A AVAREZA -Tipo 5 do Eneagrama
Não viverei em vão se puder salvar de partir-se um coração,
Se puder aliviar uma dor, sofrida, ou abrandar uma dor,
Ou ajudar exangue um passarinhoa subir de novo ao ninho –
Não viverei em vão.” Emily Dickinson
Parece ter concluído no começo de sua vida que o mundo não lhe dará o amor que anseia e decide arranjar-se sozinho, minimizando seus desejos.
Distancia- se
do mundo, que lhe pede mais do que lhe dá e o obstrui mais do que o ajuda - e
até certo ponto o apaga, e o esquece. Como o Siddharta de Elermann Hesse,
parece dizer-se: “Sei esperar, sei jejuar, sei pensar. ”
Quino caracterizou eloquentemente a autoprivação
resignada que representa a avareza no cartoon em que o vazio do ambiente
se faz metáfora de uma pobreza emocional.
Enquanto algumas paixões supõem um ir demasiado
intensamente até o outro, neste caso trata-se de um movimento de afastamento
dos demais. É correto o que assinalou Karen Horney: que a pessoa isolada não
pode mover- se até o outro em um gesto amoroso ou sedutor, nem tampouco
contra o outro; no conflito entre essas duas tendências - de amor e de
agressão - acaba retirando-se do campo de batalha.
Não é cálido nem fogoso, mas tíbio; porém chega a ser
uma paixão sua busca de isolamento e de solidão, seu desejo de não ser
interferido, exigido. O que os outros buscam fora, ele busca dentro, ou mais
além do mundo interpessoal - no simbólico, no abstrato ou no transcendente.
Não se trata somente de um caráter próximo ao medo,
mas de uma forma deste: um medo de ficar vazio, de não ter, D de não ser amado,
aceito, acolhido, de não poder. Apresenta uma posição de impotência e
passividade diante da vida, ou muitas vezes uma agressividade que afasta as
pessoas.
Também tem uma relação de vizinhança com a inveja, e
pode-se dizer que compartilha com este caráter o sentimento carencial; porém se
trata de uma inveja paralisada pelo medo, por um sentimento de inferioridade
que em vez de aproximar-se do outro a partir do desejo, renuncia ao que sente
inalcançável.
Muito se falou na psicanálise acerca de como essas pessoas
se desconectam de sua necessidade do
outro pela fantasia de que sua magnitude seria inaceitável, incompatível com a
vida, que sua voracidade e dependência as levariam a “destruir” o outro;
igualmente presente está o temor de ser destruído:
sua própria
necessidade colocaria estas pessoas em situação de que o outro as utilizasse,
o que não deixa de ser verdadeiro: quando entram em relação de dependência se
superadaptam ao outro de tal modo que esquecem suas necessidades e precisam re-
conectar-se com seu mundo interno em solidão.
Ao pensar que desejar é demasiado, surge a
resignação. Faz parte deste caráter dizer-se: Vale a pena fazer o esforço? Vale
a pena insistir? Existe uma perda de intensidade acoplada a uma desesperança. A
resignação leva à apatia. E este “Vale a pena?”
Está ligado à sua visão de mundo. Parece-lhe que não
vai encontrar nada profundamente satisfatório. Antecipa o ser decepcionado como
o foi quando pequeno. Sua criança interior criou
mecanismos de sobrevivência, para se alimentar na carência do amor, guardar o
que tem para si, é uma maneira de se abastecer... a cura para a avareza é a compaixão, o desapego e compreender que não podemos viver só para a nossa felicidade e quando nos preocupamos e cuidamos do outro estamos nos curando e tecendo a nossa felicidade compartilhada.
Pode-se afirmar que se estabelece um círculo vicioso
em que a mesma proibição da avareza lhe presta uma intensidade que, por sua
vez, redunda em sua negação. O tabu da cobiça engendra cobiça que, por sua vez
estimula a proibição de querer algo para si.
O resultado é
um egoísmo culpado que não pede nada nem aceita que lhe deem o que secretamente
deseja. Algo semelhante ocorre com o desejo de privacidade: complica-se com a
culpabilização e, o resultado é que , para ocultar-se do outro, a pessoa acaba
por ter que esquecer o próprio segredo.
