quarta-feira, 30 de julho de 2014

FORCA DO ESPÍRITO VERSUS ESPÍRITO DA FORÇA





FORCA DO ESPÍRITO VERSUS ESPÍRITO DA FORÇA
 HUMBERTO ROHDEN

“Toda atitude negativa ou todo pensamento negativo é uma gestante que leva no seio um embrião feito à sua imagem e semelhan­ça, e, cedo ou tarde, dará à luz uma nova prole de ca­ráter negativo — perpetuando assim a interminável cadeia de males.

O homem profano está sempre disposto a fixar os olhos nos seus fracassos, na falta de resultados imediatos; impressio­na-se sempre com os negativos da vida, esquecendo-se dos positivos.

 Os seus pensamentos e as suas conversas giram em torno dos males que sofreu ou receia sofrer, e fecha os olhos para os bens reais de que sua vida está repleta. Ignora que o “mal” não consiste em alguma realidade, mas que é simplesmente a ausência do real, que é o “bem”.

Que é treva senão ausência de luz?
Que é moléstia senão ausência de saúde?
Que é morte senão ausência de vida?
Que é pecado senão ausência de santidade?
 
O profano, vítima de ignorância, procura debelar os negativos da vida, os males, atacando-os diretamen­te, de frente — o que é tão absurdo como querer afu­gentar as trevas de uma sala espancando-as com paus ou ferros, tentando matá-las com espadas ou lanças.

Sendo que a treva não é senão a ausência da luz, o úni­co meio de acabar com a escuridão é substituí-la pelo, oposto, suplantar a ausência pela presença da luz — e lá se foram as trevas! porquanto o negativo é incom­patível com o positivo.

Da mesma forma, ninguém pode expulsar a molés­tia de outro modo que não seja pela substituição da saúde, ninguém pode expulsar a solidão de outro modo que não  seja pela substituição do amor, como ninguém pode abolir o pecado senão pela introdução da santidade.

Semelhante atrai semelhante — é esta a homeopatia do espírito, é esta a lei eterna e universal que rege o macrocosmo lá fora e o microcosmo cá dentro da mente microcósmica.

Quem vive habitualmente num clima mórbido de negatividade — temor, ódio, rancor, ressentimento, pessimismo, tristeza, desânimo, espírito de crítica e desclaridade prepara o terreno para novas negatividades e derrotas em série.

O único meio de melhorar o mundo e a vida hu­mana é assumir e manter invariável atitude positiva — altruísmo, amor, benevolência, alegria, confiança, espí­rito de caridade e conciliação, atmosfera de harmonia e bem-querença

 — porque o positivo atual cria os positi­vos potenciais, e estes, quando devidamente maturados, geram novas positividades, criando epopeias de bem- estar e felicidade.

O Sermão da Montanha é a Carta Magna da positividade, ou seja, do realismo do mundo espiritual. É a mais gloriosa proclamação da força do espírito sobre o espírito da força.

 O profano, devido a sua atitude negativista, confia no espírito da força, da violência física — e descrê da força do espírito; o iniciado, porém, sabe que toda violência é atestado de fraqueza, e que a mansidão é força e poder.

 Os filhos das trevas, devi­do a seu “analfabetismo”, esperam resultados positivos de meios negativos — paus, pedras, ferros, espadas, lanças, espingardas, canhões, metralhadoras, navios de guerra, torpedos, bombas atômicas, etc. — ao passo que os filhos da luz, graças à sua excelsa sabedoria, abstêm- se de toda violência bruta, porque lhe conhecem a fraqueza, e lançam mão da invencível potência dos fa­tores espirituais, sintetizados no amor.

Cristo, Francis­co de Assis, Tostai, Mahatma Gandhi, e tantos outros iniciados, eram mestres nessa Universidade Espiritual.

Não resistir ao maligno, pagar o mal com o bem, estar disposto a antes sofrer mil injúrias do que cometer uma só, preferir morrer a matar — tudo isto, que ao profano parece tão ineficiente e imprático, embora perdoável a um “idealista”, é para o iniciado supremo realismo, fi­losofia sumamente prática, o caminho único para a felicidade individual e a harmonia social da humani­dade.

