Este texto é belíssimo, um dos melhores que já li... a vida integrada com tudo e com todos depende da nossa
Afinidade e sintonia
Silvia Helena Visnadi Pessenda
“A afinidade consiste na semelhança,
identidade ou conformidade de gostos, interesses, sentimentos, propósitos,
pontos de vista.
Por sua vez, a sintonia se estabelece em
virtude da atração e da simpatia que passa a vigorar entre as partes que mantêm
afinidade. E pelos mecanismos da lei de afinidade, a sintonia constitui lei
inderrogável. Quais as implicações, as consequências disso?
Afinidade é “uma faixa de união” em que
nos integramos uns com os outros. [1]
Em tudo, vemos integração, afinidade,
sintonia... E de uma coisa não tenhamos dúvida: através do pensamento,
comungamos uns com os outros, em plena vida universal. [2]
Todas as coisas que existem no Universo
vivem em regime de afinidade. Desde o átomo até os arcanjos tudo é atração e
sintonia. Nada que te alcança a
existência é ocasional ou fruto de uma reação sem nexo.
Teu livre-arbítrio indica com precisão a
posição de ocupas no Cosmo, uma vez que cada indivíduo deve a si mesmo a
conjuntura favorável ou adversa em que se situa no momento atual.
Vieste da inconsciência – simples e
ignorante – e, pela lei da evolução, caminhas para a consciência escolhendo a
estrada a ser percorrida.
Encontrarás o que busca.
Tens a posse daquilo que deste.
Convives com quem sintonizas.
Conhecerás o que aprendeste, mas somente
incorporarás na memória o que vivenciaste.
Avanças ou retrocedes de acordo com a
tua casa mental.
Felicidade ou infelicidade são
subprodutos de teu estado íntimo.
Amigos são escolhas de longo tempo.
Teu círculo doméstico é a materialização
de teus anseios e de tuas necessidades de aprendizagem.
Pelo teu jeito de ser, conquistarás
admiração ou desconsideração.
O que fizeres contigo hoje refletirá no
teu amanhã, visto que o teu ontem decidiu o teu hoje.
Com teus pensamentos, atrais, absorves,
impulsionas ou rechaças. Com tua vontade, conferes orientação e rumo, apontando
para as mais variadas direções. Disse Jesus: “Pedi e vos será dado; buscai e
achareis; batei e vos será aberto”.
Sintonia é a base da existência de toda
alma imortal. Seja na vida física seja na vida astral, a lei de afinidade é
princípio divino regendo a ti, a todos os outros e a tudo.
Observa: viver no drama ou na realidade,
na aflição ou na serenidade, na sombra ou na luz, é postura que está
estritamente relacionada com teu modo de sentir, pensar e agir. [3]
A afinidade consiste na semelhança,
identidade ou conformidade de gostos, interesses, sentimentos, propósitos,
pontos de vista. Por sua vez, a sintonia se estabelece em virtude da atração e
da simpatia que passa a vigorar entre as partes que mantêm afinidade.
Podemos aprender, com os postulados da
Doutrina Espírita e sua literatura, que, pelos dispositivos da lei de
afinidade, a sintonia constitui lei inderrogável, ou seja, que não pode ser
abolida, anulada, eliminada, extinta.
E
qual a implicação, a consequência disso? Onde colocarmos os pensamentos e os
sentimentos, aí se nos desenvolverá a própria vida, porque vivemos sob a
influência das crenças e valores que alimentamos, das emoções que cultivamos,
das aspirações e dos propósitos que guiam nosso cotidiano.
Sejamos ou não conscientes dessa
responsabilidade, cada um de nós encontra-se, constantemente, atraindo as
circunstâncias e as pessoas que, de uma forma ou de outra, entram em
consonância com o nosso mundo interior.
Assim, cada um de nós conviverá sempre e
em toda parte e a todo momento com aqueles com os quais se afina, efetuando
inevitáveis trocas energéticas.
E qualquer alteração nesse compartilhar
dependerá, necessariamente, da transformação de nossa condição íntima, porque
as forças que nos unem uns aos outros são as que, em primeiro lugar, emitimos
de nós. Em essência, somos o que pensamos e sentimos – e, por conseguinte, o
que fazemos –, conectando, de modo automático, nosso mundo interno ao universo
externo, pois estamos com todos e no todo e tudo está em nós.
Parafraseando o “dize-me com quem andas
e dir-te-ei quem és”, concluiremos que, basta conhecermos nossas reais
motivações e a índole de nossos amigos, para atestarmos com quem desejamos nos
assemelhar.
