Creio que todo processo, desde o menor nível potencial da matéria ao
derradeiro movimento do cosmo, tem consciência. Todos esses processos são
regidos pela Lei da Totalidade. Eles flutuam num mar de energia (talvez de
neutrinos) e estão cientes de que participam de uma atividade que mantém o todo
em seu nível de funcionamento.
Talvez a consciência seja o fenômeno mais negligenciado na ciência
moderna omissão tão séria quanto as tendências pessoais ou o ceticismo
profissional diante de novas abordagens.
No momento em que concentramos
nossa atenção ou nossa energia em alguma coisa, ela é afetada. Isso é tão
verdadeiro na pesquisa como em nossa vida cotidiana.
Se nos concentrarmos continuadamente nas dificuldade da vida, por
exemplo, investimos cada vez mais energia em sua continuidade. Isso por sua vez
reforça a crença de que a vida é difícil.
Nossa concentração e nosso
investimento de energia dependem de nosso estado de consciência (que nunca pode
ser de fato descrito, mas apenas experimentado diretamente).
No conceito de energia vital aqui apresentado, a consciência é o
aspecto qualitativo e direcional da energia. Sem consciência, nem mesmo
85 poderíamos pensar em energia; em todo processo energético a
consciência está presente.
Nas palavras do físico Jack Sarfatti: “Temos de descobrir que
consciência e energia são uma coisa só”21.
Charles Musès chamou a consciência de energia noética. Em suas raízes,
“consciência” (do latim, conscius) significa partilhar conhecimento. Portanto,
quando falamos de consciência estamos nos referindo a uma percepção da
informação: estar consciente é estar ciente do conhecimento.
Esse conhecimento, entretanto,
não se refere ao conteúdo ou à quantidade do que conhecemos, mas à qualidade
desse conhecimento. Se voltarmos à natureza essencial (physis) da energia,
consciência é o conhecimento da essência da vida ou movimento.
Através do movimento da energia vital, a consciência une a estrutura da
forma, a quantidade da força e o meio do processo no todo da vida.
Portanto, forma, força e meio são três aspectos da energia contidos no
padrão dinâmico da consciência.
Qualquer aspecto pode dominar durante certo tempo, mas todos permanecem
em proporção relativa entre si.
Este é o aspecto da energia da consciência que dita como, onde e de que
forma a energia deve ser empregada. Numa partilha elaborada do conhecimento,
sem necessidade de transferência de energia, todos os aspectos da energia
“sabem”, pelo seu senso de unidade, em que proporção devem existir.
E a isso que eu chamo de Lei da Totalidade. A Lei da Totalidade, como
eu a defino, estabelece que a reunião, a dissipação e a manutenção da
totalidade da energia são ditadas por uma consciência universal da forma, da
força ou do meio necessários num dado tempo ou lugar. Mas como esse
“conhecimento” é possível?
Algumas idéias têm sido sugeridas. Teilhard de Chardin acreditava que,
na evolução dos organismos desde a mais primitiva célula até os humanos, se
desenvolveu uma crescente complexidade, através da qual os seres humanos, a
mais complexa espécie da Terra, também desenvolveu uma maior habilidade em ser
consciente.
Tanto quanto sabemos, somos os únicos organismos cientes da própria
percepção. Outras formas da matéria (portanto, energia) têm percepção, mas não
são capazes de refletir sobre esse fato.
A hipótese de Teilhard de Chardin é complementada pela pesquisa do dr.
Sheldrake. Este afirmou que evoluímos por “radiação morfogênica”, e que saltos
de desenvolvimento em nossa evolução eram “conhecidos” por outros membros da
espécie.
Em apoio a essas teorias evolucionistas de partilha do conhecimento
(consciência) há a pesquisa feita em 1920 por McDougall e, mais recentemente, o
trabalho de F.A.E. Crew e de W.E. Agar, de Melbourne, que ampliou as
descobertas originais de McDougall.
O conjunto dessas pesquisas
indicou que a habilidade de sucessivas gerações de ratos treinados para fugir
de um labirinto aquático melhorou a cada nova geração. E o que seria de se
esperar caso o aprendizado fosse transmitido geneticamente.
