sábado, 27 de dezembro de 2014

A inveja - Pesquisas nos revelam...



A inveja - Pesquisam  nos revelam...
Resumo
Inveja : Quem está livre dela?
 Revista Mente e Cérebro
Por Jan Crusius e Thomas Mussweiler

DIFÍCIL DE SER ADMITIDO, O SENTIMENTO TEM NUANCES QUE VÃO DO INTENSO DESEJO DE DESTRUIR A FELICIDADE ALHEIA À MOTIVAÇÃO PARA BUSCAR REALIZAÇÕES PESSOAIS; ESTUDOS RECENTES REVELAM QUE RECONHECÊ-LO PODE NOS AJUDAR A SUPERAR LIMITAÇÕES.

É raro encontrar alguém que, em nenhum momento tenha sido alvo da inveja alheia. Ao mesmo tempo, porém, ninguém gos­ta de admitir que nutre esse sentimento em relação a qualidades, oportunidades ou posses de outra pessoa afinal, reconhecer isso pode ser interpretado como fraqueza ou mesmo defeito de caráter.

 Para atenuar o eventual mal-estar, muitos recorrem ao termo “inveja branca” para se referir a um sentimento de admiração “não destrutivo”.

O fato, porém, é que as várias manifestações e intensidades da inveja fazem parte do dia a dia e são, com alguma frequência, explicitadas nas artes e na cultura.

Numa passagem bíblica clássica, o invejoso Caim, filho de Adão e Eva, mata Abel, seu próprio irmão. Na Antiguidade, o filósofo grego Sócrates a considerava “a úlcera da alma”.


Em Otelo, de William Shakespeare, o sentimento move o personagem lago a destruir o protagonista. Na ... Divina comédia, Dante Alighieri descreve com de­talhes como almas carregadas de ressentimento por aquilo que não desfrutaram marcham pelo purgatório com as pálpebras fechadas para nunca mais verem o mundo através de “olhos invejosos”.

O fato é que de alguma forma, ainda que inconfessa, a maioria de nós está bastante familiarizada com esse poderoso sentimento, muitas vezes definido pela dor de ocupar uma posição inferior àquela que almejamos ou por querer o que é do outro.

 Esse desejo intenso pode ser direcionado tanto para uma reluzente Ferrari vermelha, como para uma conquista de trabalho ou ainda para uma característica física ou capacidade, como a de falar bem em público.
 Entre os sete pecados capitais, a inveja ocupa uma posição singular: nunca é divertida, como a gula ou a luxúria, por exemplo, que têm seu apelo calcado em algum tipo de satisfação.

ONDE MORA A DOR

A novidade é que o sentimento tem chamado a atenção de psicólogos e neurocientistas que começam a se dedicar a estudar suas nuances com mais profundidade. O neurocientista japonês Hidehiko Takahashi, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência Radiológica, em Tóquio, conduziu um estudo sobre o desconforto mental que o sucesso alheio nos causa, com base em cor­relações neurais, publicado pela Science.

 Usando ressonância magnética, ele examinou o cérebro de 19 voluntários (dez homens e nove mulheres) na faixa etária dos 20 anos e identificou o lugar onde esses sentimentos são processados: a região do córtex cingulado anterior é ativada - a mesma região onde a dor física se processa. Ou seja, a inveja é uma emoção dolorosa.

Em seu pior aspecto, o sentimento pode nos levar a sentir prazer com o sofrimento alheio e até mesmo a prejudicar os outros de maneira direta ou indireta, com um comentário maldoso, por exemplo.

Mas, por incrível que pareça, a in­veja tem seu lado bom: se soubermos lidar com ela, é possível que funcione como um incentivo para melhorar nosso próprio desempenho em tarefas desafiadoras.

Um defensor da ideia de que o sentimento nem sempre é destrutivo foi o grego Aristóteles. Ele descreveu seu lado escuro e destrutivo e o prazer com a dor do outro, hoje capturado pelo ter­mo alemão Schadenfreude, algo como “bem feito, acho pouco”. No entanto, o filósofo também sugeriu que a inveja pode nos incentivar a lutar com mais afinco pelo que desejamos, outra faceta ainda pouco explorada pelas investigações empíricas.


Para a Psicanálise , nem os bebes estão livres dela.

Em certa ocasião, um homem extremamente invejoso de outro que morava na casa ao lado recebeu a visita de uma fada, que lhe ofereceu a chance de realizar um único desejo.

“Você pode pedir o que quiser, desde que seu vizinho receba o mesmo e em dobro”, disse ela. O invejoso respondeu, então, que queria que ela lhe arrancasse um olho. Moral da história: o prazer de ver o outro se prejudicar prevaleceu sobre qualquer anseio de, benefício pessoal.