Nesse sentido, o espírito Emmanuel
advoga que, se sintonia é acordo mútuo, “todo aquele coração que palpita e
trabalha no campo dos ensinamentos de Jesus, a Jesus se assemelhará.” [4]
Mentes comungam com mentes que se lhes
assemelham.
Espíritos sintonizam com espíritos que
lhes são afins.
Pessoas sincronizam com pessoas em quem
se comprazem. [5]
E, na grande romagem, todos somos
instrumentos das forças com as quais estamos em sintonia.
Todos somos médiuns, dentro do campo
mental que nos é próprio, associando-nos às energias edificantes, se o nosso
pensamento flui na direção da vida superior, ou às forças perturbadoras e
deprimentes, se ainda nos escravizamos às sombras da vida primitivista ou
torturada.
Cada criatura, com os sentimentos que
lhe caracterizam a vida íntima, emite raios específicos e vive na onda
espiritual com que se identifica. [6]
Na sua carta aos hebreus (12:1), o
Apóstolo Paulo comenta sobre uma “nuvem de testemunhas” a nos rodear,
advertindo-nos quanto à condição moral dos indivíduos que temos por companheiros.
Todavia, serão eles apenas os que se encontram, materialmente, participando de
nossa rotina familiar, profissional e social?
Segundo os ensinamentos trazidos por
Allan Kardec, organizador e codificador da Doutrina Espírita, a realidade é
muito mais ampla. Pelo nosso modo de ser e de agir, não somente escolhemos os
amigos e os ambientes de nossa preferência, como também atraímos os indivíduos
que vivem no mundo espiritual – os espíritos –, tanto quanto somos por eles
atraídos, mesmo que não acreditemos ou sejamos conscientes dessa presença.
Na questão 484, de O LIVRO DOS
ESPÍRITOS, temos: “Os Espíritos se afeiçoam de preferência por certas pessoas?”
[7]
Resposta:
Os bons Espíritos simpatizam com os
homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem; os Espíritos inferiores com os
homens viciosos ou que possam vir a sê-los. Daí sua afeição, por causa da
semelhança das sensações.
Em outra oportunidade, Kardec também
comentou: “Todas as imperfeições morais são outro tanto de portas abertas que
dão acesso aos maus Espíritos.” [8]
Cada um de nós constrói, de uma maneira
muito particular, sua própria atmosfera moral. As desarmonias e transtornos
existenciais são decorrentes das imperfeições morais, e que, pelos processos
naturais da afinidade e da sintonia, atraem espíritos igualmente imperfeitos e
desequilibrados.
E, estes, ao envolverem com seus
pensamentos perturbadores e doentios o indivíduo que se permite sofrer-lhes o
assédio, influenciam negativamente o campo da vontade e do discernimento do
encarnado, podendo empurrá-lo para situações difíceis, complicadoras ou
calamitosas.
No entanto, o Espírito Joanna de Ângelis
explica o ‘reverso da medalha’:
Como não existem violências contra as
Leis universais, nem privilégios para uns indivíduos em detrimento de outros,
quem ora e procura situar-se em equilíbrio direciona ondas mentais que alcançam
as Regiões felizes da Espiritualidade, despertando amor e interesse dos Guias
espirituais, que acorrem pressurosos para auxiliá-lo.
Assim, promovem encontros inesperados,
inspirando um e outro a tomarem o mesmo caminho, de forma que se defrontarão em
determinado lugar, casualmente, embora hajam sido telementalizados na escolha
do roteiro.
Noutras vezes, determinada aspiração ou
necessidade que se apresente improvável, porque a mente se encontra em sintonia
com o mundo transcendente, é inspirado a tomar tal ou qual decisão que
terminará por solucionar o desejo.
Repetidamente, pequenas ocorrências
dão-se com naturalidade, propiciando encantamento e ventura, que enriquecem de
esperança e de gratidão aquele que é eleito. [9]
Sintonizar é estar na mesma frequência
mental-emocional de outrem, podendo captar e emitir pensamentos
simultaneamente. Dessa forma, sintonizar com os espíritos é colocar-se
predisponente ao contato psíquico com eles de forma consciente ou inconsciente.
Cada indivíduo assimila as forças
superiores ou inferiores com as quais se identifica. Por isso mesmo, Jesus
recomendou a vigilância e a oração como antídotos contra as sugestões
desequilibrantes, oriundas tantos dos encarnados como dos desencarnados.
