elemento de dependência e insaciabilidade.
Uma dificul­dade adicional para a pessoa que tanto necessita carinho se sinta querida, além de sua auto invalidação é a invali­dação do sentimento do outro:
 “Se tu queres a mim, que sou uma porcaria, que tipo de pessoa és tu? Se podes enganar-te tanto, tua necessidade deve ser tão grande quanto a minha.”
 A pessoa não pode conceber-se querida e não se permite a satisfação ainda quando poderia dizer-se que a conseguiu, embora isto seja difícil porque é muito característico deste tipo ver o que falta mais do que o que possui.
 O amor não é suficientemente perfeito, ou sufi­cientemente exaltado ou suficientemente romântico para chegar a tocar a sua sensibilidade. Um amor tão suscetível de ser ferido ou frustrado se contamina de ressentimento precisamente pela frustração ou a necessidade. Aquele que me ama,  deve ser muito inferior, menor.
O invejo é um caráter demasiado serviçal, sempre à dis­posição, adaptável, inclusive obsequioso, empático, aju­dante, sacrificado, que aguenta até níveis masoquistas a frustração e o sofrimento, porém ao mesmo tempo cobra- se ou se compensa por todo o seu sacrifício através de uma exaltação de seu próprio desejo frustrado, que se toma voracidade inconsciente.
O amor dos invejosos torna-se mórbido pela intensi­dade de sua sede do outro, por sua interpretação pessimis­ta das situações e sua tendência à auto frustração. Tão característica como isto ou mais é a tendência a pedir por meio de um “pôr-se doente”.
 A associação da atitude romântica com a enfermidade é suficientemente reconhe­cida para que tenha graça para qualquer um o chiste que encontrei tempos atrás em uma revista: um médico incli­nado sobre o leito de um enfermo, dizia à sua mãe: “Seu filho é um poeta muito doente. ”
Quanto menos permitido é o pedir e mais vergonho­so o desejo, maior é a necessidade de atrair o objeto do desejo “inocentemente”, quer dizer, sem culpa, através da intensificação da experiência - intensificação histriônica, pode-se dizer - da necessidade e sua frustração.
Quanto mais proibida é a exigência, mais necessário se faz para este caráter exigir atenção e cuidados, aparentemente sem pretendê-lo, seja através do sofrimento, de seu papel de vítima ou de sintomas físicos e dificuldades variáveis.
Às vezes, chama-se a isto, “chantagem emocional” e observa-se não só entre amantes como entre pais e filhos. A sedução através da debilidade e da necessidade é para nós um recurso feminino tão conhecido como a sedução das irresistíveis, que um par de gerações atrás se expres­sava em desmaios. Não é, no entanto, mais que uma amplificação do pranto com que toda criança chama sua mãe pedindo-lhe a satisfação de suas necessidades ou socorro.
Contudo, é necessário distinguir o lamento da verda­deira compaixão por si mesmo. Apesar de sua busca de compaixão e sua queixa de não encontrá-la o invejoso dificil­mente a sente por si e nem sequer lhe resulta fácil recebê-la. Nem para receber coisas boas sente-se com direito, pois não só não se ama, odeia-se, desvaloriza-se e se rejeita.
O amor transpessoal, mais além do eu e do tu, pode- se dizer que não está caracteristicamente na esfera do reli­gioso nem da do bem tanto como na esfera da beleza. Os valores superiores com os quais a pessoa se conecta são principalmente o amor à arte e o amor à natureza. Talvez o amor a um Deus pessoal se complique com o não se sen­tir merecedor, porque a evocação do divino só intensifica a dor da culpa. Além do mais admirar é coisa muito pro­blemática para os competitivos.
O erótico pode ser veementemente perseguido, pois é algo que tira o indivíduo do ordinário e acalma sua sede de intensidade; porém existe neste caráter uma dificulda­de de entregar-se ao prazer, e também ao outro. Tanto é assim que Wilhelm
Reich interpretou o masoquismo como expressão de uma inibição orgástica. Também é proeminente a expressão do “amor generoso”, tipo ágape, que se manifesta como orientação ao serviço, defesa dos oprimi­dos e empatia. Os que necessitam de piedade não sabem recebê-la, porém se apiedam facilmente dos demais.
“Ensinamos às crianças que a inveja é a " tristeza por não ter o que o outro tem”.  Quando recitavam as virtudes correspondentes, cantavam em coro: " contra a inveja, citavam a caridade.
 " A mensagem era clara: tinha de se alegrar nem fazer bem aos outros, mesmo que se não tinha o que tanto desejou com todo o meu coração. No entanto, característica dominante, nem sempre são aquelas pessoas e de mau humor, triste, mas principalmente aqueles que, em algum momento sua infância, viveram a perda do seu pequeno paraíso: o seu direito de primogenitura, ou a separação do amor paterno ou do amor maternal. 
Aquela dor profunda na infância tornou-se gradualmente uma espécie de melancolia nostálgica , de irremediável falta, do seu mundo que ruiu - o destino arrebatou-os , muitas vezes com a chegada de um novo irmão ou irmã, ou a separação súbita e inexplicável  do pai, ou ausência mãe.
O trauma às vezes acontece na primeira infância e “foi tão profundo que nem me lembro”. O que sei é que, desde pequeno, algumas vítimas foram consideradas   muito sensíveis:  revelaram à compaixão pelos outros, por um lado, e capacidade empática de sentir o sofrimento do outro.
 Aos poucos, eles entraram em um círculo vicioso que se formou um caráter particular, que também poderia ser chamado de "romântico" ou "sensibilidade artística".

 Em geral pode-se dizer que diante da infelicidade doméstica, e do isolamento interior, sente-se um pouco perdido em um mundo em que os outros parecem ser mais felizes, os leva a aumentar o seu desejo de recuperar o paraíso perdido - anseiam oportunidades e relações que podem construir uma vida perfeita; quanto maior o desejo, maior será o mundo de fantasia e a desconexão com as suas necessidades mais básicas e simples.

 O invejoso nunca agradece o que tem, sempre está de olho no jardim do outro. E pensa que não merece um lindo jardim, e por isso não cuida do seu jardim. Sente-se inferior e fica do lado de fora das festas da vida, porque acredita que não merece entrar na festa do rei, e nunca encontra sua princesa, porque se sente um “sapo”.

A característica geral pode ser a sensação permanente de falta, que causa tristeza, angustia e desespero: sempre falta algo para ser feliz.  Sempre a eterna insatisfação produzido por aquilo que falta no presente, e que foi perdido, e podem atrair percalços e infortúnios.

A tristeza  está incluída na preguiça e na inveja. Há uma insatisfação com o presente, vivem no passado, no canto do lamento do passado sem esperança para o futuro  e por isso não plantam no seu jardim.

Embora muitas vezes não recebem apoio psicológico, moral ou emocional, acreditando que eles não merecem, algo que pode ameaçar a sua identidade como vítimas, arrancar seu “pequeno” hábito alegre de ser sensível ao sofrimento  do outro.

Normalmente captura muito bem os estados emocionais dos outros, Portanto, não é raro encontrar médicos, psiquiatras, terapeutas, clérigos, conselheiros, enfermeiros e ajuda em geral a partir de pessoas que podem se identificar com essa característica". 

Este texto é resultado de uma pesquisa, é uma compilação inspirado em vários mestres do assunto". 


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Pesquisado por Dharmadhannya

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