A fábula foi usada pela psicanalista Melanie Klein (1882-1960) em sua obra Inveja e gratidão (1947), um dos principais trabalhos sobre o tema, para ilustrar o funcionamento psíquico de quem vive intensamente esse sentimento.

“Cheguei à conclusão de que a inveja é um fator muito poderoso no solapamento das raízes do sentimento de amor e gratidão, pois ela afeta a relação mais antiga de todas, a relação com a mãe”, escreveu.

De acordo com esse olhar, a inveja é a mais radical das manifestações do impulso destrutivo, pois leva a atacar e destruir o objeto bom, aquele cuja introjeção é a base da saúde psíquica.

 Esse afeto, nem sempre consciente, dificulta a apropriação de experiências boas e, portanto, a integração psíquica.

Segundo a autora, esse afeto não é fruto da decepção ou frustração, faz parte de nossa vida mental desde que somos bebês e independe das atitudes maternas e do ambiente. Pelo contrário, provém do próprio sujeito, é endógena.

Propor que seja um aspecto constitucional significa salientar o fator interno. A proposta de uma inveja primária é uma das mais polêmicas da teoria kleiniana.

De acordo com essa tese, ainda bem pequenos invejamos o seio materno, capaz de nos alimentar e confortar.

 A ideia de que o alimento bom e reconfortante não nos pertence aparece associado ao sentimento de impotência, já os psicanalistas Donald Winnicott, William R. D. Fairbaim e Michael Ballint postulam que a inveja é sempre secundária, resultante de uma falha do ambiente

LONGE DOS OLHOS
Embora tenhamos a tendência de ignorar o su­cesso dos outros - até mais do que gostaríamos de admitir-, não agimos assim exclusivamente por inveja.

 Para entender o motivo desse com­portamento, nossa equipe da Universidade de Colônia, na Alemanha, decidiu investigar como suprimimos os impulsos negativos antes que to­mem conta de nós.

 Descobrimos diversas razões: além de socialmente indesejável, a inveja pode ser extremamente desagradável e dolorosa, por isso não medimos esforços para esconder nossa insa­tisfação ou transformar essa emoção. Em outras palavras, nos controlamos para conter a inveja.

No entanto, essa capacidade pode ser di­minuída por qualquer fator que limite nosso pensamento, como ter de lidar com interações complexas, pressões de tempo ou outras situa­ções estressantes.

 Seria possível suscitar inveja ao sobrecarregar o estado de alerta e diminuir o grau de bem-estar emocional de uma pessoa? Como parte de um estudo desenvolvido em 2012.

Realizamos o que chamamos de um “teste doce” com pedestres que festejavam o carnaval de rua de Colônia. Imaginamos que a maioria estivesse embriagada, portanto com o autocontrole enfra­quecido.

 Pedimos que os voluntários fizessem um desenho para disputar com nosso assistente um chocolate caro ou um doce medíocre.

O que eles não sabiam é que manipulamos os resultados para que sempre perdessem. Aqueles com níveis mais altos de álcool admitiram com certa facilidade sentir inveja do nosso colega.

 Mas quando repetimos o teste com outras pessoas, dessa sem a presença do assistente (ao entregarmos resultado dissemos que o concorrente já há recebido o melhor chocolate);

 os participantes reagiram com maior tranquilidade, sem expressar inveja. Ou seja, o ditado popular “longe dos olhos, longe do coração” parece fazer sentido: os indícios sugerem que ter o objeto fisicamente presente favorece a inveja.

O sentimento também pode ampliar nossos desejos e apegos.

 Por exemplo, se descobrirmos que um colega de trabalho que têm a mesma função e o mesmo tempo na empresa ganha mais isso certamente nos incomodará e passaremos desejar ter o mesmo salário que ele, ainda que antes de obter a informação estivéssemos satisfeitos com nossos rendimentos.

 Para investigar melhor essa relação, realizamos em nosso laboratório outro teste de paladar. Sobrecarregamos o auto­controle de nossos voluntários com uma tarefa cognitiva: eles deveriam guardar na memória um número de oito dígitos.

 Então, distribuímos bis­coitos simples aos participantes enquanto viam as pessoas de outra sala receberem sorvete de excelente qualidade.

 Observamos que quando estavam preocupados em se lembrar da sequência numérica a tendência era que sua capacidade de conter emoções fosse diminuída, o que os fazia expressar com maior facilidade inveja e desejo intenso pela sobremesa alheia.