Para a sintonia com os espíritos
superiores, devemos desfocar o pensamento e o sentimento daquilo que esteja nos
incomodando ou deixando-nos desassossegados, de modo a captar outras ideias
disponíveis à nossa consciência.
Daí a importância de aprendermos a
disciplinar os pensamentos, exercitando a higiene mental através de reflexões
superiores e da oração, pois são estas que nos permitem a mudança/elevação de
nosso estado íntimo.
Todavia, cultivar bons pensamentos e
sentimentos durante a oração não é simplesmente construir boas idéias no
momento em que se queira conectar com os espíritos desencarnados voltados ao
bem, mas, também estabelecer um estilo de vida pessoal que favoreça
naturalmente o surgimento de ambos.
Assim, aquele que é ético e trabalha-se
continuamente no exercício de sua amorosidade, obviamente que tem por
testemunha os espíritos do amor e da paz, e que o auxiliam em sua trajetória
evolutiva, pois, se é verdade que cada um somente pode dar conforme o que tem,
torna-se obvio que cada um recebe de acordo com aquilo que dá.
Bons pensamentos contribuem para a
sintonia com Bons Espíritos. Bons sentimentos fortalecem a ligação do indivíduo
com aqueles espíritos, na medida em que foram construídos com base na bondade e
no amor. A amorosidade da pessoa é uma das formas mais seguras de construir
sentimentos superiores. [10]
****
Na faixa mental em que você atua, é
natural que receba as mensagens com o mesmo teor vibratório como as envia.
Quem aspira à elevação moral e
espiritual, sintoniza com vibrações superiores, que se fazem estímulos
vigorosos, produzindo harmonia interior e renovação.
(...) Quem se demora no pessimismo,
acalentando insucessos, assimila ondas inferiores, que carreiam miasmas
pestilenciais, fixando-os nos paineis da emoção, que geram desequilíbrios e
enfermidades.
(...) A felicidade começa no ato de
desejá-la.
A desdita se inicia no instante em que
você lhe dá guarida.
Utilize bem o tempo, tudo fazendo para
que o seu momento seguinte seja-lhe sempre mais promissor e agradável.
O que não alcance agora, insistindo,
conseguirá depois.
Eleja, portanto, os ideais de
engrandecimento humano e não se detenha nunca. [11]
Urge conscientizarmo-nos de nossa
condição de espíritos imortais, e que, como tal, devem realizar-se através da
incorporação dos mais elevados princípios e valores da moralidade e da
amorosidade.
Quando Allan Kardec, em O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO, por orientação dos Espíritos Superiores, ressaltou a
importância do estudo [12], não o fez com a propósito de que nos
intelectualizássemos em excesso,
sobretudo para demonstrar aos demais a
superioridade de nossa capacidade e inteligência, mas para que, por meio dos
conhecimentos adquiridos, aprendêssemos a selecionar o que verdadeiramente
contribuísse para com o nosso enriquecimento íntimo.
A
reeducação íntima nos tira da ociosidade, traz luz ao espírito, harmoniza a
mente, bem como possibilita a aproximação dos espíritos interessados em nossa
ventura.
De acordo com o Espírito André Luiz,
nossa alma pode ser comparada a espelho vivo com qualidades de absorção e
exteriorização. Recolhemos a força da vida em ondas de pensamento e as
expressamos através das palavras, dos exemplos, das atitudes.
Procederam acertadamente aqueles que
compararam nosso mundo mental a um espelho.
Refletimos as imagens que nos cercam e
arremessamos na direção dos outros as imagens que criamos.
E, como não podemos fugir ao imperativo
da atração, somente retrataremos a claridade e a beleza, se instalarmos a
beleza e a claridade no espelho de nossa vida íntima.
Os reflexos mentais, segundo a sua
natureza, favorecem-nos a estagnação ou nos impulsionam a jornada para a
frente, porque cada criatura humana vive no céu ou no inferno que
edificou para si mesma, nas reentrâncias
do coração e da consciência, independentemente do corpo físico, porque,
observando a vida em sua essência de eternidade gloriosa, a morte vale apenas
como transição entre dois tipos da mesma experiência, no “hoje imperecível”.
[13]
- 278. Os Espíritos das diferentes
ordens estão misturados?
Sim e não; quer dizer, eles se vêem, mas
se distinguem uns dos outros. Eles se evitam ou se aproximam segundo a analogia
ou a simpatia de seus sentimentos como acontece entre vós. É todo um mundo do
qual o vosso é o reflexo obscuro.