No entanto, e este é um fato
muito interessante, os ratos do grupo de controle — não gerados por ratos
treinados — executaram a tarefa de modo muito melhor. Isso significa que,
embora o aprendizado se transmita geneticamente à geração seguinte, a
consciência é transmitida à espécie como um todo, apesar de não existirem
conexões biológicas ou treinamento.
De certa forma, os ratos do
grupo de controle receberam a informação sem direção, comunicação ou conexão
biológica.
Se futuras pesquisas confirmarem estas conclusões, isso virá dar apoio
ao conceito de que o veículo para se chegar à consciência é a sintonização de
todos os membros com o estado mais elevado de percepção da espécie.
Isso quer dizer que quando um de
nós amplia sua consciência, todos os demais entram em sintonia com ele, se
estiverem abertos para isso, e expandem simultaneamente sua consciência.
Portanto, quanto mais receptivos formos ao todo, mais informações
partilharemos com os demais e mais aprenderemos sobre a essência da vida
através dessa ampliação da consciência.
No processo de evolução, muitas civilizações chegaram ao apogeu ou à
queda conforme sua habilidade em manter um certo nível de consciência.
Culturas que desenvolveram certo
grau de conscientização, mas perderam a conexão essencial com esse estado,
começaram a decair, ao passo que as que se mantinham no apogeu estavam em
diferentes estágios de desenvolvimento da consciência*.
O fato de nenhuma das principais
civilizações ter se mantido no auge de sua evolução significa que como espécie,
ainda não aprendemos a viver permanentemente à altura do nosso potencial de
desenvolvimento.(1)
A física nos dá uma outra perspectiva quanto “à possibilidade de se
conhecer” o fenômeno da consciência.
Em 1803, Thomas Young realizou
uma experiência que mostrou que a luz funciona como uma onda** Ele demonstrou
que a luz que passa através de duas fendas e incide sobre uma tela não produz
duas listas de luz, porém faixas de luz ou escuridão, dependendo do fato de as
ondas se sobreporem ou se cancelarem mutuamente.
Se fizermos a mesma experiência
com uma única unidade de luz (fóton) e fecharmos uma das fendas, acontece algo
fascinante O fóton atravessa a fenda aberta e ocupa a área que estava às escura
quando ambas as fendas permaneciam abertas. Em outras palavras, fóton se
comporta de modo diferente conforme uma ou duas fendas estejam abertas.
Caso contrário, ele não ocuparia a área escura quando uma única fenda
estivesse aberta. (2)De algum modo, o fóton “sabe” que existem duas situações
diferentes e reage de acordo com elas.
Mas como um fóton pode saber disso? A teoria quântica afirma que o fato
de o fóton ir para uma ou outra posição é mero acaso. Essa teoria não pode
prever com certeza o caminho de um evento energético. Einstein não aceitou essa
teoria, comentando, “Deus não joga dados”.
Ele tentou justificar o rumo individual de um fóton postulando uma onda
matemática que no entanto não existia, denominada onda “fantasma”. No mundo da
física, uma explicação como essa em geral é considerada demasiado elaborada
para ser real.
Por outro lado, segundo a Lei da Totalidade, a luz pode reagir a uma
dada situação com uma ação mais apropriada — mais perfeita.
A onda “fantasma” de Einstein pode ser o espírito ou a essência do foton
que dirige o seu caminho. Isso implica.que os fótons possuam uma consciência
primitiva para que saibam se uma ou duas fendas estão abertas, podendo
responder com uma “ação perfeita”.
Ação perfeita, em termos de princípios de energia vital, significa uma percepção
da ação apropriada na situação. O fóton, bem como a ameba, sabe que ação deve
ser empreendida e a realiza. Portanto, mesmo nesse nível primitivo, parece
haver uma ação consciente baseada na percepção de totalidades e em seu inerente
senso de complementação.
Numa obra monumental intitulada The Reflexive Universe (O universo
reflexivo), Arthur Young deu substância às descobertas de sua pesquisa ao
provar que a matéria manifesta um tipo particular de consciência em cada nível
isolado de organização, das partículas fundamentais da física aos organismos
biológicos.
Da imprevisibilidade do fóton ao
homem racional, a consciência opera em níveis discretos de percepção, que
diferem apenas em complexidade ou no grau de autonomia.