Com efeito, não existe na literatura mundial do­cumento de maior realismo do que o Sermão da Mon­tanha.

 O gênio que tais palavras proferiu, como ecos da sua própria experiência, é comparável a um médico insigne que não se contenta com a supressão dos sinto­mas externos duma moléstia, como fazem os charlatães, mas vai diretamente à raiz do mal, diagnosticando-o com infalível certeza e aplicando-lhe remédio radical.

O homem profano, porém, vítima do seu irrealismo crônico, chama “idealismo” (com o que ele entende um irrealismo utópico) aquilo que é infinitamente mais realista e real que todos os seus pretensos “realismos”.

Existe um só processo infalível para acabar de vez com todos os nossos inimigos — é amá-los como ami­gos.

 Adicionar um negativo a outro negativo não é aboli-lo, mas duplicá-lo: ou, em termos comuns, fazer, mal a quem me fez mal é criar dois males em vez de um e aumentar a soma dos males existentes no mundo;

é fazer o mundo de hoje pior do que era o mundo de ontem. Deixar de pagar mal por mal, não aumenta os males existentes, mas também não os diminui, porque continua a existir o mal do meu malfeito.

 Mas, pagar bem por mal é cancelar com um positivo um negativo; quem assim procede faz o mundo de hoje consideravel­mente melhor do que o mundo de ontem.

Em última análise, o que o iniciado sabe intuitiva­mente é absolutamente lógico e racional. Pode-se afir­mar que o místico é o único homem integralmente lógi­co e 100% racional — embora os profanos o conside­rem exatamente o contrário.

 Em Deus, do eterno Logos, se abraçam em fraternal amplexo a Lógica e a Mística, a Razão e a Revelação.
Reduzida a termos mais simples, poderíamos re­presentar a matemática do Sermão da Montanha do se­guinte modo:

a)                  (— 1) + (— 1) — — 2 (pagar mal por mal,'
equivale a dois males)
b)                 (—1) + (0) = —1 (deixar de pagar mal por mal, equivale a um mal)
c)                  (-1) + (+1) = 0 (pagar bem por mal, equivale a zero mal)
No item “c” está a quintessência do cristianis­mo e a salvação da humanidade.
J

O homem profano procura dar cabo de seus ini­migos matando-os, porque, lá no seu primitivo analfa­betismo, ignora por completo a grande lei cósmica que ódio gera ódio, violência produz violência, negativo cria negativo, perpetuando e aumentando assim a in­terminável cadeia dos males, algemando cada vez mais o malfeitor que procura libertar-se do mal multiplican­do os males.


 É como a monstruosa hidra da antiga mito­logia: toda. vez que Hércules lhe decepava uma das numerosas cabeças, nasciam duas novas em lugar da antiga.

 O malfeitor, na sua deplorável cegueira, não compreende que o mal que ele inflige aos outros é um mal muito maior para ele mesmo, porquanto, para os que sofrem, o mal é apenas um mal externo, mas para quem produz, o mal é um mal interno.
 O objeto do ma­lefício é atingido apenas extrinsecamente, ao passo que o sujeito do mal, o malfeitor, é ferido intrinsecamente.

Sofrer uma injúria não me faz pior, mas fazer injúria me faz pior, diminui o meu valor interno, degrada a íntima essência da minha personalidade humana.

Se os homens compreendessem esta simples verda­de e vivessem de acordo com essa compreensão, seria mudada a face da terra.

O melhor meio para perpetuar indefinidamente os nossos inimigos é sermos-lhes inimigos — o meio mais seguro e único de acabar com eles é sermos-lhes amigos.

Quem deita óleo no fogo para o apagar aumenta- lhe a força; quem se abstém de lhe deitar óleo não o apaga, mas permite que continue; mas quem lhe deita água extingue-o instantaneamente.