Os Espíritos da mesma categoria reúnem-se por
uma espécie de afinidade e formam grupos ou famílias de Espíritos unidos pela
simpatia e pelo objetivo a que se propuseram: os bons pelo desejo de fazer o
bem, os maus pelo de fazer o mal, pela vergonha de suas faltas e pela
necessidade de se encontrarem entre os que se lhes assemelham.
Tal uma grande cidade onde os homens de
todas as categorias e de todas as condições se vêem e encontram sem se confundirem;
onde as sociedades se formam pela analogia dos gostos; onde o vício e a virtude
convivem sem se falarem. [7]
Conforme as informações compiladas por
Allan Kardec, no mundo espiritual, os espíritos se organizam de acordo com seus
níveis evolutivos e por semelhança de propósitos e interesses. À medida que
evoluem e mudam de situação, ainda assim, se agrupam com aqueles que se
encontram na mesma faixa de evolução. Na vida material, também os encarnados se
buscam pelas afinidades e, em geral, realizam suas tarefas de acordo com suas
motivações.
Todos temos um círculo de amizade
preferido. São as afinidades resultantes de experiências vividas em comum: atos
de amor compartilhados; feridas abertas por alguns, mas cicatrizadas pela
amizade e pelo cuidado de outros; problemas em comum e que exigem a união de
esforços para serem resolvidos; compromissos de auxílio recíproco... Para uma
existência agradável, é fundamental a convivência com pessoas que entendam a
vida de forma parecida à nossa, que busquem os mesmos objetivos que os nossos,
que professem a mesma religiosidade... Tudo isso é bastante natural e deve ser
cultivado.
No entanto, nada disso nos impede de
estabelecer uma boa relação com os demais, participando de fatos e ações ao
lado deles. Afinal, conviver com as diferenças nos ajuda a crescer, a
desenvolver nossas potencialidades de compreensão e de aceitação para com
aqueles que não cultivam os mesmos gostos, interesses, sentimentos, propósitos
e pontos de vista. Quanta tranquilidade poderíamos usufruir se apenas
aprendêssemos a nos livrar da visão de acharmo-nos o melhor, o sempre correto,
de ser senão o dono da verdade, ao menos o seu melhor intérprete. Ficaria mais
fácil aceitar a nós mesmos e ao outro.
É no lar que os espíritos renascem juntos
por afinidades e, sobretudo, por contingências expiatórias, em virtude de a
família ser o principal organismo depurador de conflitos do passado. É nela que
se reúnem antigos amores e velhos desafetos, ambiente no qual os espíritos têm
a oportunidade de exercitar o perdão e o amor sob os mais diversos aspectos.
Segundo os postulados espíritas, pelo
fato de os laços de sangue nem sempre reunirem as almas essencialmente afins, o
componente da família que conosco se relaciona e com o qual não temos afinidade
ou mesmo sentimos certa aversão, é sempre alguém a quem temos de aprender a
compreender e aceitar em nosso próprio benefício. E a aceitação não consiste na
concordância com suas inadequadas atitudes, mas na disposição de ajudá-lo na
superação de suas dificuldades, notadamente, as íntimas.
Na questão 204, de O LIVRO DOS
ESPÍRITOS, Allan Kardec questiona a Espiritualidade Maior: “Uma vez que temos
tido várias existências, a parentela remonta além da nossa existência atual?”
[7]
Resposta:
Não pode ser de outra forma. A sucessão
das existências corporais estabelece entre os Espíritos laços que remontam às
existências anteriores. Daí, muitas vezes, decorre as causas da simpatia entre
vós e certos Espíritos que vos parecem estranhos.
E, em O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO,
o codificador anota:
Os Espíritos formam, no espaço, grupos
ou famílias unidos pela afeição, pela simpatia e pela semelhança das
inclinações; esses Espíritos, felizes por estarem juntos, se procuram; a
encarnação não os separa senão momentaneamente, porque, depois da sua reentrada
na erraticidade, se reencontram, como amigos ao retorno de uma viagem.
Frequentemente mesmo, eles se seguem na encarnação, onde se reúnem numa mesma
família, ou num mesmo círculo, trabalhando em conjunto para seu mútuo
adiantamento. Se uns estão encarnados e outros não o estejam, nem por isso não
estão menos unidos pelo pensamento; os que estão livres velam sobre os que
estão cativos; os mais avançados procuram fazer progredir os retardatários.