A oxitocina hormônio que favorece a criação de vínculos e fortalece a ligação da mãe com seu bebê, deflagra sentimentos de confiança mas também pode ter efeito bastante adverso: faz aumentar a inveja.

A constatação vem de um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Haifa, em Israel.

Durante o experimento, 59 voluntários participaram de um jogo que prevê ganhos e perdas monetárias. Os pesquisadores perceberam que os participantes do experimento sentiam mais inveja depois de serem derrotados por um oponente virtual se tivessem recebido uma dose de oxitocina. Os integrantes do grupo que usou placebo tiveram essa rea­ção bastante atenuada.

A oxitocina também impulsionou sentimentos prazer com o infortúnio alheio quando as pessoas ganharam mais dinheiro que seu oponente.

 “Esse hormônio não enfatiza apenas emoções pró-sociais, que enten­demos como positivas; tem efeito sobre sentimentos em geral e age de acordo com a situação em que a pessoa se encontra”, diz a especialista em cognição Simone Shamy-Tsoory, que coordenou a pesquisa.

 Ela reconhece, porém, que nem sempre é fácil pesquisar o tema em razão da dificuldade das pessoas de admitir diante de um pesquisador aspectos sombrios da personalidade, como inveja e regozijo com a infelicidade alheia.

Experimentos anteriores realizados com animais já sugeriam esse efeito “duplo” da oxitocina. Fêmeas de ratos que receberam uma infusão de oxitocina em uma área do cérebro onde o hormônio age, foram mais agressivas com os intrusos da mesma espécie.

 A maioria das pesquisas com seres humanos, entretanto, tem mostrado que o hormônio nos torna mais propensos a confiar nos outros, a ser mais tolerantes, a ava­liar as pessoas com benevolência e a se lembrar do rosto daqueles com quem interagimos.

 O artigo sobre o estudo realizado em Israel foi publi­cado no periódico científico Journal of Biological Psychiatry. (Da redação)

O que diz a neurociência
A ATIVAÇÃO DO SISTEMA DE RECOMPENSA E, PORTANTO, A SENSAÇÃO DE PRAZER,  É REDUZIDA QUANDO O CÉREBRO ENTENDE QUE O SUCESSO ALHEIO É MAIOR

Se o mundo fosse simples, pouco importaria o que acontece com os outros quando a gente ganha ou perde. Mas não: se você perde dinheiro, fama ou recursos mas seus colegas perdem ainda mais, sua perda é relativizada, e você sente até um prazerzinho com a dor maior dos outros.

 É a Schadenfreude, palavra alemã que descreve o pra­zer com o sofrimento alheio quando este alivia o nosso. A Schadenfreude tem sua utilidade ao relativizar nossas perdas - assim como a estratégia de trazer um bode fedido (metafórico ou não) para a sala ajuda a colocar nos­sos problemas em perspectiva:

o infortúnio alheio nos lembra que nossa sorte poderia ter sido pior. Desde que ela seja curtida em silêncio, a Schadenfreude até que não faz mal a ninguém.

O problema é que essa relativização também acontece no outro sentido e afeta nossa capacidade de curtir a própria sorte.

 Se você ganha, pouco deveria importar se os outros também ganharam ou não; o que você fez deu certo. No entanto, descobrir que alguém ganhou ainda mais do que você diminui seu prazer.

 É daí que nasce a inveja: da relativização do seu sucesso, mesmo quando ele deveria ser perfeitamente satisfatório.

 Seu prazer de conseguir comprar um carro bacana deixa de ser tão bom quando você descobre que o vizinho comprou um carro melhor ainda pelo mesmo valor. A inveja é a cobiça do sucesso alheio à custa do próprio desmerecimento.

A neurociência conseguiu localizar as bases da inveja justamente no sistema de recompensa, o conjunto de es­truturas do cérebro que sinaliza quando nossas ações são bem-sucedidas e nos premia com uma sensação física e mental de prazer.

 A Schadenfreude ocorre quando o cérebro registra o lado bom de uma situação que deveria ter sido apenas ruim, e gera ativação do sistema de recompensa - e com isso, prazer - quando o sofrimento alheio indica que você foi mal, mas poderia ter sido pior.

O mesmo acontece na inveja: a ativação do seu sistema de recompensa, e portanto, sua sensação de prazer, é reduzida quando seu cérebro entende que seu sucesso poderia ter sido maior - como prova o alvo da sua inveja.

Como a Schadenfreude, a inveja tem lá sua utilidade, ao lembrar que você poderia se sair ainda melhor. A pena é o custo da inveja, que estraga o que poderia ser um prazer perfeitamente bom.