À parte a resistência em dar, é próprio da
“retentividade” deste caráter o não se dar, que se manifesta em estar só
em meio ao que se está, ou em participar das coisas perguntando-se se não
seria melhor reservar-se para outras. Reter para a
“guerra” da vida, pode faltar e não ter a quem recorrer, guardar para se
alimentar...Pode também começar a guardar o excesso para tempos de “guerra” sua
casa, vira um depósito de lixo...
Igualmente resiste a expressar-se, particularmente no
que se refere à comunicação de emoções. São difíceis os compromissos, como um
resultado de um desejo de economizar-se para uma possível melhor inversão das
próprias energias. Como resultado, o avaro é um simples observador da vida, sem
apenas vivê-la e desperdiçando tanto oportunidades como talentos.
O mecanismo de defesa característico deste caráter é
aquele que Freud designou como “isolamento” para significar a separação de
alguns conteúdos mentais de outros, assim como a compartimentação ou separação
de ideias e sentimentos. O resultado é uma boa capacidade analítica e uma
dificuldade em ver o aspecto global das situações e seus significados.
Definindo tacanharia[1]
como “uma ausência de generosidade no que se refere ao gasto”, Teofrasto
retrata o homem tacanho da seguinte maneira:
“Quando durante uma assembleia pede-se doações
voluntárias para o Estado, levanta-se silenciosamente e desaparece da
assembleia (...) na festa em honra às Musas, afim de não ter que fazer nenhum
desembolso, impede que seus filhos vão ao colégio com o pretexto de que estão
enfermos (...) Leva ele mesmo para casa a carne que compra no mercado e os
legumes na dobra de sua roupa. Permanece em casa quando manda lavar seu manto.”
Esta imagem da mais estrita economia é um pouco mais
complexa que a ideia que se poderia considerar a priori, pois nos sugere que
esta mesquinhez não só indica o desejo de não gastar e o sacrifício dos
desejos pessoais em prol da avareza, mas também uma negação das necessidades e
dos desejos dos outros.
Em virtude
desta associação, a palavra “tacanharia” não só fala de economia, mas também
especificamente de uma ausência de generosidade para o gasto, tal como define
Teofrasto.
Como distinção da tacanharia, Teofrasto fala da avareza
como “o afã de perseguir uma ganância sórdida[2]”
e nos dá um retrato caracterológico em que, junto a estes traços tacanhos,
encontra-se o aspecto cobiçoso deste tipo (que, em suma, aparece como
desinteresse e resignação):
“A pessoa tomada por este defeito é capaz de, em um
banquete organizado por ela, não servir pão em quantidade adequada e pedir
pagamento ao hóspede que acolheu em sua casa (...) Se vende vinho, ainda que a
um amigo, mistura-o com água. Leva seus filhos ao teatro no dia em que a
entrada é franca (...)
Faz seu criado carregar excesso de peso e ainda lhe dá
menos comida do que o restante dos amos (...) Se considera que um de seus amigos
comprou algo barato, compra-o e torna a vendê-lo para tirar benefício. ”
Entre os personagens da Comedia dei Arte, talvez o que
mais evoque este caráter seja um que parece caminhar sem que seus pés toquem o
solo: Stenterello. Os rapazes na rua zombam de seu ensimesmamento, de suas
roupas e de seu aspecto sonâmbulo. Estranhas palavras e símbolos cobrem sua
jaqueta como sinal de seu interesse pela magia e os conhecimentos misteriosos.
Seu nome alude à pobreza - o que acompanha sua falta de mundanidade.
Uma historieta de Pfeifer ilumina a forma em que a
ocultação do desejo que alimenta a passividade. Mostra um sujeito que explica:
“Vivo em uma concha, que está dentro de uma parede, que está dentro de uma
fortaleza, que está dentro de um túnel, embaixo do mar. Aqui estou seguro e
tranquilo.
A salvo de ti. Tranquilo de que não me irás perturbar." Vê-se
uma mulher que passa em um bote remando por cima de tudo isto, enquanto ele
continua: “Se verdadeiramente me quisesses, me encontrarias."
Este texto é resultado de uma pesquisa, inspirado em vários autores, é uma compilação.
Agradeço se ao compartilhar cita a fonte do link.
Postado por dharmadhannya
Muito bom! Obrigada por compartilhar tanta sabedoria! Abraços!
ResponderExcluirMuito grata, fico muito feliz com a sua companhia. que bom que gostou dharmadhannya
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