De uma só coisa necessita a humanidade: de ho­mens perfeitamente realistas, tão realistas como o autor do Sermão da Montanha.

SÓ PODE CONDUZIR QUEM É CONDUZIDO
Verdadeiro guia e condutor da humanidade só é aquele que é guiado e conduzido por Deus, o homem que dele recebeu uma missão para a humanidade.

Isto é, só o homem que recebeu um poder real “de cima”, e não aquele que se arroga um poder fictício e se arvora em soberano e ditador de seus semelhantes.

Os verdadeiros condutores do gênero humano são ho­mens empolgados por uma invisível e irresistível Potên­cia, homens que emergem de horizontes longínquos, de uma ilimitada vastidão e insondável profundidade; ho­mens nos quais opera a magia das forças cósmicas, ou seja, do espírito de Deus.   

É possível que esses homens ignorem a força que os conduz e impele, que não tenham noção clara do soberano que os usa como seus instrumentos e servos — também, quem podia definir analiticamente o Grande Anônimo de mil nomes?...

O que é certo, todavia, é que esses homens-mistério se acham penetrados e total­mente permeiados daquele elemento sobre-humano que os empolga e que se lhes torna cônscio de formas várias — talvez na consciência nítida duma grande Responsa­bilidade, ou como a Verdade, o Dever, o Sacrifício, a Imolação, o Devotamento a uma grande causa, ou como a arrebatadora potência de um Amor sem limites. . .
É em torno desses homens onerados de uma gran­de missão, esses homens cujo pequeno Eu humano foi totalmente absorvido pelo grande Tu divino — é em torno desses poucos que gravitam os muitos que neces­sitam de firmeza e de guia, porque esses homens sabem o caminho que muitos ignoram;

 e, indiferentes a vivas e morras, a louvores e impropérios, seguem esse cami­nho com a imperturbável segurança e dinâmica tranquilidade das magnas torrentes, na sua vasta e taciturna jornada rumo ao oceano, recebendo de ambos os lados os pequenos e grandes afluentes que nelas se afun­dam.  .

Esses homens divinamente guiados jamais impõem a sua vontade individual â pessoa alguma, porque vo­tam imenso respeito e sagrada reverência à liberdade de todo ser humano, cientes como estão da confiança que necessitam de seus guiados;

 mas, como são canais abertos por onde fluem as impetuosas torrentes da Di­vindade, é inevitável que, querendo ou não querendo, se tornem centros de gravitação no seio de vastos siste­mas planetários que, espontaneamente, giram em torno desses sóis do universo humano.

São esses os verdadeiros guias e condutores da humanidade, porque humildes e dóceis servos nas mãos do Onipotente.

Só quem é por Deus conduzido pode ser um con­dutor de homens.
Quem é conduzido pelo Ego individual é um “guia cego”, e, por isto mesmo, um sedutor em vez de um condutor. ~

Um guia assim, divinamente guiado, era aquele homem de Nazaré, em torno do qual gravitam, através dos séculos e milênios, os melhores dentre os filhos dos homens. . . 

Havia largos anos que Thomas Edison trabalhava para crear a lâmpada elétrica de filamentos, que hoje nos parece algo tão natural e simples.

 Depois de haver realizado, neste sentido, setecentos experimentos diver­sos sem nenhum resultado satisfatório, disseram-lhe alguns dos seus colaboradores profissionais: “Ê tempo perdido, sr. Edison! Fizemos setecentos experimentos de todas as espécies, e não adiantamos um passo — não sabemos nada!”

— O quê? — exclamou o grande inventor — Não adiantamos um passo? não sabemos nada? Conhecemos setecentas coisas que não dão certo — e isto vocês chamam “nada”? Estamos mais próximos da verdade por setecentos passos do que dois anos atrás — e isto vocês consideram tempo perdido?

Edison continuou a pesquisar com imperturbável perseverança e os fatos provam que o grande gênio ti­nha razão.


O mesmo acontece no terreno espiritual.

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