 Mas existe saída: é possível usar estratégias cognitivas para sufocar a inveja, colocar-se no lugar dos outros e vivenciar com eles o sucesso ainda maior que o seu.

 Ainda bem que essa capacidade, a empatia, nosso cérebro também tem.

SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autora do livro Fique de bem com seu cérebro (Sextante, 2007), dentre outros.

Pesquisas

Recentes descobertas reforçam as descrições iniciais de Aristóteles. Segundo Takahashi, o prazer com o sofrimento alheio também tem lugar no cérebro: o Shadenfreude se estabelece no estriado ventral, exatamente onde se processa a sensação de prazer.

 Em seu experimento, o cientista induziu os voluntários a imaginarem um cenário que en­volvia outros três personagens, do mesmo sexo, da mesma idade e profissão dos participantes.

Dois deles seriam, hipoteticamente, mais-capazes e inteligentes. Dessa comparação nasce a inveja, especialmente quando as pessoas são muito parecidas.

 Ou seja: é mais comum uma mulher se incomodar com outra, da mesma faixa etária e profissão, do que com alguém com características totalmente diferentes. A inveja decorre, portanto, de uma comparação na qual o invejoso “perdeu" a disputa e, com isso, sentiu-se inferiorizado.

Em uma pesquisa de 2009, o psicólogo social Niels van de Ven e seus colegas da Universidade de Tilburg, na Holanda, compararam o modo como holandeses, americanos e espanhóis expressam sentimentos intensos de inveja no respectivo idioma (em holandês, alemão, polonês e tailan- dês existem duas palavras; em inglês e espanhol apenas uma).

 Independentemente da língua, o estudo revelou dois tipos de inveja: a maliciosa, caracterizada por pensamentos sombrios e desejo de prejudicar; e a benigna, com hostilidade menos evidente, embora também carregue alguns aspec­tos desagradáveis. Em relação a esta, porém, os voluntários relataram mais sentimentos positivos como admiração.

 Também demonstraram maior propensão a acreditar que a pessoa invejada me­recia a sorte que tinha, enquanto eles mesmos deveriam se esforçar para alcançar seus objetivos.

Cada nuance da inveja afeta o comportamento humano de uma maneira. Em um experimento de acompanhamento, os pesquisadores instruíram alguns estudantes de língua holandesa a recordar uma situação em que sentiram admiração, inveja benigna ou maliciosa, enquanto os demais parti­cipantes do estudo permaneceram isolados.

 Em seguida, todos foram reunidos novamente para resolver um problema. Aqueles que haviam rela­tado momentos em que sentiram inveja benigna foram mais persistentes e bem-sucedidos na hora de solucionar o enigma do que seus pares dos demais grupos.

 Os pesquisadores concluíram que o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard estava certo quando supôs que “admiração é feliz auto entrega; inveja é infeliz autoafirmação”.

Tomando como base o desenvolvimento da espécie humana, os cientistas apontam outros potenciais benefícios da inveja. Os psicólogos evolucionistas David M. Buss, da Universidade do Texas em Austin, e Sarah E. Hill, da Univer­sidade Cristã do Texas, sugerem que o ato de nos compararmos repetidamente com nossos vizinhos pode ter ajudado a avaliar melhor nosso desempenho na competição por recursos.
 Além disso, o sentimento de inferioridade e a frustração inflamados pelo desejo de ter o que outro tem costuma disparar um alerta de que estamos em desvantagem.

Impelidos por essa motivação, muitos poderiam se empenhar em compensar deficiências e superar a si mesmos.

O problema das explicações evolutivas é que são difíceis detestar. Por isso, Sarah e seus colegas examinaram uma hipótese relacionada: desejar o que é do outro pode ajudar a melhorar nosso desempenho nos dias atuais.

 Os pesquisadores pediram a alguns alunos que relembrassem situ­ações em que sentiram inveja. Em seguida, em uma atividade aparentemente não relacionada, os participantes do experimento leram entrevistas fictícias sobre as metas de carreira de alunos da mesma idade.

Aqueles que haviam refletido sobre momentos em que desejaram ter pertences alheios passaram mais tempo atentos às informações e se lembraram de mais detalhes em um teste de memória, em comparação com colegas que faziam parte de um grupo controle.

Os cientistas concluíram que a inveja realmente parece aguçar nossa atenção em relação ao meio social, aumentando o interesse em potenciais concorrentes.


AS UVAS ESTÃO VERDES...
Será que estamos simplesmente à mercê de nossos impulsos ou eles podem ser dominados voluntariamente?