Depois de cada existência, deram um passo no caminho da perfeição; cada vez
menos ligados à matéria, sua afeição é mais viva, pelo fato mesmo de ser mais
depurada, não perturbada mais pelo egoísmo, nem pelas nuvens das paixões. Eles
podem, pois, percorrer um número ilimitado de existências corporais, sem que
nenhum prejuízo afete sua mútua afeição.
Entenda-se que se trata aqui da afeição
real de alma a alma, a única que sobrevive à destruição do corpo, porque os
seres que não se unem neste mundo senão pelos sentidos, não têm nenhum motivo
para se procurarem no mundo dos Espíritos.
Não há de duráveis senão as afeições
espirituais; as afeições carnais se extinguem com a causa que as fez nascer;
ora, essa causa não existe mais no mundo dos Espíritos, enquanto que a alma
existe sempre. Quanto às pessoas unidas pelo único móvel do interesse, elas não
estão realmente em nada unidas uma à outra: a morte as separa sobre a Terra e
no céu.
A união e a afeição que existem entre os
parentes são indício de simpatia anterior que os aproximou; também diz-se,
falando de uma pessoa cujo caráter, gostos e inclinações não têm nenhuma
semelhança com os de seus parentes, que ela não é da família. Dizendo isso, se
enuncia maior verdade do que se crê.
Deus permite, nas famílias, essas encarnações de Espíritos antipáticos
ou estranhos, com o duplo objetivo de servir de prova para alguns e de meio de
adiantamento para outros. Os maus se melhoram pouco a pouco ao contato dos bons
e pelos cuidados que dele recebem; seu caráter se abranda, seus costumes se
depuram e suas antipatias se apagam; é assim que se estabelece a fusão entre as
diferentes categorias de Espíritos, como ocorre na Terra, entre as raças e os
povos. [14]
13
Nós e Jesus
Fazendo um balanço, através de reflexões,
és impelido a renovar conceitos, face à necessidade de colocar o Senhor em
muitas das posições que Lhe competem e que Lhe tens negado.
Não poucas vezes, receoso e desiludido,
interrogas, concluindo falsamente, qual registrando resposta infeliz, decorrente
da íntima secura que padeces.
Se ainda não te convenceste da
necessidade de sintonizar com Ele, completa os raciocínios, pondo-O presente e
notarás diferenças.
Mencionas cansaço e desequilíbrio como
carga que se sobrepõe, esmagadora, quase te conduzindo ao fracasso. Todavia:
"O fardo é leve!"
Referes que a amizade de amigos
transitou da tua para províncias estranhas. Em decorrência sofres o vazio que
ficou na alma, graças à deserção deles. No entanto: "Aquele que não tomar
a sua cruz e seguir-me, não é digno de mim."
Esclareces que a monotonia das
atividades a pouco e pouco mata o ardor do ideal que antes te abrasava. Tens a
sensação de que já não é a mesma a chama da fé, que ardia em ti.
Apesar disso:
"O trabalhador da undécima hora faz jus ao salário daquele da hora
primeira."
Informas que desejarias novos sinais dos
Céus, a fim de que se robustecessem as convicções que parecem esvaziadas de
conteúdo, na torpe sociedade de consumo.
Sem embargo, a lição é simples: "os
que não viram e creram."
Minado por enfermidades insistentes que
te roubam a vitalidade, inquires: "Onde o auxílio divino, na direção das
minhas necessidades?" Não obstante, a resposta está enunciada há quase
dois mil anos: "Nem todos foram curados."
A ronda da fome aumenta cada vez mais,
ampliando as dimensões dos seus domínios, e a miséria, soberana, governa
milhões de destinos. Marejam-se os teus olhos, em justa compunção. No íntimo,
indagas: "Por que o Senhor não solve a dificuldade?"
Entrementes, a elucidação já foi dada:
"Nem só de pão vive o homem..."
Sim, são horas de balanço interior,
momento de colher o resultado da semeadura.
Cada um respira emocionalmente o clima
da província psíquica em que situa as aspirações.
O homem alcança o destino que lhe
compraz, e o ideal, nele, tem a vitalidade que o suprimento de sacrifício lhe
dá, através de quem o sustenta.
És parte da família que constitui o
rebanho do Cristo. O Senhor prossegue o
mesmo. Faze um exame racional e honesto,
a fim de verificares se a mudança, por acaso, não terá sido de tua parte.
O rumo que Ele nos aponta continua
indicando liberdade. As amarras foram construídas por cada qual, para a
própria escravidão espiritual.
