quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O bicho Papão vai te comer com batatas”.




Hoje eu vi um pai dizer a uma criança de 4 anos: “O bicho Papão vai te comer com batatas”.

Fiquei abalada, e pensei sobre a figura Paterna e materna na vida da criança.  A mãe representa para a criança proteção, acolhimento, amparo, confiança, nutrição, continente, segurança e limites.

Quando a criança não encontra amparo da família não consegue internalizar os limites, o amor, a proteção familiar,  o contato com a realidade, com o mundo fica muito difícil.  A criança cresce sem controle emocional, sem chão, sem base para lidar com a vida, com suas emoções, e com o mundo.

Cada um carrega dentro de si,  a mãe internalizada que representa sua âncora, nos mares da vida.

Se a mãe ameaça a criança que vai “jogá-la ao mar”, ela fica a deriva, e  seu barco interior segue sem rumo, sem a figura mágica da mãe que protege,  e pode viver com medo, e ameaçada de ser comida pelos “tubarões”. O  sentimento de abandono é avassalador, para a pequena criança, que não sabe lidar com uma realidade tão cruel.

A inteligência da criança está envolvida nas transformações imaginadas do seu eu e do mundo, particularmente imperiosas.

 Sua consciência está presa na fantasia; a realidade torna-se um jogo que pode ser de terror, ou de “maravilhas”, a criança não tem condições de diferenciar a fantasia da realidade, mas ela precisa confiar na família e encontrar no seu mundo interno a proteção e amparo que necessita.

“O imaginário da criança é cheio de bichos, monstros, fantasmas, quando ouve ameaças de agressão da família a criança pode apresentar sintomas fóbicos, de regressão, agressividade incontrolável, depressão e pode despertar o medo durante a noite ou mesmo no meio de uma brincadeira no jardim de sua casa, no quarto ou na escola.

Qualquer acontecimento que ela não é capaz de compreender ou controlar produz sentimentos de insegurança, fragilidade, vulnerabilidade.  Do ponto de vista psicológico representa uma expressão simbólica de conflitos relacionais carregados de fantasias de morte, destruição, doença que escondem o impulso agressivo dirigido ao outro significativo amado, hostil e/ou temido.


 A criança projeta no desconhecido, no objeto, na situação (roupas, ônibus, pessoas estranhas, animais) o perigo da ausência (ou presença) e falta de suporte parentais.

 A angústia é situada em algo concreto, sendo assim transformada em ansiedade, para que possa ser enfrentada, caso contrário, a criança viverá uma iminente e confusa sensação de aniquilamento acompanhada de sentimentos de desamparo, desproteção e de incapacidade de autodefesa”. (1)

A criança internaliza o opressor e pode se tornar tão agressiva quanto ele,  ou pode  ser agressiva consigo mesmo e descarregar essa raiva somatizando e criando doenças como “punição”.

Ela interpreta raiva dos pais  com a sua, como desejo de remover a fonte de raiva. E tem medo de ser abandonada, e punida.

Uma criança rejeitada fica marcada para toda a vida, com o trauma da rejeição e da falta de amor, pode carregar uma raiva reprimida que internalizada  pode  desenvolver uma agressividade contra si mesmo ou contra o mundo, gerando uma incapacidade de amar, de se relacionar socialmente.

A criança que sofre tortura física e mental pode manifestar  abalos psíquico, fobias, insegurança, depressão, apatia, embotamento afetivo, dificuldade de aprendizagem, déficit intelectual, agressividade, psicopatia, hiperatividade e tendência ao isolamento social, dificuldade de sentir empatia e amor por outras pessoas.

A criança que não encontra proteção dentro da família, pensa que ela é má, que não merece ser amada e o desenvolvimento saudável de sua personalidade fica abalado”.

Aluísio Gonçalves  nos ensina que “Segundo Edinger:
A criança tem de si mesma uma experiência bem concreta de ser o centro do universo. A mãe, a princípio, responde a essa exigência; conseqüentemente, os relacionamentos iniciais tendem a encorajar a criança a pensar que seus desejos constituem uma ordem para o mundo – e é absolutamente necessário que assim seja.

Se a dedicação total e constante da mãe à necessidade da criança não for experimentada, esta não poderá desenvolver-se psicologicamente. (Edinger, 1995, p.33.)

Como podemos perceber o amor maternal é essencial para a criança suportar a rejeição que a vida inevitavelmente impõe, uma parte da estrutura do ego vai depender dessa relação primária entre mãe e filho, pois sabemos que mais cedo ou mais tarde o mundo começa necessariamente a colocar limites nas exigências feitas pela criança.