E possível que a matéria mais
elementar funcione como um nível potencial para estados superiores de
consciência em espécies biologicamente mais evoluídas.
Essa consciência primitiva pode criar um efeito de “bloco de
construção”, não de conteúdo, mas de processo, em sistemas mais complexos de
energia e de forma.
Podemos experimentar estágios
mais elevados de evolução utilizando o conhecimento dos reinos inferiores para
ultrapassar nosso atual estado de consciência, o que nos permitiria ter mais
energia livre nas frequências mais elevadas.
Esse conhecimento possibilitaria
que um membro de uma espécie biológica “entrasse em sintonia” com as frequências
de desenvolvimento mais avançadas de sua espécie e proporcionaria o ímpeto para
a posterior evolução.
Gordon Globus, da Universidade da Califórnia, fundamentado nas
evidências da filosofia, da física e da medicina, argumenta que a atividade
consciente está presente em todos os níveis da escala da evolução animal,
inclusive no ponto mais baixo, como o dos metazoários.
Mesmo nesses estágios elementares, ele descobriu uma “atenção seletiva”
que é parte da consciência em níveis mais altos de desenvolvimento. Segundo
ele, a diferença entre matéria inorgânica e seres sencientes reside apenas na
quantidade de consciência.
Todas as formas de energia têm a
mesma percepção básica. E possível que nós, humanos, relutemos em aceitar que
tudo tem consciência, por nos considerarmos “especiais”. Globus pondera:
Embora possa parecer absurdo afirmar que todas as organizações são
conscientes, esse aparente absurdo pode refletir o chauvinismo humano sobre a
consciência.
Na física, o problema acerca da capacidade de “escolha” de um fóton
despertou a discussão sobre o tema da consciência. Segundo o físico E. H.
Walker, os fótons podem ser conscientes. Ele afirma:
o universo é “habitado” por um número quase ilimitado de entidades cuja
consciência é discreta, em geral entidades não pensantes que são responsáveis
pelo trabalho detalhado do universo24.
O dr. Tiller chamou essas unidades de consciência de perceptrons.
Poderiam essas unidades estar flutuando num mar de energia (neutrinos),
esperando a atividade apropriada para a continuação do estado de totalidade?
Se for assim, isso
significa que todos os fótons, bem como todos os quanta ou unidades de energia,
“sabem” em todos os tempos o que tem de ser feito, porque possuem um senso
inerente de totalidade.
Como parte desse todo organizado, eles meramente fornecem atividade
(energia) de modos adequados (como a quantidade ou a direção corretas), dependendo
das necessidades do momento, visando à manutenção do estado de totalidade.
A informação que eles possuem sobre qualquer situação não é
transferida, mas surge da percepção proveniente da consciência universal
inerente a todo processo energético.
Nem sequer é preciso admitir o conceito de escolha. Eles simplesmente
fazem o que tem de ser feito. Até as substâncias químicas sabem a que outras
substâncias podem se unir, e quais as que têm de evitar.
Na química, essa consciência
primitiva tem sido “cientificamente” atribuída às leis que regem as reações.
Entretanto, a essência de todas as leis da natureza é a autoconsistência de sua
organização. Ao descrever o símbolo chinês Li, princípio da organização, o
filósofo Needham diz:
Existe uma “lei”... à qual as partes do todo têm de se conformar pelo
fato de existirem como partes desse todo. O fato mais importante acerca dessas
partes é que elas têm de se ajustar perfeitamente com as outras partes do
organismo cujo todo elas compõem25.
A fim de que tudo no universo se harmonize com outros processos, é
necessário haver algum senso do que é o todo. Sem isso, nosso cosmo seria um
caos de acontecimentos ocasionais. As leis da natureza são meras aplicações
especiais da Lei da Totalidade. São processos da consciência que formam um
padrão entre elas mesmas.
Creio que todo processo, desde o menor nível potencial da matéria ao derradeiro
movimento do cosmo, tem consciência. Todos esses processos são regidos pela Lei
da Totalidade. Eles flutuam num mar de energia (talvez de neutrinos) e estão
cientes de que participam de uma atividade que mantém o todo em seu nível de
funcionamento.
Postado por dharmadhannya
Nenhum comentário:
Postar um comentário