Diante de tais considerações, no báratro
dos tormentosos dias, convém consultar Jesus, sem cessar, e, se tiveres ouvidos
capazes de escutar-lhe, discernindo, percebê-lo-ás a repetir: "Eu sou o
Caminho: Vinde a mim!" [15]
O Espírito consciente, no entanto,
embora submetido às leis que lhe presidem o destino, tem consigo a luz da razão
que lhe faculta a escolha.
A inteligência humana, encarnada ou
desencarnada, pode contribuir, pelo poder da vontade, na educação ou na
reeducação de si própria, selecionando os recursos capazes de lhe favorecerem o
aperfeiçoamento.
A reflexão mental no homem pode, assim,
crescer em amplitude e sublimar-se em beleza para absorver em si a projeção do
Pensamento Superior.
Tudo dependerá de nosso propósito e
decisão.
Enquanto nos comprazemos com a
ignorância ou com a indiferença para com os princípios que nos governam, somos
cercados sem defensiva por pensamentos de todos os tipos, muitas vezes na forma
de monstruosidades e crimes, em quadros vivos que nos assaltam a
imaginação ou
em vozes inarticuladas que nos assomam à acústica do espírito, conduzindo-nos
aos mais escuros ângulos da sugestão.
É por isso que notamos tanta gente ao
sabor das circunstâncias, aceitando simultaneamente o bem e o mal, a verdade e
a mentira, a esperança e a dúvida, a certeza e a negação, à maneira de folha
volante na ventania.
Eduquemo-nos, estudando e meditando,
para refletir a Divina Inspiração.
Lembremo-nos de que o impulso automático
do braço que levanta a lâmina homicida pode ser perfeitamente igual, em
movimento, ao daquele que ergue um livro enobrecedor.
A atitude mental é que faz a diferença.
Nosso pensamento tem sede de elevação, a
fim de que a nossa existência se eleve.
Construamos em nós o equilíbrio e o
discernimento.
Rendamos culto incessante à bondade e à
compreensão.
Habitualmente contemplamos no espelho da
alma alheia a nossa própria imagem, e, por esse motivo, recolhemos dos outros o
reflexo de nós mesmos ou então aquela parte dos outros que se harmoniza com o
nosso modo de ser.
Não bastam à nossa felicidade aquisições
unilaterais de virtude ou valores incompletos.
Todos temos fome de plenitude.
O desejo é o imã da vida.
Desejando, sentimos, e, pelo sentimento,
nossa alma assimila o que procura e transmite o que recebe.
Aprendamos, pois, a querer o melhor,
para refletir o melhor em nossa ascensão para Deus. [16]
Silvia Helena Visnadi Pessenda
http://www.aluzdoespiritismo.com.br/
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ESPÍRITOS diversos; XAVIER, Francisco Cândido. Dicionário da alma. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1995. p. 16.
[2] ANDRÉ LUIZ (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Nos domínios da mediunidade. 27. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2000. Cap. 26. p. 249.
[3] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). Um modo de entender: uma nova forma de viver. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2004. Cap. 40.
[4] EMMANUEL (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Mediunidade e sintonia. São Paulo: Editora Centro Espírita União. Prefácio.
[5] ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Celeiro de bênçãos. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada, 1984. Cap. 50.
[6] ANDRÉ LUIZ (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Nos domínios da mediunidade. 27. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2000. Prefácio “Ondas, Ondas, Médiuns, Mentes...” p. 11.
[7] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 100. ed. Araras, SP: IDE, 1996.
[8] ______. O livro dos médiuns. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 36.ed. Araras, SP: IDE, 1995. Cap. 20. Item 228.
[9] ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Lições para a felicidade. 3. ed. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada. 2003. Cap. “Acasos felizes”. p. 75.
[10] NOVAES, Adenáuer M. F. de. Psicologia e mediunidade. 1. ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 2002. Cap. “Mediunidade e sintonia”.
[11] ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Luz viva. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada, 1985. Cap. “Questão de escolha”. p. 70.
[12] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 195. ed. Araras, SP: IDE, 1996. Cap. 6. Item 5.
[13] ANDRÉ LUIZ (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Nos domínios da mediunidade. 27. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2000. Cap. 1. p. 18.
[14] KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 195. ed. Araras, SP: IDE, 1996. Cap. 4. Itens 18 e 19.
[15] ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Celeiro de bênçãos. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada, 1984. Cap. 13.
[16] DIVERSOS ESPÍRITOS; XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Vozes do grande além. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1958. Cap. “A reflexão mental”.
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