Segundo Neumann (1996), a mãe e o filho experimentam o relacionamento primário, no qual a mãe é a fonte de orientação, proteção e nutrição.

Caminhando nesta linha de reflexão, ou seja, a mãe como representante do inconsciente chegamos ao arquétipo materno que compreende não somente a mãe ‑­real de cada pessoa, mas também todas as figuras de mãe no papel de apoio, nutridora, protetora e acolhedora. (Isto quer dizer mulheres em geral, imagens míticas de mulheres como, por exemplo: Virgem Maria, Mãe Terra, Deméter e Avó).

O arquétipo materno inclui aspectos tanto positivos quanto negativos, sendo os aspectos positivos: nutrir, acolher, proteger etc. Os negativos seriam: a mãe ameaçadora, dominadora, controladora entre outros. Assim finalizo esta breve apresentação do papel materno e sua influência no desenvolvimento tanto da consciência como para o crescimento da criança.

Espero que tenha ficado claro o quanto à mãe é vital para uma estruturação do ego, principalmente no inicio da vida, pois, a criança, recebendo esse amor incondicional da mãe estará com maiores chances de estruturar o ego para suportar os limites e frustrações que a vida coloca.

Passaremos agora ao arquétipo paterno: o pai, na abordagem Junguiana, tem a função de separar a criança da mãe, pois, como foi mostrado anteriormente, a criança, na fase inicial da vida, forma um todo com a mãe, tanto nos aspectos físicos quanto emocionais desde a gestação.

 No momento do parto acontece a separação física da criança com o corpo da mãe, no entanto a criança permanece ainda psiquicamente ligada à mãe.

O arquétipo materno como já vimos está relacionado ao inconsciente, já o arquétipo paterno ou masculino está associado ao desenvolvimento da consciência.

O pai enquanto terceiro elemento, na dinâmica familiar é importante na estruturação do ego, principalmente no que está relacionado ao desenvolvimento da consciência.
Poderíamos refletir que sem a figura masculina a criança correria um risco de ficar presa no universo inconsciente.

De acordo com Neumann (1995), o patriarcado representa à estação solar, na qual é instalada a relação da criança com o mundo e a lei.

A presença do pai na relação mãe e filho proporcionam uma ruptura na simbiose e onipotência infantil. Através da figura paterna se instala o princípio de realidade, adiamento do desejo e separação ‑ ­da criança do mundo materno.
 Com a figura do pai a criança tem a possibilidade de sair da relação de exclusivamente que vive com mãe.

O pai, portanto, frustra a criança e mostra a ela a realidade externa, o terceiro elemento entra em cena. Daí a importância do pai no desenvolvimento da consciência, bem como no desenvolvimento infantil.

Segundo Jung (2002), atrás do pai pessoal existe o arquétipo do pai, o arquétipo paterno existe antes mesmo do pai, aí esta o segredo do poder paterno. Quando falamos do arquétipo paterno é preciso compreender que através dele instaura-se a ordem, cultura, disciplina, as relações de poder, respeito às hierarquias e autoridade.

À medida que a criança vai integrando o conhecimento através das experiências parentais, ela poderá compreender, na relação com o pai, a colocar limites em si mesma e no outro.

Temos aqui as polaridades do arquétipo paterno. Em termos positivos ele representa; a ordem, estabilidade, segurança, responsabilidade e autoridade. Nos aspectos negativos encontramos a impotência, impulsividade, depressão, desumanização, sofrimento, rigidez etc.

Parece-me claro o quanto o pai é importante para o desenvolvimento, tanto psicológico como físico, de uma criança ou uma pessoa.

Através da experiência com o pai a criança tem a possibilidade de projetar seu mundo interior e descobrir que existe outra realidade além da qual ela está intrinsecamente envolvida, o pai chama e apresenta ao filho o mundo externo e racional, discriminar o eu e o outro que habita em nós.

Em outras palavras, os aspectos inconscientes precisam dos aspectos conscientes e vice-versa. Para nos desenvolvermos precisamos nos encontrar com a nossa imagem de mãe e pai.

Quando ocorre o diálogo entre os aspectos inconscientes e conscientes, estamos próximo do processo que Jung chamou de individuação”.

Este texto é resultado de uma pesquisa é uma compilação, inspirado em vários mestres do assunto, especialmente: Aluísio Gonçalves.
1 . desconheço o autor, recebi o texto pela internet.

Dharmadhannya
a gradeço se ao compartilhar citar a fonte.
Haja luz para compartilhar para o bem de todos.

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