Em outro experimento, disse­mos aos participantes que haviam sido escolhidos aleatoriamente para beber um suco de repolho ou uma saborosa bebida à base de sorvete de frutas

 (o que eles não sabiam era que só tomariam a bebida à base de verdura e que pesquisadores disfarçados de voluntários receberiam o preparado mais sabo­roso).

Dividimos os voluntários (verdadeiros) em três grupos: o primeiro era formado por aqueles que tomaram o suco de repolho sozinhos; no se­gundo estavam os que beberam acompanhados de voluntários que ganharam a outra bebida; no terceiro, os que estavam sob carga cognitiva (pesa­da e leve). Medimos a impulsividade de todos eles.

Em seguida, os participantes visualizaram na tela de um computador imagens das duas bebi­das e de outros objetos aleatórios.

Na sequência, receberam um aparelho para indicar, o mais rapi­damente possível, onde a figura aparecia. Trazer o dispositivo para si aumentava a imagem; empur­rar, a diminuía.

Aqueles que tiveram o autocontrole comprometido pela tarefa difícil foram mais ágeis para puxar o mecanismo nos momentos em que a bebida de sorvete aparecia - mas, curiosamente, isso só acontecia quando nossos “cúmplices”, que haviam ganho o alimento saboroso, se apro­ximavam.

No entanto, observamos uma resposta exatamente oposta dos participantes que não sofrer a interferência na capacidade de controlar as emoções.

 Quando nossos colegas chegavam perto, eles rapidamente afastavam a batida de sorvete. Expressavam menor interesse por essa bebida que pelo suco de repolho ou pelos objetos aleatórios. Talvez para mitigar emoções negativas, rejeitavam o objeto invejado.

 Assim como a lenda da raposa e as uvas, de Esopo, os participantes po­dem ter inicialmente cobiçado, mas, em seguida, menosprezado o delicioso deleite fora do alcance.

Sentir inveja dói. O invejoso sente-se ferido, excluído de um direito que, segundo acredita, é (ou deveria ser) seu - e seu cérebro registra essa experiência como um sofrimento físico.

Uma das formas saudáveis de lidar com a inveja é nos concentrarmos nos aspectos que controlamos de uma situação.

 Por exemplo, se o sucesso de um conhecido desperta demasiadamente sua atenção, procure focar em suas próprias metas. Se não encontrar motivação suficiente, tente buscar sentimentos de gratidão pelas coisas boas que tem em sua própria vida.

 Olhar para o que temos (e não para o que nos falta) pode nos ajudar a valorizar oportunidades.

Obviamente não se trata de fazer apologia da inveja num mundo cada um de nós talvez tivesse equilíbrio emocional suficiente para ter consciência das próprias limitações e potenciais - e, como diz a música, desfrutar “da dor e da delícia” de ser quem somos.

 Mas não é assim, sabemos. Porém, a saída para o desconforto que a inveja causa requer um tanto de coragem: desenvolver a capacidade de alegrar-se, verdadeiramente, pelos dotes ou conquistas alheios.

A grande vantagem disso é, ao mesmo tempo, agregara possibilidade de tomarmos o outro como exemplo, sem deixar de lado nossos próprios pontos fortes.

 E, ao con­trário do que pode parecer à primeira vista, não se trata de engrandecer ainda mais o invejado, mas sim de usufruir de alegrias, realizações, e aprender com elas, sem permitir que o sucesso alheio se torne motivo de tormento.     

OS AUTORES
JAN CRUSIUS e THOMAS MUSSWEILER são psicólogos sociais da Universidade de Colônia, na Alemanha. Crusius estuda as consequências de nos compararmos com os outros em relação a pensamentos, emoções e comportamentos. Mussweiler investiga cognição social e processos de comparação social.

Para saber mais:
Appraisal patterns of envy and related emotions. Niels van den Ven, Marcei Zeelen- berg e Rik Pieters em Moti- vation and Emotion, vol. 36, n° 2, págs. 195-204, junho de 2012.
When people want what others have: the impulsive side of envious desire. Jan
Crusius eThomas Musswei- ler em Emotion, vol. 12, n? 1, págs. 142-153, fevereiro de 2012.
Why envy outperforms admiration. Niels van den Ven, Marcei Zeelenberg e Rik Pieters em PersonaliPj and Social Psychology Bu!- letin, vol. 37, ne 6, págs. 784-795, junho de 2011.

Comprehending envy. Richard H. Smith e Sung Hee Kim em Psychologicai Bulletin, vol. 133, np 1, págs. 46-64, janeiro de 2007. Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Klein. Imago, 1991.

Postado Por Dharmadhannyael
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